junho 30, 2011

Crónica de João Malheiro



Na bola da Política

Esta coisa da política tem muito mais a ver com bola do que aquilo que parece. A coisa é, em muitos casos, a mesma coisa, no mínimo coisa parecida.


O PS, que até era campeão, perdeu o Campeonato? O treinador Sócrates demitiu-se sem graça mal soube da desgraça. O Bloco de Esquerda, que tinha garantido no Campeonato anterior uma espécie de UEFA, à custa de um honroso 3.º lugar, quedou-se no 5.º posto da competição? De pronto, vozes como Joana Amaral Dias ou Daniel Oliveira já pedem a costumeira chicotada psicológica, questionando a liderança do até então indestronável Louçã.

Triunfante, Passos Coelho deu o título nacional ao PSD, enquanto Portas se guindou a um lugar no pódio, reforçando a persuasão de comando incontroverso. Ambos prometem liderar as equipas, sem mácula, nos próximos tempos competitivos, silenciando aqueles que lhes invejam, internamente, os resultados obtidos. Mais difícil (ou fácil) é ajuizar Jerónimo de Sousa, treinador principal de uma CDU que até somou mais pontos do que no Campeonato anterior. Fica a ideia de que é um líder incontestado, pelo menos enquanto tiver a mesma equipa combativa capaz de superar arbitragens intolerantes a nível doméstico ou mesmo internacional.

Há ou não há enorme similitude na política e no futebol? De resto, a grande diferença até justifica a lisonja da bola. Não consta que haja muitos adeptos a trocarem de clube com frequência. O mesmo não se poderá dizer dos aficionados das equipas partidárias. E essa coisa bizarra, entre outras, de transferências directas de voto do Bloco de Esquerda para o PSD? Não parece o mesmo que, a título de exemplo, um simpatizante do Benfica virar aficionado do FC Porto ou do Sporting? Por isso também é que existem mais crentes na bola do que piedosos na política.

junho 29, 2011

O Voo da Águia_ Marta Rebelo




Xeque-mate

O fcp vê André Villas-Boas sair dos comandos da equipa técnica, levando consigo no braço as garras afiadas de Falcão. A cláusula de rescisão de um é 15 milhões de euros; a de outro 30 milhões, com os da Invicta a tentarem aumentá-la para 40 milhões de euros. Saí o menino de ouro e a ave rara lá do sítio. Encaixam à volta de 50 milhões. Moutinho pode seguir-se. Xeque-mate. O glorioso Benfica é batido na tesouraria, também.

Esta semana, o Conselho de Notáveis do Record foi questionado sobre se a saída de Villas-Boas colocará em causa o sucesso desportivo do FCP na próxima época. Eu integro-me nos 45,6 por cento dos que responderam “sim”. A verdade é que, depois das juras de amor que Pinto da Costa desfiou em entrevista à RTP, não vai mais do que um mês, o presidente do Porto corre riscos sérios na aposta que se vê forçado a fazer: Vítor Pereira. O novo treinador portista tem uma tarefa pesada, quase impossível, porque nem o toque de Midas de Pinto da Costa acerta duas de seguida. Se a saída de Coentrão e Nuno Gomes nos deixa órfãos de heróis, a saída de Villas-Boas também remete os portistas para uma certa orfandade. Estavam certos da renovação de títulos e apontavam à Champions. Com o jovem timoneiro tudo seria possível; com o Falcão a voar todos os golos entrariam; e com Hulk verde de fúria e blindado por 100 milhões nada beliscaria o FCP. E agora? A um mês do início das “hostilidades”, terá Vítor Pereira a magia para estabilizar a equipa e (re)criar o grupo imbatível? Não, não tem. Mas tem uma equipa quase intocada. Será o Chelsea o melhor amigo do Benfica?

António Carraça, recém-indigitado para liderar o futebol do Glorioso, é que não é. Neste momento, e apesar de defender que a estrutura de futebol necessita de uma reestruturação, há gente a mais. Na Luz tropeça-se em gente. No dia em que o Benfica volta aos trabalhos, pergunto: como é que eles cabem todos no campo? E nos gabinetes da direção?


