novembro 29, 2010

Email Aberto _ Domingos Amaral

Maus negócios

From: Domingos Amaral
To: Luís Filipe Vieira

Caro Luís Filipe Vieira
O dramaturgo Oscar Wilde disse um dia que “o dinheiro não traz felicidade, compra-a”, verdade que não se verificou, este ano, no Benfica. A abundância, em vez de remédio, tornou-se um veneno. De nada valeu, como o sr. disse, ter “a equipa mais cara de sempre”. Subiu demasiado as expectativas, o que só aumenta a frustração atual.
Seis meses depois, são evidentes os maus negócios. As contratações de Roberto e Jara, e provavelmente de Gaitán, custaram de mais e provaram de menos. A renegociação com Jesus tornou-se também um profundo desapontamento. No início da época passada, ele prometeu que a equipa ia jogar o dobro. Assim aconteceu. No final do ano, já campeão, quis ganhar mais, e acenou com o fantasma do FC Porto, que supostamente o queria contratar. O senhor assustou-se e foi na conversa. Aumentou-o e assistiu, pasmado, a um estranho fenómeno: a equipa entrou em colapso. Estranho paradoxo: o treinador é aumentado para o dobro e passa a render metade.
Para mais, há um rumor perturbador, que nunca foi desmentido. Conta-se que os jogadores se revoltaram porque os prémios por terem sido campeões eram infinitamente menores que o do treinador. Não sei se é verdade, mas se for, talvez explique o apagão geral de Maxi, Luisão, David Luiz, Javi García, Saviola, Aimar, Cardozo, e o mal-estar entre eles e o treinador. Money rules the world…E agora? Olhe, resista à depressão, cerre os dentes e obrigue-os a lutar até ao fim. Mau negócio mesmo é nem ficar em 2.º lugar.
  
  In Record

novembro 28, 2010

Época 2010/2011 SLBenfica _ Beira Mar


Cardozo em grande na vitória (3-1) do Benfica em Aveiro

Tacuara bisou e assistiu Saviola no terceiro golo. Benfica reduz para oito os pontos de diferença para o FC Porto. Rui Varela marcou o tento de honra do Beira-Mar.

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Grande reacção do Benfica ao desaire europeu. Os encarnados rubricaram uma boa exibição em Aveiro perante um Beira-Mar que nunca se deu por vencido e que colocou por várias vezes os pupilos de Jorge Jesus em sentido.

Entrou melhor o Benfica, com várias oportunidades para marcar. A mais evidente foi o remate de Saviola à barra após um corte deficiente de Hugo. Depois Luisão cabeceou para defesa apertada de Rui Rego. Carlos Martins também esteve perto do golo após um remate de fora da área, numa altura em que o Beira-Mar já tinha equilibrado o jogo.

A melhor oportunidade dos aveirenses saiu dos pés de Renan, que atirou cruzado e rasteiro a testar a atenção de Roberto.

Mesmo em cima do intervalo, Kanu puxou Cardozo na grande área e Bruno Paixão apontou para a marca da grande penalidade. Na transformação do castigo máximo, o paraguaio coloriu de justiça o marcador.

Na segunda parte, o jogo começou mais repartido. A abrir, Ruben Amorim colocou em Cardozo que, sem marcação na pequena área, falhou o desviou. Depois Ronny atirou ao poste quando já tinha desperdiçado uma excelente ocasião após livre de Sérgio Oliveira.

Ao minuto 60, o momento do jogo. Grande golo de Cardozo após remate em arco para o poste mais distante da baliza do Beira-Mar. O paraguaio recebeu de Carlos Martins, tirou Hugo do caminho e disparou junto ao vértice direito da área, longe do alcance de Rui Rego.

Pouco depois, Tacuara voltou a trocar as voltas a Hugo, foi à linha e atrasou para Saviola que só teve de encostar para o 3-0.

O Beira-Mar reduziu a cinco minutos do final por intermédio de Rui Varela, que aproveitou um mau alívio de Luisão após livre de Renan. A equipa de Aveiro terminou o jogo à procura do segundo golo mas o resultado não sofreu mais alterações.

O Benfica passa a somar 24 pontos, menos oito que o FC Porto que ontem empatou (1-1) em Alvalde. Já o Beira-Mar pode cair para o 10.º lugar, dependendo dos resultados de UD Leiria e SC Braga.

In ABola  


 

Aqui á Gato _ Miguel Góis



José Mourinho e Cristiano Ronaldo
 
Confesso que, em momentos de maior debilidade psicológica, tenho assistido a jogos do Real Madrid com o único propósito de ver um jogador que na época passada alinhava no Benfica a vencer uma partida de futebol. Hoje em dia, é um luxo que não dispenso. Acresce a este prazer, a curiosidade em assistir ao desempenho de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, dois portugueses extremamente profissionais, ambiciosos e competentes. É, aliás, possível que o Mundo esteja a ficar com uma ideia ligeiramente errada sobre como são os portugueses. Por sorte, Manuel Cajuda também se encontra a trabalhar no estrangeiro, se não podíamos estar perante um equívoco irreversível.
Há muito que se percebeu que Cristiano Ronaldo é viciado em vitórias Mas, esta época, em Madrid, o jogador encontrou o seu dealer: José Mourinho. E não podia ter vindo em melhor altura: como passou o Verão a ser treinado por Carlos Queiroz, é provável que Cristiano estivesse já numa fase muito adiantada da desintoxicação.

Dito isto, quando imagino uma palestra de Mourinho no Real Madrid, não consigo evitar lembrar-me da cena em que o druida de Asterix distribui a poção mágica pelos gauleses. Calculo que, por razões óbvias, Cristiano Ronaldo esteja dispensado de ouvir as palavras de motivação do treinador. Ainda assim, depois de muita insistência por parte do jogador, Mourinho deve dizer-lhe: “Tu não precisas, Cristiano. Já te esqueceste que caíste num caldeirão de ambição, quando eras pequeno?”
 
  In Record

novembro 26, 2010

Artigo de Opinião _ Sílvio Cervan


Não tem sido apenas azar

Sorte para o Benfica será perceber que não tem sido azar a motivar os maus resultados. Azar têm os adeptos que esperavam uma equipa com mais garra e com mais alma. Durante o jogo quando algum infortúnio acontece, a equipe enerva-se e desune-se, parece que congela e não consegue dar a volta às dificuldades. Mesmo quando, a espaços a equipa joga bem, e isso acontece com frequência, há um sentimento de incapacidade na manutenção do ritmo e da qualidade de jogo.

Num ano fustigado por tantas contrariedades (árbitros, lesões, azar) convém centrarmo-nos apenas naquelas que são importantes, a qualidade e consistência das exibições.

As hipóteses deste Benfica (ou qualquer clube português) na Liga dos Campeões são ínfimas, e assim poderia até pensar numa boa Liga Europa como objectivo, mas o meu receio é que Telavive tenha sido uma machadada demasiado forte nos níveis anímicos do plantel.

Com a época na primeira metade, só a experiência de Jorge Jesus, o brio e profissionalismo dos atletas poderão inverter esta lógica. Há muito tempo para ganhar esta época se tal for conseguido, caso contrário veremos o Benfica afundar-se num mar de desânimo.


Nestas alturas as lideranças fortes dentro de campo e nos balneários aparecem, e a experiência e coesão dos grupos são cruciais.

A deslocação a Aveiro passou a ser desde quarta-feira o jogo mais difícil da época, é por isso preciso ganhá-lo. A revolta dentro das quatro linhas trará serenidade fora delas. Os verdadeiros adeptos apoiam sempre, e temos um clube ímpar nesse inesgotável amor.

