outubro 31, 2010

Aqui á Gato _ Miguel Góis



A greve
 
Uma acção de protesto levada a cabo pelos árbitros portugueses pode colocar em risco a deslocação do Benfica à Faixa da Gaza, no próximo fim-de-semana. De acordo com os seus representantes, os árbitros colocam a hipótese de não apitar o FC Porto -Benfica da próxima jornada, o que não se pode dizer que constitua uma grande ameaça. Se atentarmos nos lances que esta época se têm passado dentro da grande área do FC Porto, já é isso que os árbitros fazem: não apitam. Ou seja, a verdadeira ameaça dos árbitros é não apitarem os lances do FC Porto – Benfica que acontecerem nos restantes dois terços do terreno de jogo. Trata-se, portanto, de uma greve relativa
Entretanto, o “Correio da Manhã” noticiou que uma das alternativas que estariam em cima da mesa seria a contratação de um árbitro espanhol para apitar o clássico do golfe português. Devo dizer que se trata de um opção que não me tranquiliza minimamente. Temo que isso fornecesse um pretexto para que houvesse ainda mais portugueses a queixarem-se da fruta espanhola.

Ainda assim, esta ameaça de greve serviu para nos inteirarmos um pouco mais sobre os regimes fiscais e de segurança social que abrangem os árbitros. É curioso que estejamos, desde os anos 80, a falar publicamente sobre o que recebem os árbitros, e esta seja a primeira vez que estamos a falar especificamente dos seus ordenados. Posso dizer que outra surpresa foi a categoria fiscal em que estão inseridos: julgo que só quem não tem assistido às arbitragens dos últimos jogos do Benfica e do FC Porto é que pode dizer que os árbitros portugueses são trabalhadores independentes. Confesso que, não sei bem porquê, sempre deduzi que fossem trabalhadores por contra de outrem.
 
In Record
 

outubro 30, 2010

Crónica Semanal do Ricardo Araújo Pereira


Depois do treinador de bancada, o árbitro de bancada: uma evolução natural



Confesso que tenho dificuldade em compreender os receios que rodeiam a hipotética greve dos árbitros na semana do Porto – Benfica. Não sei se ainda mantém em rigor a velha regra segundo a qual, na ausência do árbitro, deve ser recrutado um espectador na bancada para arbitrar a partida. S assim fosse, o mais provável seria que o árbitro do jogo acabasse por ser um adepto do Porto. Sinceramente, creio que ninguém daria pela diferença. Seria um Porto – Benfica perfeitamente normal. Já aqui recordei a noite histórica em que o Sr. Donato Ramos, depois de ter permitido que o Vítor Baía defendesse com as mãos fora da área, anulou um autogolo do Porto por fora-de-jogo posicional de um jogador do Benfica. Hoje, lembro o saudoso árbitro Carlos Calheiros (que é também o eminente turista José Amorim), que um dia assinalou um penalty contra o Benfica por uma razão que permanece misteriosa até agora. Na primeira repetição, José Nicolau de Melo descortinou (e José Nicolau de Melo descortinava como ninguém) uma falta de Mozer. Na segunda repetição, julgo que aventou uma mão de Hélder. E, na terceira repetição, concluiu que não existia falta nenhuma das infracções anteriores nem qualquer outra, mas optou por dar o benefício da dúvida ao árbitro. Gente maldosa comentou que o benefício da dúvida tinha sido o menor dos benefícios que o árbitro tinha recebido nessa noite. Acredito mesmo que qualquer adepto do Porto faria um trabalho mais isento.
Quanto à greve, não sei se tem razão de ser, mas não percebo a forma do protesto. Quando os trabalhadores da TAP fazem greve, não comparecem na TAP, que é a morada do patrão. Quando os funcionários da EDP fazem greve, abstêm-se de comparecer na EDP, que é a morada do patrão. Quando os árbitros fazem greve, ameaçam não comparecer no estádio do Dragão? Que esquisito.
Todos estes meses depois, o túnel da Luz continua a afastar o inigualável Givanildo da convocatória da selecção brasileira. Há, perversa infra-estrutura! Perversa e sectária, que o David Luiz passa lá todas as semanas e continua a ser convocado.

“ (…) é assustador verificar a frequência com que, graças a uma redacção voluntariamente ambígua da lei, são anuladas em julgamento as escutas telefónicas.”
MIGUEL SOUSA TAVARES
Expresso, 11 de Junho de 2007

“ Durante quatro semanas a fio, o jornal «Sol» levou a cabo, tranquilamente, a divulgação de escutas telefónicas recolhidas num processo em segredo de justiça e abrangendo até alguma gente que, tanto quanto sabemos, não é suspeita de qualquer crime. (…) E todos nós, mesmo os discordantes, fomos obrigados a ler as escutas e concluir a partir dos factos e indícios nelas contidos, sob pena de sermos excluídos da discussão pública”.
MIGUEL SOUSA TAVARES
Expresso, 25 de Março de 2010

Artigo de Opinião _ Sílvio Cervan




Crónica de um jogo à distância
Esta é a crónica de como se sofre mais com a distância e com a impossibilidade de se ver um jogo. Na longínqua Jordânia, entre os Nabateus e o monte Nébo, entre Jerash e o Rio Jordão, o meu Portimonense - Benfica foi salvo pelos SMS de amigos a bom ritmo. É pavoroso. Deixi-vos a crónica de um jogo à distância:

1-      «Começou, o Sporting ganhou quase no fim e nós estamos a dominar.»

2-      «Já perdemos duas oportunidades.»
3-      «Maxi e Martins com quatro amarelos, em risco para o Dragão.»
4-      «0-0 ao intervalo. Jogo mediano mas só existe Benfica.»
5-      «Goooloooo - Javi aos 49 minutos.»
6-      «20 minutos para o fim, isto nunca mais acaba.»
7-      «Kardec isolado, defesa e dpois Jara manda para a bancada. Podíamos ter matado o jogo.»
8-      «Acabou. Ganhámos. Eles nunca criaram perigo, mas há sempre um primo do Holegário.»

Leram uma amostra de como pessoas responsáveis e respeitáveis me deixam perto de um ataque de nervos durante duas horas. Custa muito mais quando se está longe, o resultado final dos 90 minutos foi Benfica, 1 - SMS, 38. Larga vitória festejada com um Bordeaux.
No dia seguinte mal refeito das emoções, fui informado que o sorteio da Taça nos ditara o Sporting de Braga. Pouca sorte? Espero que sim, para o Braga.
Hoje contra o Paços de Ferreira jogamos muito do interesse que pode ter a deslocação ao Dragão. Na terça contra o Lyon, redefinimos os objectivos europeus.
Um simpático pintor jordano ex-jogador da I divisão turca, hoje a trabalhar numa galeria de pintura, dizia-me que Rui Costa, contra o qual jogou, foi um dos três melhores jogadores do Mundo. Eu concordei. Adoro excessos. E comprei um quadro…

In ABola

Obrigado amigo Benfica 73 

outubro 29, 2010

Época 2010/2011 SLBenfica _ Paços Ferreira


Benfica derrota Paços e soma quinta vitória seguida

O Benfica garantiu, esta sexta-feira, o quinto triunfo consecutivo na Liga. Os “encarnados” derrotaram, na Luz, o Paços de Ferreira, em jogo da nona jornada da Liga.