  In  Record

Email Aberto _ Domingos Amaral




Cornos

From: Domingos Amaral
To: André Villas-Boas

Caro André Villas-Boas
De facto, és um predestinado. Época brilhante no FC Porto, Supertaça, Campeonato sem derrotas, Taça de Portugal, treinador mais jovem de sempre a vencer uma taça Europeia, e agora isto, o maior “par de cornos” da história do futebol mundial. Ao pé de ti, a ida de Figo do Barcelona para o Real Madrid foi uma brincadeira de crianças. Pelos vistos, és mesmo muito diferente do teu ex-mentor, José Mourinho. Ele é do povo, é conflituoso porque precisava de subir na vida, derrubando o mundo a caminho do topo. Foi-se, mas antes deixou a Champions. Tu, além de só teres ganho a Liga Europa, és de “boas famílias”, tens sangue azul, e isso distingue as pessoas. Há meses, falavas com o desprendimento dos velhos fidalgos, querias era treinar no Japão ou no Chile (!), e os grandes campeonatos não te “entusiasmavam”. Contudo, essa autenticidade, essa humilde aparente, era afinal uma máscara. A maior traição não foi teres saído do FC Porto, mas teres subvertido a identidade que criaras ao longo do ano. A conversa sobre “a cadeira de sonho” não passou afinal de uma conversa da treta, de mais um dos teus “mind games”, e é por isso que aos portistas a tua saída soube a pesadelo. Mesmo a mim, benfiquista, causou mossa. A partir de agora, já não acredito na máxima de que, no futebol, o que hoje é verdade amanhã é mentira. A partir de agora, é tudo mentira, já não se pode confiar em ninguém. Eu sei que, no futebol dos nossos dias, encornar é o que está a dar, mas nunca ninguém encornou tantos, tão cedo e tão fundo.


  In  Record

junho 27, 2011

Crónica de João Malheiro



Gomes & Gomes

“Finito”. A sentença foi de Tomislav Ivic. Fernando Gomes, bi-Bota de Ouro do FC Porto , recebia guia de marcha. Foi inocente o veredicto do técnico croata? Não é crível, supõe-se que tenha havido prévia sintonia com o presidente do clube. Para mais, Fernando Gomes até seria alvo de um processo disciplinar, cujo desfecho Guilherme Aguiar, então dirigente portista, não teve mesmo recato em previr, antes mesmo de serem ouvidas as testemunhas.


Fernando Gomes rejeitou uma proposta do Benfica, também de outros emblemas, estabeleceu-se em Alvalade. Fez mais coisas, outras coisas, muitas coisas, só não ganhou coisas. Ganhou, de seguida, anos a fio, a antipatia dos responsáveis azuis e brancos, que não dos sócios e simpatizantes. Regressou recentemente ao FC Porto, sem que se saiba quem protagonizou a contrição.

Outro Gomes, o Nuno do Benfica, está de saída da Luz. Jorge Jesus não disse “finito”, mas percebeu-se que o achava. Processo disciplinar não houve, a Nuno Gomes até foi proposto um cargo na estrutura vermelha. O mais emblemático futebolista do clube na última década recusou a oferta. Prepara-se para jogar, numa decisão pessoal, uma ou duas temporadas ainda. O povo benfiquista parece abalado, chutando mais brados com a emoção do que com a razão.

Nuno Gomes, ao invés do outro Gomes, não vai demorar a volver à Luz. É uma inevitabilidade que a história centenária do Benfica adestra. Só que o imbróglio foi mal governado, provocou um ruído desmedido, cujas consequências ainda estão por avaliar. Os golos na própria baliza do Benfica fragilizam o clube e engordam emocionalmente o seu principal opositor. Haja mais ou menos Gomes, de um lado ou de outro, a verdade é que Gomes jamais poderia ser sinónimo de controvérsia na Luz, sobretudo na actualidade. Faltou atenção, ganhou a tensão.

junho 26, 2011

Aqui á Gato _ Miguel Góis




Traidores

No dia 22 de Maio, Pinto da Costa produziu uma declaração bombástica, em entrevista a Fátima Campos Ferreira, declaração essa que não teve o devido destaque na comunicação social. Disse ele, perante a indiferença da entrevistadora: “Se algum clube me oferecesse 5 milhões de euros por ano para eu o ir dirigir, não hesitava em abandonar o FC Porto, e muito menos daria qualquer satisfação aos seus adeptos.” Na verdade, Pinto da Costa não disse isto por estas palavras. Mas disse “Villas-Boas é tão portista como eu”, o que vai dar ao mesmo.


Dirão alguns leitores que só a minha má-fé explica a opção de retirar consequências de uma frase proferida por Pinto da Costa um mês antes de ele saber que André Villas-Boas ia abandonar o clube; ao que eu respondo, não será tanto a minha má-fé quanto as próprias declarações de Pinto da Costa na última terça-feira, 21 de Junho: “Há um mês e pouco, quando o nosso treinador foi um fim-de-semana a Londres, coloquei a Vítor Pereira a questão: está preparado para chefiar a equipa?” Ora, se se confirmar que entre 22 de Maio e 21 de Junho passou menos de um mês, parece-me pacífico que, quando o presidente do FC Porto disse que Villas-Boas era tão portista quanto ele, já desconfiava da lealdade do treinador em relação à causa azul e branca; já sabia que Villas-Boas podia estar a enganar a cadeira de sonho que tinha no Dragão com a mesa das negociações que o Abrahmovich tem no iate. E, equiparando-se a Villas-Boas, pretendeu provavelmente fazer um piscar de olhos a um qualquer clube que estivesse interessado em abrir os cordões à bolsa por um dirigente experiente e dedicado.