Neste momento gostava de um meio campo mais português, com Martins e até Rúben Amorim, mas decisivo mesmo é Jorge Jesus dar a volta a isto. Ele sabe, ele é capaz. Treinadores de bancada todos seremos um pouco, mas como só sei ser adepto, domingo lá estarei a apoiar sem reservas o Benfica.

Quanto maiores forem as dificuldades, maior será o apoio.

In ABola  

Obrigado amigo Benfica 73 

novembro 25, 2010

Crónica Semanal de Leonor Pinhão


Foram-se os dedos mas ficaram os anéis (e como o Real Madrid é inimigo mortal do ‘zapping’)

O responsável pela segurança do estádio do Sporting assegurou a João Moutinho que nada tem a recear na noite do seu regresso a Alvalade. Não o fez, no entanto, de forma directa. Não lhe ligou para o telemóvel para, pessoalmente, tranquilizar o ex-capitão do Sporting o que, convenhamos, não fazia sentido algum e até poderia ser confundido com uma manobra sub-reptícia de intimidação.
O responsável pela segurança do estádio do Sporting fez o que tinha de fazer. Através da imprensa enviou o recado que lhe competia: Moutinho «pode vir tranquilo» porque «ninguém lhe toca».
Ou seja, ninguém toca em Moutinho pela parte que toca ao responsável pela segurança do estádio do Sporting chamado, pela força das circunstâncias, a assumir as responsabilidades inerentes ao cargo que ocupa e, como se não bastasse, acrescidas das responsabilidades morais, que não as suas, pela dramatização inevitável do regresso do jogador à casa que foi sua e que, no Verão passado, o vendeu ao rival amigo do Porto.
Que o Sporting é um clube Porto friendly é um dado adquirido, casta constatar a lista de negócios amáveis verificados entre os dois emblemas.
O que preocupa o responsável pela segurança do Estádio de Alvalade não é, portanto, a iminente visita do iminente adversário. É apenas a visita de João Moutinho o motivo deste quebra-cabeça.
No último jogo em Alvalade, um joguinho para a Taça de Portugal em que o adversário era o Paços de ferreira, noticiaram os jornais que alguns sectores do público se entretiveram a «ensaiar cânticos insultuosos dedicados ao ex-capitão» e que, no fervor do momento, «rebentou um petardo no sector da claque Directivo Ultras XXI» ferindo com alguma gravidade um adepto que «perdeu três dedos».
Depois de José Eduardo Bettencourt ter revelado numa inesquecível entrevista a A BOLA que era descendente do Rei das Canárias e conhecendo-se, historicamente, a origem nobre do Sporting, fundado pelo Visconde de Alvalade, é caso para se dizer que foram-se os dedos mas ficaram, de certeza absoluta, os anéis.
O presidente do Sporting bem pode ser um príncipe das ilhas Canárias da cabeça aos pés e vir agora apelar ao civismo dos adeptos mais descontrolados do seu clube no sentido de evitar que o regresso de João Moutinho a Alvalade não fique marcado por nenhum episódio que venha a envergonhar os adeptos mais controlados do Sporting.
A poucos dias do próximo clássico, José Eduardo Bettencourt desfaz-se em elogios ao carácter e ao profissionalismo do rapaz a quem, no Verão passado, chamou de «maçã podre» entre outras considerações do mesmo teor.
«João Moutinho foi sempre um profissional fantástico», disse. E disse também que «não gostaria de ver atitudes menos correctas em relação a ele».
E é muito provável que continue a dizer coisas do género até se saber se a mialgia de esforço de que padece Moutinho será suficiente ou insuficiente para o afastar do Sporting - FC Porto retirando ao jogo a sua maior e tão aguardada componente bélica e demencial.
Sem ter qualquer culpa no cartório, o responsável pela segurança do estádio do Sporting está viver uma semana difícil. E até deve tremer sempre que o presidente se aproxima de um microfone ou de um gravador de um jornalista

Tempo Útil _ João Gobern


A grande lição

É impossível não vibrar com a vitória, histórica, do Sporting de Braga frente ao Arsenal: numa época em que deixámos – por força de outros “futebóis” – desvalorizar os feitos de David contra Golias, em que veneramos de forma indiscriminada o poder e o armamento, em que os mais desfavorecidos mais parecem empecilhos que nos saem ao caminho, foi particularmente saudável este triunfo.
Desde logo porque não foi fácil, exigindo contenção e paciência, antes das duas cavalgadas de explosão de Matheus até às redes adversárias. Depois, porque veio provar que, como equipa estreante nestas andanças, o vice-campeão nacional demonstrou ser um aluno capaz de aprender rapidamente e de, já ao quinto jogo, saber pensar pela sua própria cabeça e causar algumas dores às cabeças alheias.
Dir-me-ão que o Arsenal tinha jogadores-chave lesionados. Mas não é essa uma das mais estranhas características da equipa comandada por Wenger? Alegarão que houve mexidas na equipa-base. Mas essas são voluntárias e o próprio Braga as fez, deixando no banco Mossoró e o debilitado Sílvio. 

Defenderão que o Arsenal chegou ao Minho praticamente apurado e que deixou correr o marfim, pelo menos até saber que os rivais ucranianos já iam de vantagem alargada.
Mantenho a ideia de que a arrogância, mesmo aquela que se traduz na lentidão de processos e na ausência de uma pressão mais alargada, se combate com inteligência, com determinação e com a consciência das próprias lacunas e mais-valias.
Foi o que fez o Braga, com uma perfeição que nem sequer dá azo a que se evoque a sorte do jogo: primeiro começou a matar lentamente o fantasma de Londres e da meia dúzia; depois, aos poucos, foi contrariando a maior posse de bola do Arsenal com crescente acutilância; finalmente, soube aproveitar o adiantamento do adversário – e a lesão de Eboué, ignorada por um técnico que descuidou as compensações – para jogar o seu maior trunfo, as transições rápidas, personificadas num foguete que passa, num segundo, dos pezinhos de lã para o pé-canhão.

Foi, insisto, um momento para recordar, tanto mais que a campanha interna do Braga está longe do imaculado. Virada à Europa, quase apetecia pedir que a campanha começasse agora – da derrocada londrina, logo na estreia, poucos se livrariam; mas acredito sinceramente que este Braga não voltaria a capitular de forma tão evidente – e porventura decisiva – diante do Shakhtar. Haja sonho. Mas, mesmo sem milagre, com a experiência acumulada, este Braga de Domingos Paciência habilita-se a fazer mossa na Liga Europa. Que assim seja.

PS – Hoje, o Benfica joga a “finalíssima” israelita. Pena não ter visto o jogo de Braga: em humildade, competência e concentração, tinha ali um belo exemplo.

  In Record

O Voo da Águia_ Marta Rebelo


O regresso das quinas

Em fim-de-semana de Taça e com o Benfica-Sp. Braga adiado, dedico estas linhas à reflexão. Haverá quem lhe chame “bater no ceguinho”, “malhar no morto” ou expressões semelhantes. Mas as vacas gordas de quarta-feira passada, como disse e bem Paulo Bento, só dão “prestígio”.