Clique aqui para consultar a ficha de jogo, as incidências da partida, os comentários, as estatísticas individuais e as estatísticas de equipa.

Aimar e Kardec apontaram os dois golos que deram os três pontos à formação orientada por Jorge Jesus.

O argentino driblou vários jogadores do Paços até chegar à entrada da área, onde disparou para o fundo das redes de Cássio, quando ainda nem tinham passado 15 minutos de jogo.

Já o avançado brasileiro converteu, ao minuto 65, com sucesso uma grande penalidade, que castigou falta de Cohene sobre Fábio Coentrão na área dos “castores”.

Baiano ainda foi expulso ao minuto 83. O lateral do Paços viu o segundo amarelo e respectivo vermelho após falta sobre Fábio Coentrão.  


outubro 28, 2010

Crónica Semanal de Leonor Pinhão

Animais, uns mais do que outros
MORREU de cansaço o polvo Paul que, sem saber ler nem escrever, se tornou numa das celebridades maiores do último campeonato do mundo de futebol.
O polvo Paul acertou sempre no engodo que lhe deram a escolher em forma de substância alimentar e previu todos os resultados da selecção alemã na África do Sul bem como o resultado da final disputada entre a Holanda e a Espanha.
Não foi coisa pouca, ainda para mais debaixo de água.
O futebol mundial perdeu, assim, o seu oráculo mais tentacular. Em Portugal, felizmente, ainda temos o professor Karamba e outros professores adivinhadores, mas foi com lástima que vimos partir Paul, o único que nos poderia garantir, com razoável antecedência, quantos dos quatro jogadores quatro vezes amarelados do Benfica resistirão amanhã, frente ao Paços de Ferreira, ao quinto cartão amarelo e à consequente exclusão do jogo com o FC Porto na jornada seguinte.

Águia, alegadamente prima da águia Vitória, que o Benfica cedeu em regime de franchising à Lazio, recusou-se a voar no domingo passado no Olímpico de Roma, escapou-se para a cobertura do estádio e foi dali que assistiu à vitória dos donos da casa sobre o Cagliari e ao consequente reforço da posição da Lazio como comandante isolada do campeonato italiano de futebol.
Sem querer cair no domínio da especulação fácil, é de desconfiar que a águia que está em Roma não só não é prima da águia Vitória como é a própria águia Vitória que terá sido raptada ou que, numa confusão de identidades, se vê agora muito contrariada em Roma, longe da Luz e do Benfica que é o seu clube desde o ninho em que nasceu.
Teríamos assim, de uma assentada, a explicação para o excelente início de campeonato da Lazio, abençoada pela águia original, e para o menos excelente arranque de um Benfica confundido sob as asas de uma falsificação grosseira de pássaro.
O que também, por si só, justifica a desvalorização completa do incidente registado entre dois stewards de serviço, o tratador Barnabé e a falsa águia Vitória no decorrer do intervalo do jogo com o Arouca, para a Taça de Portugal.
Ah, se aquilo fosse com a original outro galo cantaria.

DEIXEMOS agora em paz os animais. Vamos falar de árbitros. Michel Platini mostrou-se no início desta semana totalmente contrário à introdução de tecnologias no futebol que possam corrigir e desautorizar os julgamentos dos juízes de campo. Para o presidente da UEFA, um futebol sem erros de arbitragem arriscava-se a descer aos patamares de emoção virtual da PlayStation que mesmo assim, sem erros dos árbitros, é o jogo de computador mais vendido em todo o mundo.
No entanto, se os inventores da PlayStation tivessem a ousadia de introduzir no mercado um jogo com erros de árbitros, com roubos de igreja, com fruta, café com leite e viagens ao Brasil, certamente não só venderiam menos o seu produto como até contribuiriam de forma exponencial para o aumento de venda de televisões tantos seriam os aparelhos partidos, esmigalhados, incendiados, pela justa revolta dos jovens e dos menos jovens consumidores do jogo electrónico.

De Águia ao peito _ Luís Seara Cardoso


Jogos que valem 6 pontos

Como foi o triunfo do Benfica frente ao Portimonense? Curto no resultado, extenso na exibição. Tratou-se de uma afirmação categórica de superioridade que deixou entender muitas das coisas boas que assinalaram a trajetória vitoriosa da temporada passada.
Há um Benfica em crescendo? Penso que sim. Apesar da recente derrota na Liga dos Campeões, num jogo demasiado marcado pela inferioridade numérica do conjunto encarnado, parece adquirido que a equipa se aproxima dos melhores índices de rendimento.

Os três próximos jogos vão dar uma resposta cabal. A receção ao Paços de Ferreira tem de se traduzir por mais um triunfo. Depois, Lyon e FC Porto, na Luz e no Dragão, podem ser determinantes para o resto da época. Vencer a turma francesa é condição indispensável para prosseguir na Champions, objetivo que ainda não está hipotecado, apesar de a margem de erro ser inexistente. E na Liga nacional? Uma derrota com o FC Porto, na atual conjuntura, seria certamente fatal para a prossecução dos objetivos. Estes são, de facto, dois jogos que valem seis pontos cada.
Que Benfica nos próximos embates? O melhor Benfica tem todas as condições para vencer a etapa decisiva. Mas só o melhor Benfica, sempre o melhor Benfica. É nesse Benfica que os adeptos acreditam para prosseguir a campanha europeia, para relançar o campeonato. É desse Benfica que os adeptos precisam para reforçar a confiança, para fortalecer o entusiasmo.

Éesse Benfica, o melhor Benfica, que Jorge Jesus terá de garantir. Fá-lo-á? Não encontro razões para duvidar. Antes, encontro boas razões para acreditar.

In Record

Tempo Útil _ João Gobern


Novembro de risco

Pouco ou nada adianta, passadas todas estas semanas sobre o início das competições, continuar a chorar a perda de Di María e de Ramires. De pouco vale o regozijo pela “ressurreição” de Roberto, que voou em linha direta de carrasco a herói. E já pouco dizem, a adversários como a adeptos, algumas bravatas extemporâneas do treinador do Benfica que, na presente época, parece ter o condão de encher o peito antes das partidas em que a equipa parece um imenso vazio (FC Porto na Supertaça, Schalke e Lyon na Liga dos Campeões). Sejamos honestos: por razões de estrutura ou de elenco, de conjuntura ou de atitude – cada um escolherá as suas favoritas, por mim não me custa juntá-las todas –, este Benfica ainda não trouxe de volta o espetáculo nem a eficácia com que brindou todos os espectadores na última temporada.

É verdade que foi muito afetado por uma inexplicável “falsa partida” (derrotas com a Académica, o Nacional, o Vitória de Guimarães), depois de uma pré-época quase em pleno. Mas quando se fala de recuperação, é preciso saber ver: dos quatro triunfos consecutivos nas últimas rondas, as três vitórias mais recentes foram obtidas pela margem mínima. E, pelo meio, sem que nada o fizesse prever, o duplo deslize na Champions passou, de forma sólida, a imagem de uma equipa com oscilações de humor, com atletas decisivos à procura de sacudir o marasmo, com uma margem de erro que Jesus parecia ter erradicado há um ano. Convoco, mais uma vez, os números: o FC Porto de Villas-Boas (que só os mais desatentos ou facciosos podem teimar em não levar a sério e que já junta os aplausos aos resultados) tem tantos pontos de diferença para o segundo como os que se registam entre este e o… décimo segundo classificado.
Quer isto dizer que, em novembro e em três provas distintas, o Benfica não tem margem de erro. Na Liga dos Campeões, ao receber o Lyon e ao deslocar-se a Israel, só interessam dois triunfos. Tudo o resto será comprometedor para quem se assumiu “aspirante” na prova milionária. Na Taça de Portugal, idem, por ser a eliminar e porque o adversário se chama Braga. Na Liga, porque uma derrota no Dragão é – admita-se – sinónimo da entrega do título, a seis meses do final do campeonato. Ou alguém acredita que, embalado e com dez pontos de avanço, este FC Porto vai desatar a tropeçar daí em diante?