A única defesa possível de Pinto da Costa, para além de se argumentar que aquela frase é um dos mais belos exemplos da sua ironia, passará por garantir que André Villas-Boas é efetivamente um portista indefetível, que só saiu para Inglaterra porque sentiu que Vítor Pereira era mais treinador do que ele. E a confirmação de que não é o único a pensar assim veio mais tarde, com a divulgação de que a cláusula de rescisão de Vítor Pereira é 3 milhões de euros mais alta que a de Villas-Boas.

Dito isto, o novo treinador do Chelsea tomou uma decisão acertada, ao demitir-se no final da época. Retirou as devidas ilações em relação ao desempenho da sua equipa na Taça da Liga.


  In  Record

junho 24, 2011

Tiago Dores _ In Mística




Por um Portugal "à Benfica"

Tem sido lembrado nas páginas da Mística, amiúde e com propriedade, que o Benfica
é o melhor de Portugal. O que não tem sido suficientemente referido é que o Benfica não só é o melhor de Portugal como é melhor que Portugal. Retorquirão alguns que o afirmo de forma leviana; concedo, censuro-me, e corrijo: o Benfica é muito melhor que Portugal. E para o demonstrar basta analisar o que foram os últimos anos desta nação. E de Portugal também.

Na última década, Portugal cresceu sempre menos que o resto da Europa e hoje está a
viver a maior crise financeira de que há memória. Já o Benfica, no mesmo período de
tempo, ultrapassou a maior crise financeira de que há memória e entrou no clube dos
mais ricos da Europa. Cenário que se vislumbra impossível para Portugal. A única forma
de Portugal entrar no clube dos mais desenvolvidos é acontecer ao País aquele fenómeno
inexplicável que aconteceu ao Benfica nos anos 90 do século passado, e que permitiu a
um King, a um Simanic e a dois Luíses Gustavos entrarem no nosso clube. Mas a prova
irrefutável da superioridade do Benfica face a Portugal, neste aspeto, é a relação de ambos
com os mercados: Portugal está nas mãos dos mercados; o Benfica tem os mercados
a seus pés, nomeadamente o inglês - maravilhado com David Luiz e Ramires -, o
espanhol - rendido a Di María -, e todos, em geral, suspirando por Fábio Coentrão.

  
'A solução para Portugal é simples: é pôr os olhos no Benfica'  
 
O que nos leva ao ponto seguinte.

Face à crise em que Portugal está mergulhado, é unânime que o País tem de apostar em produzir bens para exportação. Algo que o Benfica já está a fazer, e de forma brilhante. Com a melhor matéria-prima portuguesa, brasileira ou argentina,o nosso clube produz jogadores de altíssima qualidade, que depois vende por essa Europa fora, encaixando chorudas mais-valias. Em termos de eficiência, o Benfica é a economia alemã do mundo

do futebol.

Agora, que Portugal não espere ainda mais ajuda financeira da nossa parte.
É que nos últimos dez anos só o contributo do Benfica para o Serviço Nacional de Saúde, por exemplo, foi enorme: a redução drástica da prevalência de problemas cardíacos nos
benfiquistas - na maioria da população portuguesa, portanto - representou uma poupança para o Estado de muitos milhões de euros. Já para não falar no apoio que o Benfica tem concedido às empresas privadas. Basta ver o que temos apoiado a Olivedesportos ao cedermos as transmissões televisivas dos nossos jogos com cerca de 75% de desconto.

Portanto, se Portugal pretende sair da situação calamitosa em que se encontra, a solução
é simples: é pôr os olhos no Benfica. Mas se o quiser fazer ao vivo é melhor despachar-
-se, porque vai ser complicado arranjar lugar. É que, ao contrário do que acontece
com Portugal, de onde sai cada vez mais gente à procura de melhores condições de
vida, no Estádio da Luz entra cada vez mais gente ansiosa por soberbos espectáculos de
futebol.

Futebol á Portuguesa _ José António Saraiva




Fim da linha

O fim da carreira de um jogador é sempre doloroso – para o próprio e para o clube que representa, sobretudo se for uma referência. O grande Eusébio, quando deixou de ser utilizado no Benfica, recusou-se a deixar o futebol e foi para o União de Tomar. Mais recentemente, Jorge Costa, eterno capitão do FC Porto, teve de emigrar perto do final da carreira para um clube inglês. Agora, é a vez de Nuno Gomes partir, deixando atrás de si um travo de amargura.


Mas as coisas são o que são. Talvez já não se justificasse Nuno Gomes ter ficado no Benfica a época passada – e isso só aconteceu pelos laços afetivos que ligavam o jogador ao clube e vice-versa. Mas a saída teria de acontecer um dia.

Nunca fui um fã incondicional de Nuno Gomes. O elogio que mais frequentemente lhe faziam era, simultaneamente, a maior crítica que lhe poderiam fazer: “É o avançado que melhor joga de costas para a baliza.” Ora um avançado-centro deve jogar de frente e não de costas para a baliza...