É extraordinária a diferença entre a Seleção que enfrentou a Espanha no Mundial, em junho, e a que se apresentou na Luz para, juntamente com os campeões da Europa e do Mundo, promover a candidatura Ibérica à competição maior do futebol de nações.
Não há volta a dar: Carlos Queiroz deu cabo disto. Sempre afirmei o meu desgosto profundo por ter o professor à frente da Seleção. E tinha razão. Preferia não ter. Preferia não ouvir o CR7 e companheiros a dizer nas entrelinhas “andaram a tramar-nos”. Mas é importante mantermos na memória os últimos dois anos do nosso futebol. Pelo seguinte: os convocados por Paulo Bento são sensivelmente os mesmos, com Carlos Martins, Moutinho, Nani e Pepe recuperados; a estrutura federativa – mal, muito mal – é a mesma. Os resultados, as relações de trabalho e o salário do selecionador é que são outros. Um treinador que não é doutorado senão na sua tranquilidade própria, que saiu do SCP com o clube em baixa mas que desconhece a soberba vaidosa e fala para interlocutores de qualquer altura. Que não segrega à mesa de jantar, estrelas das chuteiras para um lado e roupeiros para outro. E que tinha dois jogos de qualificação para ganhar e uma candidatura para promover – ganhou os três.

Mas a estrada ainda está cheia de buracos. Serão muitos meses sem jogar e a mesma urgência desgraçada em ganhar todos os jogos de sempre. Mas mesmo sem bandeiras à janela, quarta-feira as quinas regressaram à bandeira verde e rubra.

  In Record

novembro 24, 2010

Bloco de notas _ Nuno Farinha


Chegar, ver e vencer

José Mourinho continua o seu caminho em Espanha ao leme daquilo que, até há meia dúzia de meses, parecia estar condenado a não passar de um porta-aviões ingovernável. Hoje, mesmo olhando à distância para o Real Madrid, sem a observação direta das rotinas ou conhecimento do método, o que se identifica é exatamente a mesma receita que JM já aplicara nas passagens de estrondo pelo Porto, por Londres e Milão: ordem, disciplina, planeamento, saber. A isto torna-se ainda obrigatório acrescentar a capacidade que revela para “jogar” fora dos relvados, em batalhas palavrosas que terminam quase sempre da mesma forma. Ou seja, o melhor treinador do Mundo não é apenas produto da competência técnica ou do mérito do treino. Onde a diferença se estabelece verdadeiramente é na forma de liderança e em tudo o que resulta da gestão motivacional. Ficou provado no Dragão, em Stamford Bridge e no Giuseppe Meazza.
OReal Madrid vivia há dois anos debaixo de um preocupante complexo de inferioridade relativamente ao Barcelona, à qualidade do seu jogo e às suas conquistas. Só um fora-de-série seria capaz de rapidamente eliminar esse estado de angústia que atormentava os adeptos merengues. Na próxima semana, no clássico da Catalunha, terá início a segunda etapa da “volta” que José Mourinho está a dar a Espanha. Para já, é um justo camisola-amarela.

Continuando em Mourinho: ainda se recorda do raide que Gilberto Madaíl fez a Madrid para tentar contratar o treinador do Real? A hipótese oferecia um aspeto – digamos – duvidoso. Num primeiro momento, quando a informação ainda escasseava, até era possível pensar que estávamos perante um gigantesca operação de marketing preparada a partir do posto de comando da Federação Portuguesa de Futebol As interrogações terminaram quando o próprio Mourinho falou. “Sim, é verdade. Sim, estou a pensar no assunto. Sim, gostava muito de treinar Portugal”. Existia mesmo, afinal, um plano de salvação nacional que consistia em ter o técnico à frente da Seleção por três jogos: Dinamarca, Islândia e Espanha. Percebia-se o objetivo: tocar as campainhas todas ao mesmo tempo, fazer disparar os níveis gerais de motivação, garantir os seis pontos em disputa e deixar uma boa imagem – a melhor possível – no jogo frente aos campeões do Mundo. Madaíl acreditou que só um homem estaria à altura dessa missão. Não seria agora boa altura para pedir desculpa a Paulo Bento e reconhecer que aquela viagem a Madrid era, afinal, despropositada?
Tocar em projetos e transformá-los quase de imediato, dando-lhe uma expressão própria, é pois o desafio que só pode estar destinado aos grandes, como Mourinho ou Bento. E nessa perspetiva há um outro nome para acrescentar à lista: André Villas-Boas. O FC Porto que foi capaz de reinventar já começa a ser um caso sério no domínio da estética – por comparação, até, com as maiores potências europeias. O que mais impressiona nem é o número de vezes que ganha. É como ganha. É por isso que tem o destino traçado: Inglaterra, Espanha ou Itália. A Liga Zon Sagres vai tornar-se rapidamente num espaço muito pequenino para quem exibe, aos 33 anos, tão elevada qualidade.

  In Record

Email Aberto _ Domingos Amaral


O queque azul

From: Domingos Amaral
To: Rui Moreira

Caro Rui Moreira
Na última crónica, em p.s., sugeri que o senhor se colocasse a 20 metros, para eu lhe atirar bolas de golfe, tal como os Super Dragões fizeram ao Roberto. Era uma provocaçãozinha brincalhona, uma bravata inofensiva, mas não era um insulto pessoal. Para meu espanto, e qual fidalgo atingido pelo ferrete da desonra, o senhor rebentou de raiva ao ler-me. Na sua prosa do jornal “A Bola”, perturbadíssimo, dispara-me uma rajada de insultos. Espuma, e nem refere o meu nome; bufa, e chama-me “vintém”; vocifera, e diz que de mim “exala um terrível fedor”; e por fim explode, acusando-me de “proselitismo anacrónico, patético e provinciano”. 

À avalancha de palavreado, e à excitação, indignadíssima mas totalmente desnecessária, não tenciono responder na mesma moeda. O chá que em pequeno me deram a tomar teve, até certo ponto, o seu efeito. Não lhe envio de volta adjetivos grosseiros, nem insultos pessoais. Ao contrário do senhor, não perco a cabeça e as maneiras por dá cá aquela palha.
Não resisto, porém, a espetar-lhe um ferro curto. Diz o senhor que “não há pachorra” para mim. A expressão lembrou-me certas tias queques e os seus muito afetados lamentos, do tipo “ai filho, não há pachorra!”.
É o que o senhor é, não é verdade? Um queque, um queque azul. Ora, é precisamente por causa de tiques desses que duvido das suas ambições presidenciais no FC Porto. O povo azul e branco sempre desconfiou dos queques, por mais esforçados que eles fossem. O último que chegou a presidente teve o destino que todos sabemos.

  In Record

Por força da lei _ Ricardo Costa


Os "senadores" do futuro

As recentes declarações públicas de Vítor Baía e o “regresso” de Nuno Gomes fazem-nos refletir sobre o valor do jogador na estruturação próxima do nosso futebol. Pelo menos este tipo de jogador, de uma geração de futebolistas com outra formação, outra noção da “responsabilidade social”, outro mundo e, em alguns casos, com independência económica suficiente para se desprender do futebol estritamente jogado (como treinador, por exemplo). Uma geração capaz de, uma vez acompanhada por profissionais competentes, aproveitar carisma e prestígio para conferir dimensão e conhecimento a muitos gabinetes. Figo, Rui Costa, Fernando Couto e Costinha estão a fazer o seu caminho e a aprender. Como, noutro nível, estão Carlos Carneiro (no Paços de Ferreira) e Pedro Roma (na Académica). Como voltarão a estar, com mais acerto, Paulo Sousa, Pedro Barbosa e Sá Pinto. É possível ver um “movimento” destes “senadores”, que caracterizará o futebol dos próximos 25 anos e o afastará da “cultura” dominante dos últimos 25 anos. O mesmo “movimento” que, entre outros, fez de Beckenbauer e Rummenigge o que conseguiram ser depois do relvado. 