É fácil perceber que o Benfica precisa de estabilidade, dispensando guerrilhas (sem prejuízo dos princípios), e necessita de aparecer (e comparecer) com mais alma e mais calma. As grandes batalhas estão aí à porta e não vão dar segundas oportunidades. Sobretudo a uma máquina com a dimensão do Benfica, com contas e receitas, que não pode gastar meio ano a ver passar os navios.

In Record

outubro 27, 2010

Email Aberto _ Domingos Amaral


Tontarias

From: Domingos Amaral
To: Jorge Jesus 

Caro Jorge Jesus
No ano passado, chegaste à Luz a prometer que a equipa ia “jogar o dobro” e “ser campeã” e cumpriste o prometido. Cada frase tua era certeira, fosse a prever jogos, fosse a prever golos; e o teu discurso ambicioso comprovava-se com a realidade que a equipa produzia. O Benfica jogava muito e tu falavas bem. Porém, mal foste campeão, um estranho vírus começou a atacar-te as palavras. Primeiro, foi o já célebre “vou ter de ganhar a Liga dos Campeões, dê por onde der”, um deslize quixotesco, já com alguma perda de realidade associada. Depois, num encontro de treinadores na Suíça, disseste que eras um “catedrático” do futebol, um delírio do ego, pois só tens três títulos no currículo, o que é manifestamente pouco. A seguir, nova atoarda, dizendo que a época passada “Benfica e Barcelona foram as duas grandes equipas da Europa”. Apetece perguntar: importa-se de repetir? É que eu lembro-me de ter sido humilhado em Liverpool por 4-1, e quem ganhou a Liga Europa foi o Atlético, de Quique Flores, esse mesmo. 

Mas, ao que parece, o vírus instalou-se para ficar. Esta semana, mais duas argoladas, ao dizeres que “poucas equipas no Mundo jogam como nós” e “é normal o Benfica ganhar em França”. Depois do jogo penoso contra o Lyon, tornou-se evidente que mais valia teres ficado caladinho.
A sensação que dá é a de que na Luz toda a gente apanhou uma bebedeira coletiva, e ainda estão todos com os copos, ou a ressacar. Além dos disparates da direção (boicote aos jogos fora, etc.), agora temos também um treinador sem humildade, a quem o sucesso subiu à cabeça depressa de mais. Na Luz desapareceu a alegria, e apareceu a tontaria.

In Record

outubro 26, 2010

O Voo da Águia_ Marta Rebelo



Portimonense outra vez
O Benfica já não enfrentava o Portimonense há muitos anos. Para mim, o clube algarvio será sempre o ponto de partida de Pacheco, que serviu o Glorioso durante muitos e bons anos, antes da traição maior de abandonar a Luz para Alvalade. Levou consigo Paulo Sousa, “menino dos olhos” dos benfiquistas, corria o “Verão quente de 1993”. Antes disso, quando o Portimonense se mantinha, com cadência, na liga maior do futebol português, foi sempre uma equipa que fazia frente ao adversário. Passaram 21 temporadas desde que o Benfica foi à casa (emprestada) dos de Portimão, vencendo por 2-3. Foi na época 1989/1990, que não correu de feição a nenhum dos clubes: nós perdemos o campeonato para o FC Porto; o Portimonense desceu de divisão, e regressou apenas esta época.

Esperamos que o “ano lectivo” 2010/2011 ofereça às duas equipas outro destino. Para já, o clube das águias recuperou fôlego nacional, simultaneamente fazendo má figura internacional. Jorge Jesus dizia, iniciava-se a época, que queria fazer história na Champions. Por ora, uma história desgraçada. Que equipa foi aquela que perdeu frente ao Lyon? E antes frente ao Schalke 04? Outra, distinta da que venceu o Braga e o Sporting. E o Portimonense. Sem Fábio Coentrão e Cardozo, ficamos com Peixoto – esta miséria de jogador, mesmo quando resolver estar endiabrado – e Kardec, nas vezes do Tacuara. E deu muito Benfica, mas só aos 49’ Javi Garcia fez o gosto à cabeça e colocou os encarnados à frente do marcador, num golo que se revelou solitário. Num estádio de vermelho e branco, casa cheia de benfiquistas que não quiseram deixar passar a oportunidade de chamar pelos seus jogadores em visita ao Algarve. Mesmo contra os pedidos da direcção...


In Record

outubro 25, 2010

Aqui á Gato _ Miguel Góis


Estrias de Jesus

Não tem sido um começo de época fácil para Jorge Jesus. Por exemplo, desde Agosto até à presente data, o técnico do Benfica tem sido severamente criticado por ter contratado o Roberto, e largamente elogiado por ter contratado o Roberto.

Ao mesmo tempo, alguns analistas acusam-no de não estar a conseguir encontrar um discurso adequado às actuais circunstâncias da equipa – esta época, Jorge Jesus continua a falar como o Jorge Jesus, mas obtém resultados como o Quique Flores. Na verdade, é perfeitamente compreensível. É possível que, depois da época que o Benfica fez no ano passado, Jorge Jesus se tenha esquecido por completo do que se diz quando não se ganha um jogo. Porventura, ser-lhe-á mais fácil levar a cabo uma profunda revolução técnico-táctica na equipa, de forma a começar a golear de novo sem dó nem piedade os adversários, do que passar a aparecer mais submisso nas conferências de imprensa.

Pessoalmente, sinto-me muito desconfortável a avaliar as decisões de Jorge Jesus. Sei, teoricamente, que é impossível ele tomar sempre a melhor opção. Mas tenho quase tanta confiança em Jorge Jesus como ele tem em si próprio (ou seja, o máximo que se pode ter).

Dito isto, dizer que Jorge Jesus de vez em quando toma uma má decisão é como dizer que a Giselle Bündchen tem estrias. É possível que sim. Mas são estrias com mais sex appeal que certos seios e nádegas; são estrias que mulheres sem estrias invejam; são estrias tão sensuais, que têm a forma de um cinto de ligas.



In Record

Crónica Semanal do Ricardo Araújo Pereira




E isso me envaidece
 
Estive ontem mais de duas horas a conversar com um adepto do Benfica. Chama-se Lobo Antunes e é, além de benfiquista, um grande escritor. Um dos maiores do mundo. Sempre que lhe dão um prémio literário, e já lhos deram quase todos, fica mais prestigiado o prémio do que ele. Tem diplomas, medalhas, vários quadros de grandes pintores que quiseram pintar-lhe o retrato. Creio, por isso, que os leitores não serão capazes de lhe censurar a vaidade se disser que, em casa dele, na parede do quarto, está, emoldurada, a sua ficha de inscrição como sócio do Sport Lisboa e Benfica. Cada um tem as suas honrarias, e a vontade de exibir as maiores apenas humana.
 