Julgo que a importância de Nuno Gomes não estava tanto no seu talento futebolístico mas mais no seu talento humano. Era mais culto, mais educado e mais ponderado do que a média. E isso, num meio como o futebol, é importante. Cabe notar que, embora Nuno Gomes tenha sido pouco utilizado na última época, foi quase sempre convocado. E isso só se explica pela sua influência positiva no grupo.

Criticou-se o treinador por, em igualdade de circunstâncias, ter preferido sempre Kardec. É natural, até pelo seguinte: Kardec é um jovem, e o Benfica tinha de o testar para perceber se poderia ou não contar com ele no futuro. Ora Nuno Gomes, sendo um veterano, já não tinha nada para testar...


 In  Record

junho 22, 2011

O Voo da Águia_ Marta Rebelo



Suficiência

Ao olhar para os reforços da pré-época que enchem os treinos benfiquistas, questiono-me se estaremos sequer próximo da suficiência que o presidente Vieira pretendia para a novel temporada. Se em 2010/2011 o plantel foi “insuficiente”, este, que junta os “sobreviventes” de uma época desgraçada a miúdos e poucos graúdos que ainda não têm nas pernas o toque de Midas, será o suficiente?


A verdade é que a mais que provável saída de Fábio Coentrão, a par da dispensa tão imensamente inoportuna de Nuno Gomes, deixa-nos quase órfãos de jogadores portugueses, de jogadores da seleção lusa – Martins que me perdoe, não o esqueço –, mas sobretudo deixa-nos órfãos de heróis. E quando reina o desalento, de que é que os adeptos mais precisam senão de alguém que, aos seus olhos, transporte a esperança? Pois é, não temos. Temos Artur, para arrumar de vez com um frangueiro de qualidade nunca vista para os lados da Luz; mas não temos defesa-esquerdo à altura do miúdo das madeixas que nos fez virar os olhos com os seus sprints por aquele corredor afora; temos Aimar e Saviola (resta saber em que forma); mas continuamos a ter Cardozo lá à frente, sem que se desenhem soluções de ponta do pé marcador imediato.

Se há uma coisa que Jesus soube fazer, foi pegar em jogadores ainda em “crise do armário”, de identidade, sem saberem bem em que posição deviam jogar e como, e dar-lhes certezas dentro de campo e uma qualidade ímpar. Di María disse um dia que Jesus lhe devolveu a alegria de jogar, Coentrão só tinha madeixas antes de JJ o orientar. Olhando para as esperanças sub-25 que fomos buscar – e ignorando um pouco a excessiva proveniência sul-americana que faz esquecer a escola lusa, bem me tenho queixado –, ficam-me muitas dúvidas, mas destaca-se em néon esta: de quantas épocas precisaria Jesus para pôr estes miúdos no sítio certo? É que para esta é muito curto.

 
 In  Record

Bilhar Grande _ Alberto do Rosário




Jorge Jesus

Ele não é ingénuo, sabe bem que não há casualidades excessivas e que as coisas não acontecem caídas do além. Jorge Jesus sabe mas não se protegeu, sabe mas entrou em euforias desmedidas, sabe mas falou de mais e com arrogância. E caiu-lhe o céu em cima.

Terminou esta época com os velhos fantasmas do Benfica – com quase 30 anos – em cima das costas e com o presidente a ser obrigado, demasiadas vezes, a reafirmar publicamente confiança. Mau augúrio.

É sobre brasas e em tolerância zero que Jorge Jesus vai iniciar a nova temporada. Nos primeiros jogos ficará definido o futuro do treinador, pois nada indicia que seja com espírito natalício que os adeptos se vão sentar nas bancadas da Luz.

Há muitos anos que Jorge Jesus trata a pressão por tu, mas a época que se avizinha tem outra dimensão, a dimensão brutal do conjunto de benfiquistas e a comunicação social. Grande teste ao homem e ao treinador. A estrelinha da sorte vai contar.