Vítor Baía terá, mais cedo ou mais tarde, “um futuro” substancial no clube do coração, onde tem um estatuto inigualável, depois de invariavelmente considerado e valorizado, anos a fio, nos escritórios das Antas. Além de idolatrado pelos adeptos. Percebemos que almeja voltar ao local onde foi feliz, para outras funções e para um outro aproveitamento da sua figura. Deverá continuar a adquirir ferramentas e mais-valias e a concitar apoios de sectores vitais para o crescimento do FC Porto. E regressará numa outra fase – um destino inelutável para quem sente e simboliza (em títulos) o clube como ninguém.
Quando se vê agora a discussão sobre o afastamento de Nuno Gomes das escolhas de Jorge Jesus vem-me sempre à cabeça a longevidade dos jogadores que alinham em Itália – não só italianos: ainda hoje ver a classe madura de Seedorf a progredir nas transições e as correrias sincopadas de Zanetti é motivo para nos perguntarmos sobre a valia dos “limites etários” que o futebol engendrou. Não são repetíveis por si só noutras latitudes e noutros atletas. Há 15 anos, quando estudei em Itália, o fenómeno era essencialmente o mesmo. Ver então Del Piero, o exemplo de um jogador “amarrado” à cultura de um clube, a despontar como um fora-de-série e vê-lo agora na Juventus é (apenas) uma outra confirmação. Prognosticar hoje o devir de Del Piero diz-nos que, em vez de querer tirar de Nuno Gomes mais do que ainda tem de útil para dar no campo (como Figo deu no Inter de Mourinho), interessa vislumbrar o futuro de Nuno Gomes fora do campo.
Talvez por essa altura seja já o tempo de Vítor Baía. Um tempo, desde logo, em que os dirigentes não comuniquem por intermédio de um dicionário desconhecido da língua portuguesa. Um tempo onde se respire melhor no futebol, com o respeito próprio de quem passou muitas horas a partilhar relvados, balneários e estágios. A partilhar o jogo e as ideias. A partilhar toda uma vida.

  In Record

novembro 21, 2010

Aqui á Gato _ Miguel Góis


Mais mentiras

É de uma assinalável humildade a teoria expressa por André Villas-Boas segundo a qual o FC Porto podia ter sido campeão na época passada, se o Hulk não tivesse sido castigado. Está-lhe subjacente a ideia de que, como treinador, ele não veio acrescentar nada ao FC Porto do ano passado, e ao rendimento do Hulk em particular, que não estivesse já lá, na era Jesualdo. Tem andado, portanto, a folgar, o André. Só não se percebe, então, tanto elogio ao seu trabalho. Mas não me interpretem mal: pessoalmente, também tinha curiosidade em ver o Hulk de 2010/11 a jogar na época 2009/10. Trazia um toque de ficção científica ao campeonato português.

Mas há sobretudo uma nota de fantasia e sonho nesta teoria do jovem treinador. É possível até que Villas-Boas tenha tanta perspicácia na análise de tabelas classificativas como na observação de lances polémicos dentro da grande área adversária. Analisemos os factos, esses desmancha-prazeres: fazendo as contas – e tendo em mente que, antes de Hulk ser castigado, o Benfica levava uma vantagem de quatro pontos em relação ao FC Porto e que, a partir daí até ao final, só perdeu cinco pontos (empate em Setúbal e derrota nas Antas) –, seria necessário que o FC Porto vencesse todas as partidas – repito, todas as partidas – da segunda volta do campeonato para que se pudesse sagrar campeão nacional.
Ora, hoje em dia, toda a gente concorda que o FC Porto está a fazer uma época excecional e nem assim conseguiu esse feito: em 11 jornadas já têm um empate. Ou seja, a modéstia de Villas-Boas é ainda maior do que supunha: na verdade, o treinador assume, sem assombros, que o FC Porto de Jesualdo, não fosse o castigo de Hulk, poderia ter sido bem superior ao seu. Quem diz que não há fair play no FC Porto?

  In Record

novembro 19, 2010

Artigo de Opinião _ Sílvio Cervan


Contra o adiamento

Muitos adeptos do Benfica ficaram contentes com o adiamento do jogo da Taça contra o Braga. O momento do Benfica por um lado, algumas lesões por outro e ainda mais tempo para preparar o jogo de Telavive fazem um cardápio suficiente de razões.

Eu estou contra. Contra por todas as razões, primeiro este alarido com uma cimeira da NATO parece-me excessivo e algo provinciano para adiar uma festa de futebol, depois o momento do Benfica precisa é de vitórias e não de dias intermináveis sem jogar, e por fim o Braga parece, esse sim, no seu pior momento. Acresce que o melhor jogador do Braga, Alan, estaria castigado e não poderia jogar amanhã. Eu queria era jogar, eu precisava era de ganhar. Dia 12 de Dezembro é muito longe, e depois da segunda parte contra a Naval (não gostei nada da primeira) o que mais falta faz ao Benfica é consolidar a confiança ganha com os 4-0.

Gaitán está a crescer, Salvio está melhor e o Benfica pode trazer de Telavive um resultado que lhe permita discutir no jogo com os alemães do Shalke 04 (esse sim decisivo) um lugar na elite europeia de clubes.


O golo de Nuno gomes no último jogo não faz dele nem melhor nem pior jogador, mas ajuda-o a definir enquanto profissional do Benfica e na sua efectiva relação com os adeptos. Nuno Gomes deu sempre o máximo em todos os minutos que vestiu a camisola do Benfica, foi sempre um exemplo, e mesmo nos momentos mais difíceis soube dar a cara e minorar as perdas. Ninguém é eterno, mas ninguém deve ser ingrato e Nuno Gomes será para sempre um dos «nossos» mais queridos.

Paulo Bento não precisa de ser sempre tão modesto. Foi ele que revitalizou a Selecção, foi ele que deu esperança e orgulho a um conjunto esfrangalhado. Convocou os melhores, dando o exemplo de chamar mesmo alguns com quem tinha tido problemas. Mostrou competência e carácter num futebol cheio de répteis, é bom ver quem tem coluna vertebral. A vitória sobre a Espanha é toda de Paulo Bento.

In ABola  

Obrigado amigo Benfica 73 

novembro 18, 2010

Funes Mori por época e meia


Funes Mori por época e meia

Funes Mori vai ser avançado do Benfica a partir de janeiro e durante pelo menos o próximo ano e meio, numa operação que ascende aos 8 milhões de euros.
O avançado do River Plate está a caminho da Luz através de uma parceria financeira com Kia Joorabchian, empresário anglo-iraniano que também esteve envolvido na época transata na contratação de Ramires. O dia de ontem tornou-se decisivo para a captura de Funes Mori. Tal como Record adiantou oportunamente, o emblema presidido por Daniel Passarella não queria “despachar” este dossiê antes do jogo com o Boca, que acabou por sorrir aos Milionários. Finda a partida, Kia Joorabchian entrou em ação e assegurou os préstimos de Funes Mori, ganhando a corrida a diversos emblemas da Europa, entre eles o Atlético Madrid, Sevilha, Valencia, Saragoça, Juventus e Fiorentina.
O River Plate rejeitara nos últimos dias uma proposta que lhe fora endereçada pelo representante do clube da Luz no valor de 6 milhões de euros, o que obrigou Kia Joorabchian a elevar a fasquia. O empresário conseguiu um princípio de acordo por 8 milhões, verba que pode não corresponder à totalidade do passe.

Oficialização. O negócio já está “controlado” pelas águias, pese o vínculo contratual não ter ainda sido assinado. Desconhece-se, por enquanto, a duração do contrato que ligará Funes Mori ao Benfica, embora já exista a garantia do investidor, Kia Joorabchian, que o atacante permanecerá pelo menos um ano e meio na Luz – mesmo que o contrato seja mais longo.

Exemplo. A transferência de Ramires para o Chelsea espelha fielmente o género de negócio que redunda agora na chegada de Funes Mori. Kia Joorabchian também havia financiado a contratação do brasileiro, que assinou por cinco épocas mas saiu no final da primeira.