«É extraordinário», disse ele a olhar para a moldura, «como um clube fundado por órfãos da Casa Pia – ao contrário do Sporting, fundado por um Visconde, e do Porto, fundado por banqueiros – consegue…» E, entretanto, faltaram-lhe as palavras. «É extraordinário», limitou-se a repetir. Confesso que fiquei desapontado. Afinal, um grande escritor não fazia milagres: quando alguma coisa era do domínio do indizível, não havia vocabulário, nem talento, nem nada que lhe valesse. Mas, nesse mesmo segundo, Lobo Antunes desmentiu-me. Encontrou as palavras que lhe faltavam, e começou a recitá-las: «Domiciano Barrocal Gomes Cavém. José Pinto de Carvalho Santos Águas. Mário Esteves Coluna. Alberto da Costa Pereira. José Augusto Pinto de Almeida. Ângelo Gaspar Martins. António José Simões da Costa.» Assim mesmo, com os nomes completos e sem hesitações. Mais adiante, nessa mesma tarde, António Lobo Antunes haveria de declamar um poema de Dylan Thomas. Mas não voltou a ser tão poético como naquele momento, à frente de uma ficha amarelecida por mais de 60 anos.

Antes de nos despedirmos, ainda registámos uma coincidência. No dia 23 de Maio de 1990, eu tinha 16 anos e estava a chorar em minha casa; António Lobo Antunes tinha 47 e estava a chorar na dele. Claro, Lobo Antunes é um génio, e eu sou apenas, e só quando consigo, eu. Mas, ao menos naqueles minutos que sucederam à final da Taça dos Campeões (duas ou três horas, no meu caso), a minha sensibilidade foi igual à dele. Não é a primeira vez que o Benfica faz de mim uma pessoa melhor, mas nunca deixa de ser surpreendente.
Feito este curto mas importante parêntesis, para a semana voltarei a dedicar-me às grotescas incongruências de Rui Moreira e Miguel Sousa Tavares, que é para isso que cá estou.
 

outubro 22, 2010

Artigo de Opinião _ Sílvio Cervan


As contas estão bem mais fáceis
O Benfica tem agora as contas da Liga dos Campeões bem mais fáceis: ou ganha os três jogos ou estará fora dos oitavos de final. Assim a matemática fica mais simples. Sem estes resultados e caso não perca o jogo de Telavive, estaria certo o cenário na Liga Europa, ou seja a Europa está aí, falta saber onde. Perdemos com o Lyon porque os franceses foram melhores, não valerá fugir a essa realidade, e no caso de conseguirmos passar aos oitavos de final sempre será de esperar um adversário com valia em excesso para qualquer equipa do nosso futebol. Por vezes há surpresas e nós regozijamos, mas convém saber que são surpresas.
O Benfica que pode e deve aspirar hoje a ser a melhor equipa do futebol português, não é das melhores equipas do futebol europeu, embora deva fazer o caminho sustentado de lá se aproximar. A realidade só pode incomodar quem a não vê, ou aqueles que noutras paragens insistem em viver na ficção. Por mim espero do Benfica uma serena e gradual melhoria, como tem acontecido nos últimos anos.
Novembro só será determinante para o futuro do Benfica, se ganharmos os dois jogos em falta de Outubro (Portimonense e Paços de Ferreira).
Segunda-feira passada no almoço com o embaixador do Chile, o camarote da Luz estava decorado com o número 33, alusivo ao número de mineiros resgatados do fundo da mina. Pois em época de crise era boa a economia caso se pudesse utilizar a decoração para o número de títulos de campeão nacional: 33 é mais que um número é um objectivo.

O estádio Algarve costuma ser talismã, e já embalamos lá para várias conquistas. Contra o Estoril para o título de 2005, contra Sporting e Porto para duas Taças da Liga.
Olegário continua imparável, merecedor de outra homenagem, arbitragem menos conseguida na Taça de Portugal, e expulsão de um jogador do Auxerre em aquecimento no jogo da Liga dos Campeões. Haja personalidade, num imitador de Quim Barreiros.
In ABola

Obrigado amigo Benfica 73 
 

Crónica Semanal de Leonor Pinhão


Há ‘stewards’ infiltrados!
 
DESDE que contratou a prima da águia Vitória para sobrevoar o Olímpico de Roma antes de cada jogo, a Lazio está imparável e ao cabo de sete jornadas lidera, isolada, o campeonato italiano com 2 pontos de avanço sobre o Milan e o Inter e com 4 pontos de avanço sobre a Juventus e o Nápoles.
Já em Lisboa, a propriamente dita águia Vitória passou um sábado atribulado apesar de o Benfica ter ganho sem grandes dores de cabeça ao Arouca e ter seguido em frente na Taça de Portugal, como lhe competia, com o devido respeito pelo Arouca.
De acordo com a notícia inquietante publicada neste jornal na sua edição de domingo, o nosso simpático Juan Bernabé, treinador, patrão e psicólogo da águia original, foi intempestivamente impedido de se fazer fotografar com umas crianças que pretendiam levar para casa a prova testemunhal de que tinham conhecido no Estádio da Luz o tratador e o animal, ou seja, a competente dupla que faz as delícias da criançada e dos mais crescidos naquele momento mítico que se repete antes de cada jogo do Benfica em casa.
Os autores materiais do desacato terão sido dois stewards de serviço que, sem boas maneiras, afastaram Juan Bernabé das crianças e, de tal forma o fizeram, que a águia Vitória andou a rebolar pelo chão à vista de toda a gente e o próprio Bernabé se terá desequilibrado com algum estardalhaço.
Mas, afinal, que stewards são estes que a Prosegur manda para o Estádio da Luz perpetrar atentados?
Sem querer embarcar em teorias da conspiração, ou a Prosegur está infiltrada de agentes provocadores ou os stewards em causa são taxativamente sportinguistas que ainda vinham a ferver da última assembleia-geral do clube deles, o que não é de admirar. E por já virem picados um com o outro desde a reunião magna na Nave de Alvalade não se contiveram quando Juan Bernabé, no seu falar espanholado, os cumprimentou com um saludo que lhes caiu mal:
- Boa noite, Costinhas!
E viraram-se a ele que nem leões e aconteceu o que aconteceu, uma tristeza, enfim.
Senhores stewards lagartos, abusivamente infiltrados na Luz, façam lá o favor de resolver esses desaguisados exclusivamente entre vocês, em sede própria, sem a presença de jornalistas, mas não venham para nossa casa atentar contra a harmonia reinante!

outubro 21, 2010

outubro 20, 2010

Tempo Útil _ João Gobern



O melhor exemplo

Terá perdido, em múltiplas ocasiões, oportunidades de se insinuar junto dos “tribunais populares”, permeáveis ao gesto largo e espalhafatoso, por ser discreto e por ter ganho a calma que os longos anos de futebol e de “casa” lhe valem. Dir-se-á, até, que nos anos mais chegados, desvalorizando a ansiedade pelo golo a favor do jogo em prol da equipa, também se tinha tornado um atleta discreto. Tal não impediu que, em ocasiões distintas e pela voz de comando de sucessivos treinadores, tenha sido chamado a múltiplas missões e a todas elas se tenha entregue com igual fervor e aplicação.