   In  Record

Email Aberto _ Domingos Amaral



Perigos

From: Domingos Amaral
To: Jorge Jesus

Caro Jorge Jesus
Se até Eusébio, o melhor jogador de sempre da história do Benfica, foi dispensado a dada altura, jogando ainda em vários clubes (Beira-Mar, Cosmos, União de Tomar) até pendurar as suas mágicas botas, não deve ser dramatizada a saída de Nuno Gomes, um dos poucos grandes jogadores que passaram na Luz na última década. Contudo, em tudo na vida há um contexto, e o contexto atual é perigoso, principalmente para ti. Neste momento, saíram do Benfica todos os jogadores que empolgavam os adeptos (a “emoção” de que aqui falou Daniel Oliveira há uns dias). Saiu Di María, saiu David Luiz, sairá Coentrão, e saíram também Mantorras e Nuno Gomes. Não há, para já, quem os substitua. Nem Aimar, nem Saviola, nem Luisão, nem Cardozo levam a Luz à euforia. E isso é um problema para ti, que depois da época tão sofrida que tivemos também já não excitas as bancadas como dantes. A ausência dessa “química” afetiva tem efeitos, não só na venda de bilhetes, mas principalmente na fragilidade da tolerância para contigo e com a equipa. Os benfiquistas estão frustrados, com o ego dilacerado, desconfiados de ti e das tuas ideias. Para regressarem à comunhão geral, necessitam de um “shot” de vitaminas que só os golos e as vitórias conseguem injetar. É essa a tua cruz. Sem o escudo protetor das estrelas que a Luz adorou, encontras-te desprotegido e num estranho paradoxo: tens mais poder no balneário, mas também estás mais sozinho e vulnerável à fúria dos adeptos. Quando eu era miúdo, havia uma série chamada “O Perigo é a Minha Profissão”. Lembro-me sempre disso quando penso em ti.


 In  Record

junho 21, 2011

Aqui á Gato _ Miguel Góis


Comunicado

Para não destoar do Sport Lisboa e Benfica, também eu gostaria de me despedir do Nuno Gomes através de um comunicado. Adeusinho, Nuno. Boa sorte e tal. Pronto, já está. Venha o próximo avançado!

Apercebo-me, agora, de que esta talvez não seja a forma mais urbana de um clube se despedir daquele que foi o 8.º jogador da sua história com mais golos no campeonato nacional (só atrás de Eusébio, José Águas, Nené, Torres, Arsénio, Julinho e Rogério “Pipi”). É certo que a oferta de um posto na estrutura da SAD funciona como atenuante. Mas o cargo oferecido – diretor de Relações Externas – não me parece o indicado. Acredito sinceramente que, nesta altura, o Benfica precisaria mais de um diretor de Relações Internas: alguém que, entre outras coisas, evitasse que jogadores com 12 anos de casa abandonassem o clube sem ser homenageados.

Lembro-me de, precisamente no primeiro desses 12 anos, haver entre os adeptos do Benfica “O Debate Nuno Gomes”: era um ponta-de-lança puro, ou rendia mais a segundo avançado? Atrás de Brian Deane, na época 97/98 fez 22 golos em 40 jogos. É segundo avançado! No ano seguinte, à frente de João Vieira Pinto fez 34 golos em 43 jogos. É ponta-de-lança! Foi o fim do debate. É jogador!

Também não me esqueço do passado recente. Este seu último ano de águia ao peito ficará na história: 5 golos em apenas 95 minutos. Em termos estatísticos, parece-me evidente que, se o Jesus tivesse posto Nuno Gomes a titular no Dragão para o campeonato, o jogo teria acabado empatado.

E, desta forma, o Nuno fica a saber por este texto que lhe estou muito agradecido. Julgo que não o estranhará, uma vez que está habituado a tomar conhecimento de muitas coisas pelos jornais.

 In  Record

O Voo da Águia_ Marta Rebelo


O grande capitão

Faço minhas as palavras de Quim: “Nuno Gomes não merece o que lhe estão a fazer.” Ele lá sabe, depois de ter sido dispensado num programa de televisão. Mas numa altura em que o Glorioso prepara a pré-época com excesso de carga e duvidosa qualidade no seu todo; quando as alternativas para o lugar do “negociável” Cardozo se resumem a Nélson Oliveira que faz a pré-época no plantel; quando tudo isto se passa sem que se encontre no horizonte grande cenário para a frente mais avançada do nosso Benfica, Jesus finalmente consegue e arruma Nuno Gomes. Escusado será dizer quem é que eu preferia arrumar. E, meu caro presidente Vieira, se a equipa da época transata foi “insuficiente”, a aparente quantidade da que se desenha não a torna mais “suficiente”.

Não consigo deixar de atribuir a Jesus o desfecho desta contenda com o nosso capitão. A SAD tenta remediar as coisas e oferece-lhe um lugar nas direções do clube. Mas se Nuno olhar para os últimos tempos de Rui Costa, não sei se será cenário que lhe apeteça. No entanto, o capitão acalenta o sonho de terminar a carreira no Euro’2012, o que obriga a uma época de sangue, suor e lágrimas. Que o Benfica agora lhe nega. Que Jesus agora lhe nega. E um dia ainda hei-de saber qual é o motivo deste desamor. Há quem diga, à boca pequena e outros à boca grande, que Nuno Gomes chamou a si as dores dos camaradas de equipa aquando de atrasos na distribuição dos prémios de campeões de 2009/10, e chamou Jesus à solidariedade quando o míster já tinha arrecadado o seu prémio. Não sei. Sei apenas que Nuno Gomes arrancou pontos no limite, pôs a Luz de pé em ovação por inúmeras vezes – a mesma Luz que assobiou os “preferiti” de Jesus e que apupou a opção do técnico de ignorar o capitão no banco em situações de catástrofe iminente – e deu o litro a este clube. Sinto-o injustiçado e não gosto de injustiças. Embora o futebol seja terreno fértil para estes desmanchos. Nuno, serás sempre capitão.

