junho 14, 2009

Crónica Semanal do Ricardo Araújo Pereira

Edição 14/06/2009 A Bola

Infelizmente, Não creio em Jesus...

Gostava muito, mas não creio. Muita gente me diz que ele pode ser o meu salvador, dar o sentido que tem faltado à minha vida, a alegria que eu não tenho tido e de que tanto necessito — mas eu não tenho fé nele. Falam-me dos seus milagres, o que fez na Amora, em Felgueiras, na Amadora, em Belém, em Setúbal e em Braga, mas boa parte deles não me parecem assim tão milagrosos. Concedo que o da Amora e o de Felgueiras impressionam, mas em Braga toda a gente faz milagres. As equipas que têm o beneplácito do Papa são mais dadas a prodígios do que as outras. Se ele ao menos me desse um sinal… A verdade é que tenho muita vontade de acreditar, mas até agora não consegui. Espero que o erro seja meu.
Só uma vez em toda a minha vida fiz sacrifício para votar. Geralmente, o processo eleitoral não me causa transtorno: vou à cabine, faço a cruzinha, dobro o papel e meto-o na urna. Nem duas calorias queimo com isto. Mas naquele dia fui para o fim de uma fila que começava no fim da segunda circular, junto da agência Lusa, e só três horas depois me encontrei com o boletim de voto. Foi para votar em Manuel Vilarinho. Não me arrependo: juntamente com Luís Filipe Vieira, Vilarinho salvou o clube que Vale e Azevedo tinha destinado à ruína. Nunca lhe agradeci, e devia. Não sou ingrato. Mas confesso que me custa ver Manuel Vilarinho dizer que o título de basquetebol não lhe diz nada. Vários profissionais do clube do qual ele foi presidente trabalharam (brilhantemente, aliás) para ganhar um título que fugia ao Benfica há 14 anos. Sei que Vilarinho está convencido de que, juntamente com mais 10 ou 20, é dos poucos benfiquistas verdadeiros. Talvez eu esteja entre os outros cinco milhões, novecentos e noventa e nove mil, novecentos e noventa ou oitenta, mas ser campeão diz-me sempre qualquer coisa.
Também compreendo que Manuel Vilarinho prefira, como disse, trabalhar com sportinguistas e portistas porque os benfiquistas se queixam muito. Acredito que seja verdade, mas devo dizer que acho natural: nunca vi um sportinguista ou um portista a queixar-se porque o Benfica não ganha. Se eu trabalhasse no Sporting ou no Porto, eles ficassem sistematicamente em terceiro e me pagassem por cima, eu também não me queixava. Garanto que até batia palmas.
Dito isto, e acrescentando que a antecipação súbita das eleições me parece menos destinada a preparar a época com calma do que a impedir o aparecimento de candidaturas credíveis e estruturadas, devo dizer que não me sinto tentado a votar em candidatos que acusem a actual direcção de «total incompetência». Se quem recupera o clube que Vale e Azevedo deixou e constrói um estádio, um centro de estágio, vence um campeonato, uma taça, uma Supertaça, uma Taça da Liga e reformula as modalidades e a formação é «totalmente in-competente», que qualificativo sobra para quem não faz nada nem ganha nada? Confesso que me custa votar em candidatos que têm menos anos de sócio que a minha filha mais velha, que vai fazer seis anos em Agosto. Custa-me votar em listas a quem não repugna que um ex-presidente da casa do Porto do Luxemburgo seja presidente. Uma coisa é valorizar o trabalho que José Veiga fez como director desportivo, outra é conceber que possa ser presidente. Não há por aí um benfiquista que nunca tenha sido de outro clube, que tenha mais anos de sócio do que eu e que valorize os títulos todos, mesmo os das modalidades amadoras? Se houver que se acuse, que tem o meu voto. Será ele a dar-me a Águia de Prata, para o ano, e eu quero recebê-la das mãos de um benfiquista a sério. Julgo que é o mínimo que posso pedir.

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