Recordo os momentos em que foi desviado da frente de ataque para a posição de playmaker – com êxito assinalável, tendo em conta a sua técnica e a visão de jogo. Lembro os momentos de sufoco para a sua equipa, em que foi sempre capaz de dar o exemplo e, sem esquecer o seu papel primordial de atacante, apareceu como o primeiro defensor. Evoco, em nome das épocas mais recentes, a sua infinita disponibilidade para uma longa permanência no banco de suplentes – e até na bancada – em nome dos interesses da equipa, sem que se lhe ouvisse um queixume público, sem que reclamasse a antiguidade como um posto, antes mantendo viva e ativa a autoridade natural ganha no balneário e no “grupo de trabalho”, chegando a dar o peito às balas mesmo sem entrar em campo.
Agora, sem fazer ondas nem lançar recriminações contra ninguém, anunciou a disposição de deixar o clube que o fez gente no mundo do futebol e que ele próprio ajudou a engrandecer. Tê-lo-á feito depois de uma prolongada reflexão e por ter concluído que maior do que o seu amor à camisola só há mesmo outro amor: aquele que dedica à sua atividade profissional, que é uma paixão chamada futebol. Mais uma vez, o capitão voltou a ser discreto, limitando-se a defender que ainda se sente à altura de jogar e de partilhar alegrias sobre os relvados.

Chegou a ser um mal amado na equipa, mesmo pelos que reconheciam a sua importância nos equilíbrios no clube. O facto de ser um jogador fino – nada tem a ver com défices de entrega e de alma – levou-o a receber assobios. Hoje, é aceite como símbolo, algo que herda em via direta de alguns dos maiores de sempre no clube que representa. E não é preciso ser adivinho para vaticinar que o Benfica, mesmo em fase de poder e de saúde, vai sentir a falta de um homem – e de um jogador – como Nuno Gomes. Oxalá possa regressar, mais tarde, para continuar a ser porta-bandeira e porta-voz. Apesar da época meteórica que vivemos – no futebol e não só –, das famas e carreiras feitas e desfeitas num ápice, ainda há os que provam ser uma mais-valia continuada. No futebol jogado em Portugal, não conheço melhor exemplo.

In Record

Bloco de Notas _ Nuno Farinha


O efeito Paulo Bento

A entrevista a Judite de Sousa resultou numa espécie de 3.ª vitória para Paulo Bento (PB), a juntar aos triunfos sobre Dinamarca e Islândia. Titulava o Record, após a jornada de Reivejavique, que “assim até dá gosto” e foi isso que apeteceu reforçar depois se ter apreciado o registo sóbrio e ponderado de PB na “Grande entrevista”, da RTP.
À primeira vista não é isso que parece, mas o recém-chegado selecionador nacional tem um forte poder comunicacional. Acontece que, a esse domínio, o técnico junta-lhe depois duas “armas” poderosas que o aproximam do adepto: humildade e conhecimento. Torna-se difícil não simpatizar com quem exibe esta postura de seriedade. Diria até que qualquer sondagem que hoje se realizasse para medir o grau de popularidade do treinador resultaria em valores elevadíssimos, na ordem dos 70 ou 80 por cento.

Portugal precisava de alguém assim, com esta verticalidade e espírito de missão. E vendo bem, era quase impossível, desta vez, Madaíl ter escolhido melhor. Para além da análise (técnica) que pode ser feita à forma como abordou os desafios com dinamarqueses e islandeses, PB já se “mostrou”, pelo menos, em mais sete ocasiões desde que é selecionador nacional: no dia da apresentação; no anúncio da convocatória; nas quatro conferências de imprensa (antes e após os jogos) e agora na entrevista televisiva. Saiu-se sempre com nota alta, mas este último “teste” foi mais revelador e conclusivo porque, em registo mais intimista, PB poderia até ter caído nalgumas tentações fáceis. Não aconteceu. Foi inteligente nas poucas referências ao antecessor, voltou a contornar bem o episódio que envolveu Mourinho e, já podendo “capitalizar” os seis pontos conseguidos, preferiu novamente atribuir o mérito, por inteiro, aos jogadores.

Bento é isto e não se deve mudar a natureza das coisas. Mas, se ele não o diz, é preciso explicar que esta não é a verdade toda: o selecionador teve muito peso na reviravolta que foi operada em tempo recorde. E mesmo que não tenha havido sequer tempo para implementar qualquer alteração tática, o mérito de quem chegou passou a existir, desde logo, na forma descomplexada de ir a jogo. Se o futebol é uma coisa simples, então o caminho é simplificar. PB conseguiu isso em toda a linha: no discurso, nos processos de trabalho e até na aceitação do caos em que estava transformado aquele balneário tão especial. Parecendo simples, não é. Menos ainda quando a margem de erro está esgotada e a escolha só pode ser entre ganhar ou ganhar.

O primeiro objetivo foi assim conseguido. Portugal somou seis pontos em seis possíveis, os adeptos voltaram a suspirar pela Seleção Nacional (o jogo na Islândia teve uma audiência média de 2 milhões de espectadores, na estação pública), deixou de discutir-se a posição de Pepe no terreno e – melhor do que tudo – já se fala outra vez de futebol. Não seria mesmo isso que estava a faltar? PS: No “Minuto 0” de ontem previ fracas assistências para os jogos deste fim-de-semana na Taça de Portugal. Afinal, enganei-me redondamente e ainda bem. 40 mil espectadores no FC Porto-Limianos é obra! 25 mil no Benfica-Arouca e mais 5 mil no Estoril-Sporting é muitíssimo bom.

In Record

outubro 19, 2010

O Voo da Águia_ Marta Rebelo


Semana agitada

A agitada semana que ontem terminou foi, de um modo geral, positiva. Começou da melhor maneira possível: a vitória expressiva da Seleção das quinas sobre a Islândia, que apesar de não ter pontuado nesta fase de qualificação para o Europeu, há algum tempo se mantinha invicta em Reiquejavique. Paulo Bento conseguiu as 2 vitórias que se lhe impunham, dando à equipa lusa a confiança e, como é sua imagem de marca, a tranquilidade de que tanto necessitava. Resta agora uma longa espera até ao recomeço da qualificação, com um encontro de promoção da candidatura Ibérica pelo meio. Acho extraordinário que coloquemos a assinatura nesta parceria com a Espanha, que nem nos faz “o favor” de recebermos o jogo de abertura. A Federação continua a prestar o melhor dos seus serviços ao país...

Seguiu-se a Taça de Portugal, competição onde todos participam e às vezes os grandes tropeçam, não sem antes se acender o debate sobre o pedido do Benfica de 2.500 para o jogo que oporá o Glorioso aos da invicta no Estádio do Dragão. Questionaram-me sobre a coerência desta solicitação, depois da direção do SLB ter feito público o boicote aos jogos fora de casa, com missiva presidencial dirigida a cada sócio do clube. É incoerente. Primeiro, porque colocar a corda financeira na garganta dos clubes pequenos, que se veem desprovidos de uma receita de bilheteira importante – vejam-se os lamentos do Portimonense – é de eficiência duvidosa, no que toca à sua adesão à luta pela “verdade desportiva”. Depois, porque se há estádio que dispensa a visita dos adeptos do Glorioso, é o do Dragão: violência gratuita, logo na receção na autoestrada, uma total falta de respeito – tem sido esta a receção portista ao Benfica.
Mas a fechar a semana, na Luz o pano caiu com 5 tentos ao Arouca, Kardec a pregar um susto a Cardozo e Gaitán cada vez melhor. Portanto, a semana acabou bem.