 In Record

Futebol á Portuguesa _ José António Saraiva


O erro de Fábio

Muitos adeptos do Benfica estão desolados: a época “desastrosa” termina com um “desastroso” processo contra Fábio Coentrão.

Ora, nem a época foi desastrosa nem o processo é desastroso. O Benfica foi 2.º no campeonato, chegou às meias-finais da Liga Europa e da Taça de Portugal, e ganhou a Taça da Liga. É pouco? Segundo as contas que fiz, foi a terceira melhor época do clube nos últimos dez anos.

O problema está na comparação da época passada com esta. E nas “humilhações” contra o FC Porto – que os benfiquistas não perdoam, porque não aceitam que o FC Porto da época passada era quase imbatível.

Falando agora de Fábio, é óbvio que tinha de ser processado. Ao dizer que queria ir para o Real e até já lá tinha a cabeça, Coentrão fragilizou a posição negocial do Benfica. Se um jogador diz que a sua vontade é mudar de ares, o clube onde está perde margem de manobra e o valor da transferência baixa.

E se é certo que o Benfica deve muito a Fábio, certo é também que Fábio deve ainda mais ao Benfica.

Quando regressou à Luz, vindo do Rio Ave, Fábio Coentrão era um jogador vulgar, daqueles que abundam nas equipas do meio da tabela. Ora Jesus percebeu-lhe as qualidades, mudou-lhe a posição e o modo de jogar, motivou-o – e fez dele um dos melhores laterais do Mundo.

Fábio podia estar hoje numa cidade de província a marcar passo – e está em vias de ir para Madrid como grande estrela.

E é também por isso que um treinador pode ser importante: para identificar talentos, potenciá-los, pô-los a jogar e a deliciar os adeptos durante dois ou três anos – permitindo ao clube fazer amanhã bons negócios. 

 In Record

junho 14, 2011

Contra a Corrente _ Leonor Pinhão


A todos os títulos lamentável

A última coisa que faltava ao Benfica era acabar esta temporada de 2010/2011, a todos os títulos lamentável, com um processo disciplinar a Fábio Coentrão que foi, simplesmente, o único jogador do Benfica que jogou à bola a sério, sem falhas, sem quebrantos, sempre em altíssimo nível durante a época inteira.

Coentrão, de todos os jogadores do Benfica que estiveram no Mundial da África do Sul - e foram muitos, ao serviço de muitas selecções – foi o único que não foi vítima da síndrome do Mundial. Fez as suas feriazinhas, mais curtas do que o habitual, e apresentou-se no Estádio da Luz fresco como uma alface, pronto para mais um ano de trabalho que cumpriu com brio, profissionalismo e talento do princípio ao fim.

Parecia até, em comparação com alguns companheiros bem mais experientes do que ele nestas andanças, que Coentrão tinha-se limitado a ver pela televisão os jogos do Campeonato do Mundo de África do Sul, confortavelmente sentado no seu sofá em Caxinas, que é a terra onde nasceu.

Fábio Coentrão terminou a época no Estádio da Luz, no jogo com o União de Leiria, e despediu-se dos adeptos do Benfica com uma promessa enganadora, uma promessa que não devia ter feito: «Cá estarei no dia 22 de Junho», disse. Também é verdade que ninguém acreditou que alguma vez viesse a ser verdade a continuidade do lateral-esquerdo no Benfica, pelo que Coentrão jamais passará por mentiroso.

É de presumir que Coentrão, durante largo tempo, esteve em sintonia com o Benfica no que diz respeito à sua transferência para o Real Madrid. E ao despedir-se «até 22 Junho», o jogador mais não estava do que a fazer a sua parte da pressão sobre o Real, demonstrando aos espanhóis que se o queriam levar teriam de abrir os cordões à bolsa e bater os 30 milhões da cláusula de rescisão.

Aparentemente, Coentrão fartou-se de esperar pela conclusão do negócio entre o Benfica e o Real Madrid e, impaciente, mudou de campo um tanto precipitadamente. Passou a fazer parte da pressão do Real Madrid sobre o Benfica ao confidenciar – confidenciar? – ao jornal desportivo madrileno As que era do Real «desde pequenino» e que já estava de corpo e alma em Chamartín.

junho 13, 2011

Email Aberto _ Domingos Amaral


Tridente

From: Domingos Amaral
To: Luís Filipe Vieira, Rui Costa, Jorge Jesus

Caros Luís Filipe Vieira, Rui Costa e Jorge Jesus. Como os senhores decerto já repararam, está há várias semanas em curso a grande operação “VAMOS DESESTABILIZAR O BENFICA”. Depois de uma época que foi, todos o reconhecemos, francamente dececionante, há quem aposte na fraqueza e deseje ardentemente a vossa destruição. O mundo do futebol idolatra a força, e agora a força está, ao que parece, toda no Norte. A cada vez mais poderosa máquina de propaganda do FC Porto, com os seus escribas e serviçais, não descansará enquanto não vos destruir, bem como certa comunicação social, sempre pronta para causar danos, e certos empresários, sempre prontos para vos sorver as finanças. O descalabro do Benfica interessa a muitos.