  In Record

Tempo Útil _ João Gobern


Excessos e deslizes

Se todos pararmos um minutinho que seja, julgo que ficaremos fortemente habilitados a responder à pergunta: a quem interessa a guerra de palavras entre as direções do Vitória de Guimarães e do Sporting de Braga? A ninguém, claro. Parece óbvio que, tudo somado, mesmo com eventuais deslizes pontuais de João Ferreira, os vitorianos têm mais razões de queixa da arbitragem do que os arsenalistas. E esse desequilíbrio passa sobretudo pelo golo validado quando é visível nas imagens que Alan se coloca – e está parado – em posição de off-side quando o livre é batido. Depois, sempre com o mesmo protagonista, eventualmente nervoso por causa do regresso a uma casa que já foi sua, a expulsão não oferece dúvidas: é agressão, pura e simples, intencional, transparente. Daqui para a frente é tudo excesso.

Antes de mais nada e acima de tudo da parte de António Salvador, um presidente que não se estreia em manifestações de mau perder. A exigência de explicações por parte de Vítor Pereira é tão ridícula como aquela que foi protagonizada, no mesmo estádio, por André Villas-Boas. Com uma diferença: o técnico portista assumiu um raríssimo “mea culpa” enquanto o presidente bracarense decidiu partir para um bate-boca desnecessário e incendiário com o seu homólogo de Guimarães. Atarefam-se a descobrir lances duvidosos para dessas dúvidas partirem rumo às certezas. Insisto: ninguém fica a ganhar com uma “guerra civil” minhota. O Vitória sabe que, subindo ao pódio, passa a ser um alvo a abater por todos, dos poderosos aos que lutam pela sobrevivência. Já o Braga faria melhor em preocupar-se com a continuidade europeia e com um qualquer arrepio de caminho a nível interno. Seria impensável imaginar o vice-campeão da época passada afundado na segunda metade da tabela – é décimo à 11.ª jornada – e atrás de clubes de orçamento bem mais modesto (Nacional, Beira-Mar, Olhanense, União de Leiria e Académica). O que parece ser suficiente para Domingos perder não só a paciência como a atitude de cavalheiro, que lhe assenta muito melhor.

Jorge Jesus parece hoje um homem mais nervoso, mesmo quando ganha. Esperava-se do treinador uma palavra especial para o seu capitão, não só por marcar um golo ao fim de três minutos como pelo significado especial – a dedicatória ao pai – que todos presenciaram. Aquele “eu é que sei”, digno de um acossado, caiu tão mal como a entrada em campo de César Peixoto – ambos eram escusados.
Já agora, fica uma dúvida: em tempo de amigável e com Liedson de baixa, não teria sido este o momento de uma convocatória de João Tomás? Marcou 7 dos 11 golos do Rio Ave, é o melhor português entre os goleadores, continua a mostrar “fome de bola”. Não poderia ter sido premiado?

 In Record

novembro 16, 2010

O Voo da Águia_ Marta Rebelo


A noite de Gaitán

Esta semana muitas pessoas me perguntaram se tinha deixado de gostar do mister, dado o fim do namoro que aqui ditei no rescaldo do Dragão. Gosto muito do mister, e acho muito bem que Luís Filipe Vieira afirme que JJ “não está a prazo”. Para mim, apesar da emotividade com que vivo o meu Glorioso, ninguém passa de bestial a besta assim. E vice-versa. Mas o mister errou.

Ontem foi uma noite de constatações. Há algumas verdades populares incontornáveis e uma delas é que em equipa vencedora não se mexe. Sem capitão mas com quase toda a gente no lugar, vencemos a Naval por 4-0. Não sem esforço de Roberto que, mais de 600 minutos depois, acho finalmente bestial. Mas o ponto de interrogação foi-me perseguindo partida afora. Saviola fez o que só ele sabe e na 5.ª assistência para golo serviu Kardec aos 10’: mister, por que raio ficou El Conejito no banco, há uma semana? 5’ depois Gaitán assiste Aimar, e lá vem a interrogação: mister, por que é que no Porto o Gaitán só entrou após o intervalo? E a questão ganhou força aos 47’ e aos 62’, com dois belos golos do argentino.
A Naval nunca se resignou, mas se no Dragão metemos água ontem nem a vencer por 3 pusemos água no jogo. O nosso meio-campo recuado ressentiu-se da falta de Javi e mostrou pouca consistência, e o contra-ataque trouxe-nos perigo. Airton não ocupa espaço, não trava ou recupera como Javi. Confirmaram-se as parcas competências de Sidnei e David Luiz ainda está de cabeça perdida. Mas, como dizia o meu amigo António Machado, velha glória do Benfica de Castelo Branco, a noite era de Gaitán. Provou-se que o flanco esquerdo, com a dupla
Coentrão/Gaitán, faz bonito e não vale a pena inventar. Nuno Gomes entrou, marcou e chorou. Aos 89’ chorei com o 21. A noite acabou em festa grande. Até Aveiro.
 In Record

Email Aberto _ Domingos Amaral


Tiro ao Roberto

From: Domingos Amaral
To: Comissão de Disciplina da Liga

Caros Comissários de Disciplina,
Pelos vistos, os senhores nunca pegaram numa bola de golfe, mas eu explico-lhes o que é uma bola de golfe: um objeto pesado e duro, que atirado a alta velocidade e a uma curta distância, se pode tornar numa arma mortífera. Pelos vistos, os senhores nunca levaram com uma nas costas, ou na cabeça, e portanto não acham isso muito grave. Contudo, o que se passou no passado domingo no estádio do Freixo foi um ato gravíssimo de violência, um atentado ao desporto.
Não viram? Eu conto: a claque dos Super Dragões, um bando de energúmenos e cobardes, atirou uma saraivada de bolas de golfe na direção do guarda-redes do Benfica. Esses perigosos projéteis não só perturbaram o Roberto, como o atingiram nas costas, tendo o jogo sido interrompido e ele assistido. A sua integridade física foi posta em causa, e só por acaso os danos não foram mais graves. Caso os senhores não saibam, se uma das bolas lhe tem acertado na cabeça, o guarda-redes do Benfica poderia estar hoje ferido gravemente, incapacitado para a sua profissão, ou até pior. Mas, é óbvio que para os senhores nada disto é grave e não merece mais que uma mísera multa.
Noutro país, o estádio do Freixo ficaria interdito uns jogos, mas os senhores voltaram a ser um órgão manso, cobarde, e nas mãos do FC Porto. E é graças a pessoas como vocês que a onda de violência azul e branco não vai parar.
PS: Srs. Miguel Sousa Tavares e Rui Moreira, têm coragem para se colocarem a 20 metros de mim, para eu vos atirar bolas de golfe? Pois, bem me parecia...

In Record

Bloco de notas _ Nuno Farinha


Nós é que sabemos disto

Mais ou menos à mesma hora em que Luís Filipe Vieira garantia, na Nazaré, que Jorge Jesus não estava “a prazo” no Benfica, um grupo de adeptos “encontrava-se” com o treinador no Seixal para uma inédita conversa em pleno treino.
Desta vez quem exigia ser ouvido já não eram apenas os 2 ou 3 sócios que foram ao aeroporto mostrar indignação no dia da partida para Angola. Ontem, em dia de sessão à porta fechada, 100 benfiquistas entraram pelo centro de estágio e chegaram ao local onde a equipa trabalhava. Falaram com Jesus, com os jogadores e abandonaram tranquilamente as instalações depois de terem “desabafado”. “Não houve interrupção nenhuma. Cinquenta pessoas quiseram assistir à parte final do treino, Jorge Jesus autorizou e depois falaram com ele”, explicou João Gabriel, diretor de comunicação.
Não se compreende a forma como o Benfica pretende transformar esta “romaria” ao Seixal numa situação de absoluta normalidade, como se tal fosse possível. Nunca 100 adeptos foram ao Seixal tentar assistir a um treino que supostamente deveria realizar-se à porta fechada (em véspera de jogo). E se foram, não entraram. E se entraram, não falaram com treinadores nem jogadores. O Benfica admite que o seu treinador consentiu que os adeptos – a maior parte deles ligados à claque No Name Boys – assistissem ao treino, mas essa versão, oficial, acaba até por ser um precedente perigoso que fica aberto, porque daqui em diante será mais complicado deixar à porta sócios que pretendam igualmente sentar-se nas bancadas do Caixa Futebol Campus.