In Record

Por força da lei _ Ricardo Costa


Novos árbitros

1. Quem nos leu a semana passada, saberá que refletimos por ora sobre os desafios que serão essenciais para o crescimento do futebol. Um deles é a arbitragem. Depois de anos de suspeições, histórias e rumores, e após os castigos (desportivos e criminais) a vários árbitros no “Apito Dourado”, no “Apito Final” e no “Apito da Federação” (onde foram pesadamente punidos vários árbitros), a classe encontra-se numa fase de transição, sob pena de se tornar insuportável o ambiente das competições. Ou avança para outro patamar ou fica na dúvida. Vítor Pereira intuiu isso há uns anos e, orientado pela experiência inglesa, forneceu um modelo para traduzir essa transição: a profissionalização de um quadro estável de árbitros para as competições da Liga. Infelizmente, toda a envolvência dessa profissionalização não foi acompanhada pelo poder político nas revisões da Lei de Bases e do Regime Jurídico das Federações. E não temos, por isso, base legal para um novo estatuto do árbitro desportivo. É urgente este salto.

2. O repto é alterar todo o processo de recrutamento e evolução dos árbitros nas sucessivas categorias, desde as camadas jovens até à 1.ª categoria. Submetidos desde a base a critérios esconsos e a fiscalização discutível, os árbitros que chegam hoje ao topo não são muitas vezes – ou não podem ser – os melhores. Ressente-se a independência e magoa-se a qualidade das suas atuações. Por isso se deve redigir quem e como se chega a árbitro – em carreiras distintas para “grupos de modalidades” – e instituir um corpo de arbitragem autónomo de quem organiza as competições (ainda que financiado e balizado pelas competições). Um corpo escolhido, formado e avaliado por “comités de técnicos de arbitragem” designados pelo Estado e atuantes, em secções diferenciadas, nas federações e nas associações. E com a possibilidade de tais organismos federativos e associativos recorrerem, no caso da gestão e organização dos árbitros profissionais, a entidades externas e, no caso da aprendizagem e reciclagem das competências de todos os árbitros, a formadores fora do ambiente fechado das federações e das associações (p. ex., universidades). Sem pôr em causa a autorregulação, mas assegurando o seu futuro.

3. Propor este projeto deveria ser um escopo indeclinável da Federação e da Liga. Mas já percebemos que, por um lado, a liderança velha ou uma liderança nova da Federação não arquitetam (até ver) um qualquer cenário diferente do passado. Por outro lado, a Liga atual manifesta ansiedade em libertar-se dos litígios da arbitragem (e da disciplina), pois almeja concentrar-se somente nas variáveis competitivas do “negócio” do futebol. Contudo: a) não se olvide que nesses dois sectores reside muita da credibilidade do “negócio”; b) não se negligencie que a Liga passará a ser a porta-voz da insatisfação dos seus associados e a ser ela a administrar o ruído. Melhor seria pugnar por um modelo favorável para o “negócio”. E na Liga, por agora, ainda estão as ideias de Vítor Pereira e os homens da sua equipa, que sabem bem como coser as linhas da arbitragem. Aproveite-se.


In Record

Artigo de Opinião _ Sílvio Cervan



Esperança em vitórias

Numa semana marcada (confesso a pieguice mas emocionei-me) pelo salvamento dos 33 mineiros presos nas profundezas de uma mina chilena, valeria a pena pensar como o segredo do sucesso está na organização, na coragem, na capacidade de trabalhar em equipa.
Aqueles mineiros encurralados numa situação dramática, souberam aceitar a liderança natural, racionaram a comida, a água e os recursos, motivaram-se para o sonho desejado (muito pouco provável à partida) e conseguiram alcançar o maior de todos os triunfos… a vida.
Quando um deles conseguiu em desespero pedir à mulher que desse o nome de Esperança à filha que iria nascer, gritou ao Mundo o segredo da vitória.
Em tudo na vida é assim, e o desporto não foge à regra. Não serão precisos grandes ‘gurus’ para aprender muito com esta epopeia chilena.
Espero que o SLBenfica, os seus atletas e profissionais bebam desta mesma fonte inspiradora. Organizados, com vontade e dedicação ao limite, com motivação e esperança os impossíveis acontecem.
Este sábado iniciamos um percurso que espero acabar em Maio a subir a escadaria do Jamor. Eu tenho esperança numa época de vitórias, eu sinto a vontade de um treinador e um grupo em alcançar essas metas.
O Arouca é um adversário perigoso, não ganhou no passado domingo à Académica (Taça da Liga) por mais um erro de Olegário (segundo as crónicas) e treinou com o FC Porto a meio da semana para que a motivação subisse ao limite. Mas o Arouca na Luz e Lyon em França serão dois degraus a mais na escada que estamos a subir.
Sinal dos tempos que merece reflexão o estado dos de Liverpool, um dos maiores clubes do Mundo em história e adeptos corre riscos que por cá poucos acreditam ser possíveis. Mas os clubes também acabam e os muito grandes não são excepção.


In ABola

Crónica Semanal de Leonor Pinhão



Da potência e da Impotência


O futebol ocupou uma posição tal na nossa sociedade que o faz ser mais temido do que o próprio Estado de onde emanam os governantes e as políticas a que nos sujeitam. Tome-se põe exemplo o caso ainda fresco do presidente da Associação Comercial do Porto que abandonou melodramaticamente, e em directo, um programa de televisão de debate sobre futebolistas porque se recusou, em nome dos bons princípios, a comentar escutas ordenadas por um juiz no âmbito de um processo de investigação criminal.
O processo em causa, com o folclórico e colorido nome de Apito Dourado, incidia sobre práticas desleais protagonizadas por um sem número de dirigentes, empresários e árbitros de futebol, sendo que o clube do presidente da Associação Comercial do Porto era, sem margem dúvida, aquele que protagonizava mais práticas desse quilate.
E Rui Moreira, que é o nome do presidente da Associação Comercial do Porto, sentiu-se de tal modo constrangido pela discussão do assunto, que se levantou da cadeira onde estava sentado e foi para casa ofendido.
 
Não deixa de ser curioso que, a 26 de Fevereiro deste mesmo ano de 2010, o mesmo Rui Moreira não se tenha sentido minimamente constrangido, em nome dos seus bons princípios, a responder a um inquérito do diário I que lançava a seguinte questão: Depois dos episódios recentes relacionados com as escutas e o caso Face Oculta. Mantém a confiança no primeiro-ministro?
Fiquem pois sabendo que o presidente da Associação Comercial do Porto não só não se recusou a responder como até deu uma opinião bastante assertiva e contundente: «O primeiro-ministro tem que ser um factor de confiança perante o exterior e agora acho que passou a ser um factor de desconfiança perante o exterior.»
Embrulha, Zé Sócrates!
Convém, por ser verdade, esclarecer que o presidente da Associação Comercial do Porto não foi o único a disponibilizar-se para comentar as escutas do processo Face Oculta. Foi apenas um de uma lista de 50 individualidades identificadas e com profissões e estatutos sociais tão importantes como os empresários, economistas, sociólogos, escritores, presidentes de associações cívicas, professores universitários, fiscalistas, banqueiros, historiadores, penalistas, médicos, cientistas, militares e, final e inevitavelmente, um psiquiatra que, por sinal, até teria muito a acrescentar à discussão se nos quisesse explicar as razões desta impotência de que padece tanta gente quando chamada a tratar do intratável.
Compreendem agora que não é disparate nenhum concluir que o futebol mete muito mais respeitinho aos seus transeuntes do que a política e os políticos aos seus cidadãos? Perante as belezas e os perigos dos vetustos monumentos da bola nacional e o respectivo cortejo de vénias e de salamaleques aos seus dons e aos seus doutores, qualquer primeiro-ministro não passa de um Zé.
Ah, valentes!