A sequência de “casos” tem sido imparável. Primeiro, o “caso PJ”, cheio de “luvas”, “burlas” e outros horripilantes pecados. Depois, o “caso Coentrão”, intencionalmente inflamado com a nitroglicerina do costume. Pelo meio, os infindáveis casos das mil e uma “contratações”, com magotes de jogadores a entrarem todos os dias para o nosso plantel. E também o “caso Nuno Gomes”, para perturbar ainda mais as emoções dos sócios.

A intenção é óbvia: fragilizar-vos. Minar o tridente. Abalar um, dois, ou os três. Tentar que a vossa união se quebre. Tentar que Jesus desista, que Rui Costa se afaste, que Vieira ceda. Tentar, tudo por tudo, que até ao final do verão, na pior das hipóteses, o Benfica entre em convulsão.

Perante este cenário, só há uma resposta possível. Cerrar os dentes, cerrar as fileiras e aguentar. Os senhores, os três, têm de se unir, com laços de cimento se for preciso, e nem por um momento ceder a esta onda maligna. Espero que tenham força mental para lutar contra este bombardeamento permanente. O que não nos mata torna-nos mais fortes. E um Benfica forte incomoda muita gente...

 In Record

Aqui á Gato _ Miguel Góis


Trabalho sujo

Segundo as minhas contas, há onze meses e sete dias que não faço qualquer observação depreciativa em relação ao talento de Carlos Queiroz para treinar equipas de futebol. Estou, como é biologicamente previsível, a ressacar. Várias vezes ao dia, assalta-me uma súbita vontade de assistir a um jogo particular do Irão, ou, quando a pulsão aditiva é tanta que já nem é necessária satisfazê-la com jogos em direto, a reposição de uma qualquer partida que Queiroz tenha orientado no passado e em que não tenha conseguido uma vitória. Convenhamos que a escolha é, neste último caso, enorme.

Mas o caso é mais grave do que parece. Aqui há uns tempos, a Federação Portuguesa de Futebol obrigou-me a fazer uma coisa muito desagradável, que ainda hoje lhes guardo ressentimento: a vir defender o ex-selecionador nacional, na sequência do processo disciplinar absurdo de que foi alvo. E hoje temo que o volte a fazer. A continuar a este ritmo, qualquer dia serei tão pró-Queiroz, que começarei a referir-me a ele como ele se refere a si próprio em todas as entrevistas que dá – “eu, que em 1989 e 1991 fui campeão mundial nos Sub-20…”

Mas tem de ser. Na semana passada, Raul Meireles, antes do Portugal-Noruega, declarou: “Portugal mudou, pois tem um treinador com métodos novos. E aí está a grande diferença. Hoje, os jogadores sabem o que têm de fazer.” Até no boxe, que é um desporto violentíssimo, há uma pessoa que está encarregue de interromper o combate, quando um dos lutadores está no chão, inconsciente, e o outro está no seu canto a festejar, com o seu treinador. Como se trata de futebol, alguém já devia ter dito que é feio continuar a bater em quem está no chão.

Por favor, não me obriguem a vir outra vez defender Carlos Queiroz, que em 1989 e 1991 foi campeão mundial dos Sub-20.

Pronto, já estou.
 
In Record

Apito Dourado Band



Obrigado ao "O Alguidar"

junho 08, 2011

O Voo da Águia_ Marta Rebelo


O dia de Portugal

O fim-de-semana foi pródigo em eventos de relevo nacional. Com as devidas e muitas diferenças, o nosso futuro de médio prazo enquanto país era ontem decidido nas urnas, e o nosso futuro de curto e médio prazo enquanto seleção de futebol foi decidido no sábado, na Luz.

Deixemos a política nacional para os seus comentadores. Vejamos como nos saímos no estádio do Glorioso: bem. Eficientes, a jogar o futebol possível num final de temporada cansativo para todos, atingimos um resultado impensável há alguns meses: o primeiro lugar no nosso grupo de classificação para o Europeu de 2012. Quem diria, quando Carlos Queiroz e Agostinho Oliveira estavam à frente da Seleção, que seria ainda possível salvar a face lusa, tão limpa de vergonhas qualificativas desde 1996? Ninguém. A verdade é essa. E Paulo Bento teve o condão de repor a “normalidade democrática”. Chegou, ouviu e foi vencendo.