De que pode resultar, afinal, este desencanto corporizado na inesperada visita de ontem? A goleada no Dragão, por mais humilhante que tenha sido, justifica este sinal de descontentamento ou os 5-0 terão sido apenas a gota de água que faltava para fazer transbordar o copo? Há um ano, com o Benfica a ganhar, Jesus podia mandar um adepto calar-se (e chegou a mandar mesmo) durante um treino. Hoje, pelo que se vê, a situação ameaça perigosamente inverter-se. O treinador deixou de ser intocável e só os resultados podem devolver-lhe o crédito – por mais votos de confiança que receba do presidente.
Os últimos tempos têm sido um calvário para JJ, mas ele também tem feito por isso. Um treinador responsável não pode chegar a novembro ainda a lamentar a perda de dois jogadores vendidos no Verão, como se os outros – os que ficaram e os que entraram – só servissem para fazer número. Nem pode passar os dias a chorar a ausência de Cardozo e esperar que Kardec ou Saviola finjam que não ouviram nada. Jesus gosta de desafiar os jornalistas e tratá-los de forma altiva, assim ao estilo “vejam lá se aprendem um bocadinho comigo, porque o catedrático sou eu e vocês não percebem nada disto”.
Em entrevista à SIC, em março, quando o Benfica estava a um passo de conquistar o título, Vieira, mais do que um Jesus, via quase um Deus à sua frente: “Todos os dias falo com ele, seja à meia-noite ou às duas da manhã. Uma das últimas contratações surgiu após uma conversa telefónica mantida à uma e meia da manhã. Ele irá ficar muitos anos no Benfica.” É a velha história do amor: é eterno enquanto dura.

In Record

novembro 15, 2010

Aqui á Gato _ Miguel Góis


Grito de serenidade

Não nego que os primeiros três golos me custaram horrores. A partir daí, assisti ao avolumar da goleada com outra dignidade e valentia: é incrível como se torna suportável ver a nossa equipa ser humilhada, quando o fazemos ao colo da nossa mãe.
É, por sinal, muito mais difícil confrontarmo-nos com o facto de este ter sido o terceiro banho de bola consecutivo que o Benfica levou do FC Porto (Dragão, Aveiro, Dragão), sem que se vislumbre uma superioridade técnico-tática que o justifique.
Não é que, pessoalmente, não tenha também muito receio dos remates do Hulk. Mas isso sou eu, que, quando vou ver os jogos ao estádio, fico sentado na bancada. Ali, mesmo a pedi-las.

É possível que a chave da superioridade do FC Porto nos embates com o Benfica esteja no tão propalado “grito de revolta” – e o campeonato da revolta é um que o clube da Luz nunca ganhará. A revolta é a marca dos pequeninos. São sempre os pequenos que se revoltam contra os grandes, e não o contrário. O Benfica é o que os outros querem ser, quando crescerem: vai-se revoltar contra quem, se não tem ninguém em cima? Contra o Norte? O Norte nunca nos fez mal nenhum, para além de estar pejado de bons benfiquistas. É certo que a Beira Alta sempre me enervou um bocadinho, mas é uma coisa mais minha…
Dito isto, esta semana, só encontrei consolo no Almanaque do Benfica – Edição Centenário, especificamente no testemunho de Rui Águas sobre a época de 1986/87: “É curioso dizer que essas duas derrotas [contra FC Porto e Sporting], com incidência para a do Sporting [por 7-1] acabaram por nos lançar para a vitória no campeonato e para a Taça. Ainda por cima, na Taça, voltámos a encontrar o Sporting. Aí, com a humilhação bem fresca na nossa memória, ganhámos” (pág. 409). Pelo sim, pelo não, é melhor os benfiquistas encherem o Estádio da Luz amanhã.

 In Record

Época 2010/2011 SLBenfica _ Naval


Benfica vence (4-0) Naval e sobe ao segundo lugar

Benfica apagou desaire no Dragão com vitória por 4-0 na recepção à Naval. Kardec abriu o activo, Gaitán bisou e Nuno Gomes, que entrara aos 86 minutos, marcou aos 89 e deu o segundo lugar na Liga aos encarnados.

Clique aqui para consultar a ficha de jogo, as incidências da partida, os comentários, as estatísticas individuais e as estatísticas de equipa.

Golo “madrugador” de Kardec – desvio na área após assistência de Saviola - abriu uma primeira parte que se revelaria repartida e disputada em ritmo de parada e resposta.

A Naval apresentou-se na Luz em posse da “lanterna vermelha”, mas a exibição rubricada nos primeiros 45 minutos dificilmente deixaria adivinhar a posição dos figueirenses na tabela classificativa.

Perante um Benfica trémulo nas manobras defensivas – notou-se a falta de Javi García no miolo do terreno – e incapaz de chamar a si o domínio das operações, a equipa de Rogério Gonçalves bateu-se sempre de igual para igual, encarando o campeão nos olhos.

Se é verdade que Salin foi chamado a aplicar-se para negar o segundo golo dos encarnados, não é menos verdade que Roberto viu rondar o perigo em várias ocasiões. Em duas delas, a bola embateu no poste esquerdo da baliza do guardião espanhol.

O início da etapa complementar abriu com o segundo golo do Benfica. E que golo! Disparo fulminante de Nico Gaitán, aos 47 minutos, voltou a bater um inspirado Salin. O guarda-redes francês, desta vez, nada podia fazer para travar a marcha vitoriosa da bola.

Assim como nada podia fazer para impedir o terceiro golo das águias e o segundo da conta pessoal de Gaitán. Cruzamento milimétrico de Salvio – exibição convincente do médio argentino – e remate de primeira do 20 encarnado para o fundo das redes.

Ao contrário da primeira parte, o Benfica foi “mandão” na etapa complementar e, valendo-se de um futebol envolvente, não consentiu grandes veleidades à equipa da Figueira da Foz.

O jogo teria final emotivo. Nuno Gomes entrou para os instantes finais, ainda a tempo de fechar a contagem na Luz e garantir o segundo lugar na classificação - mais um golo marcado que o V. Guimarães.

O capitão, autor do golo 200 na presente edição da Liga, não evitou as lágrimas, foi acarinhado pelos colegas e ovacionado pelos cerca de 30 mil adeptos que estiveram nas bancadas da Luz.  



novembro 13, 2010

Artigo de Opinião _ Sílvio Cervan

Benfica perdeu e perdeu bem no Dragão

Se o Benfica persistir nas comparações com a última época, em vez de melhorar o seu desempenho nesta, vai ter dificuldades em atingir os objectivos que ainda tem nesta temporada, e são muitos e importantes.
Embora a reconquista do título já tenha ficado comprometida na fruta servida na sobremesa da homenagem a Olegário que antecedeu a deslocação a Guimarães, a verdade é que o Porto tem sido uma equipa tacticamente evoluída e o seu treinador é merecedor de elogios. Já aqui escrevi, na altura contra a corrente, que no último ano a Académica nos jogos contra o Benfica jogou do futebol mais positivo e conseguido que tinha visto. Tenho pena que haja quem prefira elogiar aqueles que conseguem um pontinho com o autocarro em frente da baliza, muito antijogo e muita sorte em vez daqueles que arriscam a praticar bom futebol. Eu quero uma vez mais reiterar o apreço por Villas Boas como treinador.