Email Aberto _ Domingos Amaral


Mortal Kombat

From: Domingos Amaral
To: Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira

Caros presidentes do FC Porto e do Benfica
À medida que se aproxima o jogo entre as duas equipas, no Dragão, o tom do confronto tem vindo a subir. Ele é ameaças, recordações de violências passadas, tudo numa grande caldeirada, como se viesse aí um combate mortal entre duas comunidades que se odeiam e guerreiam, e não apenas mais um jogo de futebol que existe todos os anos. Entrámos pois em espiral, numa escalada disparatada. Tem de ser assim sempre? Não, não tem. Pela minha parte, avanço com uma sugestão: todos os anos, antes da época começar, devia ser organizado um grande torneio de luta livre entre benfiquistas e portistas, algures num descampado, a meio do caminho entre Lisboa e Porto.
Na arena principal combateriam suas excelências os presidentes. Depois haveria arenas secundárias. Numa delas, a maior, defrontar-se-iam as claques, Super Dragões contra No Name Boys. Noutra, defrontar-se-iam Jesus e Villas-Boas. Mais ao lado, lutariam os vices Reinaldo Teles contra Sílvio Cervan. Depois haveria as arenas especiais, para os cronistas Manuel Serrão e António-Pedro Vasconcelos, e uma muito muito especial, e muito aguardada, para a refrega entre os televisivos Rui Moreira e Ricardo Araújo Pereira.

Seriam naturalmente combates até à morte, onde valia tudo menos tirar olhos, e desses combates estariam excluídos os jogadores, pois esses valem muito dinheiro e não são para estragar. Mas, se esse gigantesco Mortal Kombat existisse, pelo menos uma vez por ano, talvez a tensão descesse, e não passássemos o tempo nestas picardias desnecessárias e perigosas. Depois queixem-se.

In Record

outubro 18, 2010

Aqui á Gato _ Miguel Góis



Pai e filho

– Desliga o computador. Temos de ter uma conversa muito séria...
– Para quê tanto suspense? A stôra de Português avisou-me que ia falar contigo hoje.
– E então? O que é que tens a dizer em tua defesa?
– Nada.
-Nada? Portanto, o teu teste de Português está igualzinho ao teste do Vasco, que por sinal é o melhor aluno da turma, e tu não tens nenhuma explicação para isso.
- A stôra só veio com essa, porque estava à espera que eu tivesse outra nega para me chumbar.
- Eu vi os testes, meu menino. As respostas são textualmente as mesmas, palavra por palavra. É impossível não teres copiado. Sabes o que isto quer dizer? Dois meses sem semanada. DOIS MESES!
- Sim, mas como é que se prova?
- Desculpa?
- Como é que se prova que fui eu que copiei, e o não o Vasco? Estás a entender a questão?
- Não estou a acreditar no que estou a ouvir. Quer dizer que não serviu para nada ter andado estes anos todos a gastar a minha saliva contigo sobre a importância de sermos honestos, sobre o valor da integridade e da…
- …retidão moral. Eu lembro-me, Mas, ó pai quando o Porto ganha o campeonato, não vamos para os Aliados festejar?
- O que é que isto tem a ver?
- Pai, eu tenho 11 anos: como todos os rapazes da minha idade, estou todos os dias no YouTube.
- No YouTube.
- No YouTube. Eu já não sou uma criança, pai. Sei como é que as coisas funcionam. E tu também sabes, há mais tempo do que eu. Desde que não sejamos apanhados, às vezes temos de dizer “toca a andar!”, temos de recorrer à “fruta de dormir” e ao “nosso juiz”, se queremos atingir os nossos objectivos. Queres que eu chumbe o ano?
Queres ir outra vez à Liga Europa? Vá, que cara é essa? Anima-te, pai. Não me dás os parabéns pela nota a Português?
- Os parabéns? Bom, foi efectivamente uma boa surpresa.
- Obrigado, pai. Só mais uma coisa?
- O que é?
- Dava-me jeito que me desses a semanada agora…
- Vou buscar a carteira.

In Record

Crónica Semanal do Ricardo Araújo Pereira


Batotas que temos como evidentes

“A Constituição americana – até hoje considerada como um dos melhores textos jurídicos jamais escritos – enumera o que os Founding Fathers chamaram de «verdades que temos como evidentes».

Miguel Sousa Tavares
A Bola, 12 de Outubro de 10

APARENTEMENTE, há juristas que lêem a Constituição americana sem o cuidado que é devido a um dos melhores textos jurídicos jamais escritos. Na verdade, não é Constituição americana que enumera aquilo a que os Founding Fathers chamaram verdades que temos como evidentes. Essas são enumeradas na Declaração de Independência, que foi escrita uma boa década antes da Constituição. É, então, na Declaração de Independência que os chamados países fundadores dos Estados Unidos expõem as verdades que consideram evidentes: que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, e que entre esses direitos se contam o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Uma das verdades que não é evidente, quer para a Constituição, quer para a Declaração de Independência, é que os cidadãos tenham o direito inalienável de não serem escutados. Como é evidente, todos os cidadãos têm o direito à privacidade – mas esse direito não é absoluto. E a magnífica lei americana permite o uso das escutas como meio de investigação, assim como a lei portuguesa. Que horror! Mas não era a PIDE que também escutava? Era. Se bem me lembro, a PIDE também prendia e, apesar disso, no regime democrático há quem continue a ir preso. A diferença é simples, mas parece que é difícil de entender: a PIDE escutava e prendia arbitrária e ilegitimamente, como é próprio das polícias políticas das ditaduras; a polícia das democracias escuta e prende justificada e legitimamente, como é próprio do Estado de direito democrático. O mais intrigante, no caso das escutas do Apito Dourado, é o facto de haver discussão quando, afinal, estamos todos de acordo. Por exemplo, estou de acordo com Miguel Sousa Tavares quando, depois de José Sócrates lhe ter dito que não devíamos conhecer o conteúdo das escutas do processo Face Oculta, respondeu: ‘Mas conhecemos. Eu também acho que não devíamos conhecer, mas conhecemos. E, uma vez que as conhecemos, não podemos fingir que conhecemos. Eu, pelo menos, não posso’. (http://www.toutube.com/watch?v=R1WI8t7JY6Y&t=08m07s) E estou de acordo com Rui Moreira, quando ontem confessou aqui a razão pela qual comentou as escutas que envolviam o nome de José Sócrates: «(…) limitei-me a não ignorar o que era público, ainda que resultasse de uma ilegalidade. Ninguém se pode alhear do que é público e das suas consequências». A única diferença é que eu tenho esse opinião relativamente a todas menos as do Apito Dourado. Também acho que não devíamos conhecer a escuta em que Pinto da Costa combina com António Araújo oferecer fruta para dormir ao JP, mas conhecemos. E, uma vez que a conhecemos, não podemos fingir que não conhecemos.
Eu, pelo menos, não posso. Quando comento a escuta em que Pinto da Costa dá indicações a um árbitro para que vá a sua casa nas vésperas de um jogo, limito-me a não ignorar o que é público, ainda que resulte de uma ilegalidade. Até porque ninguém se pode alhear do que é público e das suas consequências. Além disso, note-se, até concordo com MST quando diz que as escutas vieram a público nesta altura por causa do Porto – Benfica. O objectivo é prejudicar o Benfica: os jogadores que tiverem conhecimento das escutas ficam a saber que, por mais que se esforcem, se o árbitro estiver trabalhado não têm hipóteses de ganhar. Desmoraliza qualquer um.

outubro 13, 2010

Tempo Útil _ João Gobern


O adeus ao “défice”

Mobilizou e aproveitou, não olhando a questiúnculas que, no momento em que assumiu a sua tarefa, poderiam – se consideradas – ser a via rápida para o consumar do “défice” que herdou. Paulo Bento, que – recordo – escrevi aqui que não teria sido a minha primeira escolha para selecionador, surge, passados dois jogos, como uma escolha de primeira. Chamou os melhores, de tal forma que é complicado poderem aparecer vozes dissonantes a defender a mais-valia de alternativas. E, ao contrário de quem o antecedeu à frente da Seleção, teve, em face destes dois jogos de “salvação nacional”, o juízo de não inventar.
Resultado: tanto numa exibição mais técnica, com a Dinamarca, como num encontro em que era preciso usar o músculo e o sentido prático, com a traiçoeira Islândia, Portugal voltou a jogar com alegria e competência, com a noção do dever que está em causa mas também com a dimensão do prazer.

Ganhámos um meio-campo funcional e, em momentos criteriosamente selecionados, espetacular: se Moutinho foi insuperável com os dinamarqueses, Meireles encheu o campo com os islandeses. Em ambas as ocasiões, Carlos Martins deu provas cabais da sua utilidade. E Tiago ainda teve tempo para deixar sinal de que também está na corrida. Os laterais estão certos. Os alas têm (mais) terreno aberto depois da renúncia de Simão que, se calhar, até será recuperável. Nani (Dinamarca) e um reencontrado Cristiano Ronaldo (Finlândia a tempo inteiro, depois da segunda parte com os dinamarqueses) foram os melhores em campo. E quem tem à mão a dupla de centrais do Real Madrid, não precisa de ser um génio para perceber que pode tirar grande partido das rotinas de Ricardo Carvalho e Pepe.
Temos problemas em aberto? Claro que sim, desde logo nos extremos mais recuado (Eduardo longe do brilho da África do Sul) e adiantado (Hugo Almeida desgarrado). Mas aquilo que Paulo Bento “explicou” é, afinal, elementar: que só vale a pena abordar estas questões se o essencial – o apuramento para o Euro’2012 – ainda estiver ao alcance.

Bento chega ao pleno dispensando os misticismos e a sensação de “grupo fechado” mas, ao mesmo tempo, evita os discursos teóricos e “finta” a falta de capacidade para ler o jogo ao minuto, algo a que infelizmente nos habituámos nos últimos dois anos. Mais: a vencer tangencialmente em Reiquejavique, teve a coragem de substituir um avançado por outro. 
Com resultados, mas também com princípios. Para já, merece todos os aplausos e a chapelada que se reserva aos homens de mérito. Uma exibição de raça frente à Espanha e tudo se conjugará para partirmos para uma recuperação assinalável. Pela parte que me toca, estou rendido. À simplicidade, que ainda é trunfo dos que a trabalham.

In Record

outubro 12, 2010

O Voo da Águia_ Marta Rebelo


Com tranquilidade

Paulo Bento é, neste momento, o melhor treinador de Portugal. É como El Especial diz: é o nosso, é o melhor. Acrescento: deu-nos a vitória frente à Dinamarca, é o melhor. Pelo menos até amanhã, é bestial. E mesmo que a Islândia nos fosse obstáculo, depois do encontro em Reiquejavique e de um hipotético grande jogo aéreo dos islandeses, bestial continuará.

É que depois de meses a rir-se da desgraça em que se transformou a equipa do Sporting – para não falar do SCP no seu todo – após a sua saída, Paulo Bento colocou a nu, de uma vez por todas, a incompetência do seu antecessor e o tamanho da penalização sofrida pelos jogadores selecionados, por conta da triste história que se prolongou pelos últimos anos fora no futebol lusitano. E nunca é demais desmontar as efabulações alheias. Eu não sou fã de Mourinho, mas se alguém se pode arrogar de contribuições especiais para a espinha dorsal da Seleção Nacional, é o treinador dos galácticos. É fazer as contas: Ricardo Carvalho, Pepe, Bruno Alves, Raul Meireles, todos “feitos” no FCP de Mourinho, com Carvalho a segui-lo para o Chelsea e para o Real. Cristiano Ronaldo, após a contenda queirosiana durante o Mundial da África do Sul, encontrou em Mourinho o primeiríssimo apoio: “Na minha equipa, as derrotas são minhas e não dos meus jogadores”, saltou de imediato em defesa de Ronaldo, quando o então selecionador andava a falar de camisolas apertadas e de filhos pródigos. Mas voltemos a Paulo Bento: coração quente e cabeça fria foi fórmula que resultou. E Nani ajudou. Os nossos três golos nasceram da articulação perfeita entre o CR7 e Nani, revezando-se nas assistências e na marcação. A Seleção foi equipa, foi segura e tranquila. 

Fundamentalmente com muita tranquilidade, ainda vamos ao Europeu. De preferência com Carlos Martins a fazer bonito em campo. Venha o vulcão islandês.

In Record

Email Aberto _ Domingos Amaral


Regresso do Jedi

From: Domingos Amaral
To: Cristiano Ronaldo

Caro Cristiano Ronaldo
Enquanto treinador da Seleção, Carlos Queiroz transformou-te numa espécie de maluquinho desesperado, a correr para a baliza em cavalgadas inúteis, ou a tentar remates violentos a mais de trinta metros da baliza, na esperança que pelo menos um entrasse. Nunca entrou nenhum e o mais perto que estiveste foi contra a Costa do Marfim, mas acertou no poste. Claro que, usado assim, te foste transformando num jogador com muita fama mas sem eficácia, e a relação com os portugueses degradou-se.

As pessoas exigiam de ti de mais, sem perceber que, sem treinador à altura, a pressão daria cabo de ti com o passar do tempo. Assim foi e, para quem queria “explodir no Mundial”, a competição foi frustrante, com uma equipa temerosa e desorientada, à espera que tu fosses o salvador da Pátria. No final, depois da derrota contra a Espanha, foste tu que selaste o destino do treinador com o teu “perguntem ao Queiroz”, mas isso foi um desabafo a quente, não uma vingança servida a frio. Essa conseguiu-a Paulo Bento, na sexta-feira, contra a Dinamarca. Viste tu, e vimos todos, como parece fácil pôr uma equipa a jogar com alegria, confiança e ambição.

Pois é: às vezes basta saber falar com os jogadores, tratá-los com humildade e bom humor, fazê-los sentir que são parte de um grupo com um objetivo, e o milagre acontece. Foi bom assistir ao teu regresso, mais do que justo, aos golos, mas o melhor de tudo foi ver que já não és aquele tontinho desesperado em que Queiroz te transformou, mas sim um excelente jogador que não descansa enquanto não enfia a bola no fundo da baliza.

In Record
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