Jorge Jesus não esteve feliz nas opções tomadas no último jogo, mas foi Jorge Jesus quem nos deu o melhor Benfica dos últimos 10 anos e será ele que ainda esta época nos trará vitórias e títulos. Evitar a sportinguização do Benfica parece prioritário para quem leu os jornais desta semana. Urgente por agora é ganhar à Naval.
Não são capas panfletárias, nem psis de pacotilha que farão o clube chegar aos seus objectivos. Vinte jogos de campeonato, uma Taça de Portugal, uma Taça da Liga e a mais importante competição europeia de clubes parece suficiente como caderno de encargos.

Compro e leio todos os dias A BOLA, a partir de amanhã sem a crónica de Ricardo Araújo Pereira tiraram-me o meu garantido sorriso de sábado, fiquei privado de ler um amigo que admiro, mas sobretudo perdeu o Benfica e os nossos leitores um dos seus mais brilhantes e talentosos advogados. Que seja um parêntesis, que volte o sorriso da leitura e as vitórias com brevidade que nós merecemos.

In ABola  

Obrigado amigo Benfica 73 

Crónica Semanal de Leonor Pinhão


Dez pontos é muita fruta

“O Benfica é como eu, vai ao Porto para não fazer nada e comer bem”
MIGUEL ESTEVES CARDOSO

“O Coliseu do porto, por estar inteiro, é muito melhor do que o Coliseu de Roma que está numa ruína.”
In O LEÃO DA ESTRELA

FAZENDO fé no que surgiu estampado nas primeiras páginas vinte quatro horas depois do clamoroso episódio de falência técnica do Benfica no Porto, a SAD do Benfica estabeleceu para Jorge Jesus um caderno de encargos que, a não ser cumprido, significará o fim do percurso do treinador no Estádio da Luz.
Curiosamente, o diário francês L’Équipe, que é um colosso da informação desportiva mundial, já produzira na sua edição on-line de segunda-feira um lapso embaraçante para Jesus, para o Benfica e… para o Sporting, referindo-se ao treinador campeão nacional como l’entraineur des lions, ou seja, o treinador dos leões, quando, em boa verdade, Jesus ainda é o treinador do Benfica e ainda não é o treinador do Sporting.
Regressemos ao tal caderno de encargos até porque, e já se passaram outras 48 horas, ainda não foi desmentido nem nos seus pressupostos nem nas suas consequências anunciadas com tanta gravidade e pompa.
O que não deixa de ser bem menos preocupante para Jorge Jesus do que para a própria SAD do Benfica que passa pelo vexame de não se poder reunir em legítimo conciliábulo sem que as conclusões a que chegou não pulem, no ápice, para o domínio público quando deveriam ser de natureza privada.
A não ser que fosse precisamente essa a ideia, o que ainda é mais preocupante porque não há nada a ganhar em eleger publicamente como tema exclusivo da temporada, quando faltam sete meses para o fim da dita temporada, a questão da continuidade do treinador em função de três objectivos desportivos menores.
É que Jorge Jesus, segundo a imprensa, está obrigado a garantir o segundo lugar no campeonato nacional, a eliminar o Sporting de Braga da próxima jornada da Taça de Portugal e a qualificar-se para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Ponto por ponto… enfim, vá lá saber-se o que é que terá passado pela cabeça dos nossos dirigentes para virem a terreiro com estas anormalidades.
Se o Benfica fosse o Sporting, e comprovadamente não é, compreendia-se a eleição do objectivo segundo lugar como um desígnio estimável. Paulo Bento, por exemplo, foi forever durante quatro segundos lugares seguidos e só deixou de o ser quando, bem no princípio da época passada, se percebeu claramente pelo avolumar do atraso que lhe seria impossível conquistar a adorada posição final.
S o Benfica fosse o Vitória de Guimarães e, com o devido respeito, não é, justificava-se o afã de eliminar o grande rival minhoto, o Sporting de Braga, na ronda que aí vem da Taça de Portugal, tanto mais que Guimarães, que agora está por cima, penou a bom penar no ano passado vendo os vizinhos de Braga a subir quase até ao céu, o que deve ter constituído um sofrimento atroz.

A queda anunciada de um jornal

Hoje é um dia negro para o jornalismo desportivo português.


“A Bola”, que eu tinha como referência desde os meus 8 anos, que me habituei a ver como o jornal desportivo, que devotamente comprava dia após dia, deitou por terra anos e anos de história, tomando uma atitude que só pode envergonhar quem a dirige, e quem lá trabalha.

Sinceramente, tenho vontade de remeter para a casa de banho as páginas sobre os jogos do centenário (que fui guardando), repletas de magníficos textos sobre a democracia, sobre a liberdade e sobre a luta anti-fascista no desporto.
Tudo aquilo deixou de fazer sentido num jornal que, 36 anos após o 25 de Abril, não resistiu à mais reles censura.

Pior que uma censura política, uma censura de amigalhaços, uma censura saloia, uma censura que desrespeita milhares de leitores e o legado que homens como Ribeiro dos Reis, Cândido de Oliveira ou Vítor Santos edificaram na Travessa da Queimada.

Ricardo Araújo Pereira (que eu tenho o prazer de conhecer pessoalmente, e por quem tenho a mais profunda admiração enquanto humorista, cronista desportivo e cidadão português), e José Diogo Quintela (com quem nunca falei, mas, embora sportinguista, sempre respeitei, porque também ele, mesmo defendendo o seu clube, e atacando por vezes o meu, sempre se soube dar ao respeito), foram afastados do jornal.

Sim, foram afastados, pois quando se corta o texto de alguém, está-se a apontar-lhe a porta da saída.

Tanto um como outro desmontaram perspicazmente, nos últimos meses, a colecção de incoerências, disparates e superficialidades que Miguel Sousa Tavares se entretém a escrever às terças-feiras nas mesmas páginas, e a reacção deste (que não sabe fazer mais nada na vida além de ser polémico e arvorar-se em dono de uma razão que quase sempre desconhece, vivendo, provavelmente bem, destas suas intervenções mediáticas, e dos medíocres romances que vai escrevendo) passou rapidamente da resposta para a calúnia, da reacção para o insulto, da discussão para a má educação (chegando a chamar-lhes cães rafeiros, entre outros vitupérios), nada ao nível daquilo que a sua mãe, e também o seu pai, nos habituaram enquanto pertenceram ao mundo dos vivos.

Esperava que, mais dia, menos dia, o próprio MST, em coerência com as ameaças que foi fazendo, ou pelo menos envergonhado com a forma como não soube encaixar as suas próprias insuficiências, abandonasse o jornal – afinal de contas o que fez Rui Moreira, num programa de televisão que também não lhe agradou.

Mas esperava em vão, pois, ao contrário deste último, MST vive daquilo, e obviamente nunca iria largar o osso.

O que nunca me passou pela cabeça é que fosse “A Bola” a dirimir este conflito, e a fazê-lo da forma mais canhestra possível, premiando a mais rasteira má educação, em nome sabe-se lá de quê – amizades pessoais? vendas da terça-feira? outra coisa qualquer?

Envio um forte abraço de solidariedade para com a dupla de comentadores atingida por este acto censório, na certeza de que não demorarão muito tempo a encontrar um espaço mais merecedor do seu talento e da sua criatividade, onde, de imediato, estarei pronto para os voltar a ler.

E lanço o desafio a Sílvio Cervan, Fernando Seara e Leonor Pinhão, para que reflictam sobre a sua presença num jornal que se prostitui desta forma, tornando-se, ele próprio, num jornal rafeiro.

Lamento, mas não vou voltar a comprar “A Bola”. Para Vítor Serpa (ou lá quem foi a alma que tomou esta estúpida decisão) não será importante perder um leitor. Mas para mim, é importante deixar de o ser.
Luís Fialho in 'Vedeta da Bola'

Fica o texto, censurado, de Quintela, no qual, diga-se, não chama "rafeiro" a ninguém:

"Na 3ª feira, Miguel Sousa Tavares insinuou que eu e o Ricardo Araújo Pereira costumamos corrigi-lo por ele ter sido o único convidado, além do Presidente da República, a não ter vindo ao “Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios”.

O Ricardo desmentiu ontem essa tese de vendetta e julgo não ser necessário voltar a referir as inúmeras pessoas que também não aceitaram o nosso convite, pessoas que não costumamos corrigir.

Talvez porque não tenham por hábito defender teses absurdas e incoerentes sobre o Apito Dourado. Por outro lado, há muita gente sobre quem costumo escrever e que foi ao programa. José Sócrates e Passos Coelho, por exemplo.

Deve ser para lhes pagar o favor de terem aceite o convite. Acha MST que hoje diremos que o convite foi um erro e que não sabemos porque o convidámos. Acha também que sabe bem porque é que não aceitou. Engana-se.

Para já, não foi erro nenhum, sabemos bem porque o convidámos: para ele fazer o que faz aqui, mas na televisão, que é mais espectacular. Depois, palpita-me que ele já não sabe porque recusou: aquilo passou-se há um ano, tempo mais que suficiente para MST entretanto ter mudado a sua convicção.

Entretanto, pela segunda vez num ano, MST tenta intimidar-me por causa do que escrevo nestas crónicas. Em Janeiro pediu a Pinto da Costa para que me processasse.

Desta vez, vitimiza-se e ameaça abandonar a sua crónica n’A BOLA, pretendendo que o Ricardo e eu sejamos responsabilizados pela sua saída. Depois das queixinhas, uma ameaça de amuo. Que birra se seguirá? Suster a respiração? Que outras traquinices tem MST em carteira para me sensibilizar?

Não gostava que MST deixasse de escrever aqui. Gosto de o ler. Quero que, entre outras coisas, continue a dizer que, quando Porto lhe pagou uma viagem, Calheiros estava reformado (a sério, não sei mais o que faça para desmentir isto.

Trazer cá o homem? Se lhe pagar a viagem, de certeza que vem…). r isso, deixo-lhe um pedido. Faça às nossas crónicas o mesmo que faz com as fontes que cita: não as leia. Ignore-as.

Finja que não existem, não responda. É um direito que o assiste. Olhe, até vem consagrado na 5ª emenda (que faz mesmo parte da Constituição, não é como a Declaração de independência). MST pode invocá-la.

Evitará auto-incriminar-se.”
José Diogo Quintela

In do blog Coluna D'Águias Gloriosas

novembro 12, 2010

Tempo Útil _ João Gobern


Superlativos

Quando eu andava na escola e a Gramática ainda não era uma “arma de arremesso” para causar traumas aos alunos, estudávamos com atenção os Comparativos e os Superlativos. Mais: éramos prevenidos para a circunstância de estes últimos deverem ser utilizados com parcimónia, sob pena de se desvalorizarem e banalizarem. O que tem isto a ver com o futebol e, concretamente, com o clássico – pouco clássico – do último domingo? Simples: Jorge Jesus está agora a pagar (e parece cada vez mais certo que o fará com juros elevados) a factura tresloucada dos encómios superlativos que, por causa de uma época meritória e categórica como o Benfica há muito não vivia, foram depositando na sua conta. Sempre que o faziam, subiam a fasquia. A cada nova palmada nas costas, o técnico – um respeitado “self made man”, que subiu a pulso e chegou onde merecia – era empurrado para maiores responsabilidades. Embevecido, a vingar os anos de penumbra, deixava-se empurrar e discursava em conformidade com que nele queriam ver. Agora, com a humilhação de domingo (que vale tanto pelo resultado como pela exibição, ou falta dela), Jesus é despojado dos Superlativos e atirado para o odioso terreno dos Comparativos. Eis a imagem perfeita do futebol contemporâneo, célere a criar ídolos, veloz a destruí-los.

Começam as exigências de “serviços mínimos”. Revelam-se azias, até agora insuspeitas, no balneário. Contestam-se as escolhas, nem por isso diferentes de outras ocasiões críticas (Liverpool, claro). Ridicularizam-se as palavras. Ora, o que se passou no Dragão é, afinal, muito simples e ultrapassa as colocações suicidas de David Luiz e Fábio Coentrão ou as exclusões de Saviola e Airton: o campeão entrou a jogar exclusivamente em função do adversário. Tanto assim que se contam pelos dedos de uma só mão (não é ironia…) os remates que fez. Ao proceder desta forma, ressuscitou o fantasma que viveu instalado por mais de uma década para os lados da Luz – chama-se FC Porto. Quantas vezes se viu o Benfica entrar já em perda psicológica (leia-se “medo”) para os jogos com o rival do Norte? E quantos anos foram precisos para que esse complexo se desvanecesse? Agora, nem era preciso dar mais esse trunfo a uma equipa que se mostrava poderosa e compacta. Mas o Benfica ainda ofereceu mais essa vantagem de mão dada. Falta apurar se voltou à estaca zero e à tremideira.
Daqui em diante, pede-se mais trabalho e menos garganta. Mesmo sem título, ainda há muita margem para minorar os estragos.
Já agora, superlativo no domingo, só mesmo o FC Porto. E André Villas-Boas.
NOTA – Rogério Alves praticou, fora de horas, um dos seus desportos favoritos: a verborreia. Mas há quem não durma: nem Deus, nem Maniche, nem Targino.

 In Record

De Águia ao peito _ Luís Seara Cardoso


E agora Benfica?

Os dados estavam lançados, a margem de erro para o Benfica era mínima ou mesmo inexistente. Mais do que isso, exigia-se um Benfica competente, afoito, resoluto. Só um Benfica na posse dos seus melhores atributos poderia levar de vencida um FC Porto forte, coeso, estimulado. O cenário do Dragão constituía, desde logo, mais uma adversidade para as pretensões rubras.
Que Benfica se viu? O melhor Benfica, tal como era exigido? Ao contrário, um Benfica débil, insuficiente, desmoralizado. O triunfo do adversário foi inquestionável, ainda que os números da vitória sejam tão cruéis quanto injustos. A verdade é que no mais decisivo encontro da temporada, o Benfica não soube puxar os galões de campeão e até sugeriu passar o testemunho ao rival.
Discutem-se as opções do treinador. Com razão? Se calhar, sim. Todavia, também se afigura irrecusável, no final dos jogos todos ganham, todos estão na posse da receita certa. Jesus falhou? Se calhar, sim. E quantas vezes acertou em inúmeras circunstâncias? O pior é que este era o tal jogo em que a falha estava absolutamente interdita.

E agora? Há muito campeonato, há mais Ligas, há outras competições. Uma coisa é certa: o desempenho do Dragão não pode repetir-se. A época não está perdida, está comprometida. Ainda assim, acredite-se que o desastre no Porto até pode ser pedagógico, até pode devolver aos adeptos encarnados o melhor Benfica.  É que só esse Benfica traz o suplemento de alma que os aficionados exigem até ao termo da temporada futebolística.

 In Record
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