Na verdade, não fizemos um jogo fabuloso. Cristiano Ronaldo não entrosou com Fábio Coentrão, para sonos menos felizes de Mourinho ou de quem os vê juntos, a fazer “pareja” na ala esquerda do Real Madrid. Tentou muito o golo – como tenta sempre na Seleção –, mas foi Postiga que teve o acesso de bom futebol. Coentrão, esse, com os sprints e as fintas, foi piscando o olho ao gigante espanhol enquanto parte corações ainda na Luz. Nani foi o segundo mais esforçado, apostado que está em ser o melhor do Mundo… Mas foi sobretudo a união, o espírito coletivo, de equipa, que fica da exibição de sábado. À Seleção pediam-se os 3 pontos. À equipa das quinas pedia-se eficácia, e não muito mais que isso. E era essa a missão pragmática do muito pragmático Paulo Bento. E quem é que precisa de floreados, quando a qualificação para o Europeu está em causa? Quem é que precisa do jogo bonito sem os pontos de uma beleza incomensurável? Paulo Bento fez bonito. Do banco, quando celebrou o golo português e tirou a gravata logo a seguir, afogueado.

In Record

junho 07, 2011

Contra a Corrente _ Leonor Pinhão


A Medalha do Mérito Distrital


É bom que os adeptos portistas continuem a entoar a mesma canção.
No dia em que a puserem de lado a situação alterou-se dramaticamente ...
 

Tal como Brian Clough teve êxito com o modesto Nottingham Forest em 1979 e 1980, também Mourinho conduziu o pequeno clube português à vitória na Champions de 2004.

ANDREW ANTHONY
"The observer", 01-05-2011

A eliminação do Real Madrid foi uma coisa boa porque jogaram antifutebol. José Mourinho era fantástico quando treinava uma equipa pequena como o Porto

MORTEN OLSEN
Seleccionador Dinamarquês, 02-05-2011
 
Foi justamente entregue pelo Governo Civil do Porto a Medalha de Mérito Distrital a Pinto da Costa,
presidente do FC Porto, no culminar de um ano ímpar em que o clube venceu quatro competições importantes, umas mais importantes do que outras, como é normal nestas coisas.

Embora neste rol de triunfos saborosos até conste uma competição internacional, a referida distinção do Mérito Dístrital aplica-se com pertinência.

Confirmou -se nas duas últimas semanas, e com grande alarido, que nem a grandeza indiscutível dos sucessos alcançados consegue erradicar de vez a pequenez congénita do discurso do líder e, por atacado, a pequeneza dos discursos dos demais funcionários da casa, independentemente do número de anos de sócio do FC Porto que detenham.

Por um lado, o lado mais básico,compreende-se. O FC Porto começou a sua escalada vitoriosa no final da década de 70 declarando uma guerra ideológica ao Benfica e uma guerra regíonalísta ao país.

                     
As últimas declarações de Pinto da Costa, elogiando o seu próprio comportamento notavelmente cívico em Dublin e no Jamor por não ter festejado efusivamente a conquista da Liga Europa e da Taça de Portugal para não melindrar os dois adversários do Norte, deixam a claro os alicerces distritais do seu pensamento.

E as primeiras palavras de André Villas - Boas, assim que terminou a final com o Vitória de Guimarães, declarando que, na próxima temporada, a Taça da Liga «será uma competição de enquadramento entre a formação e o futebol profissional» pelo que «não será objectivo a nível de conquista», fornecem a mais elementar evidência sobre o que é, ainda hoje,
a única preocupação ideológica do FC Porto: o Benfica, e por mais de rastos que o Benfica esteja.

Há, também, uma componente fortemente totalitária nestes arrazoados. Tendo Benfica ganho as três últimas edições da Taça da Liga, é importante varrer do mapa competitivo a importância da referida Taça que o FC Porto nunca venceu. E, de preferência, rapidamente, antes que a competição ganhe carisma com o andar dos anos.

Lamentavelmente, o Benfica não tem autoridade moral para retorquir sobre esta matéria porque, no início da corrente temporada, quando tudo começou a correr mal, num assomo de ridículo inqualificável, anunciou publicamente que ia desistir da Taça da Liga em sinal de protesto contra o sistema. E por aqui se vê, mais uma vez, como,nestas coisas, o silêncio é de ouro.

Resta aos benfiquistas o ínfimo consolo de se ouvirem referidos nos cânticos de alegria dos rivais.
É grande, enorme, a importância do Benfica para o FC Porto.

E é bom para os benfiquistas que os adeptos portistas continuem a entoar sempre a mesma canção.
No dia em que a puserem de lado a situação ter-se-á alterado dramaticamente: ou o Benfica deixou de existir ou o FC Porto engrandeceu e deixou de ser um clube tão distrital quanto a medalha que recebeu no início desta semana.

Email Aberto _ Domingos Amaral


Vitrine

From: Domingos Amaral
To: Fábio Coentrão

Caro Fábio Coentrão
Esta semana tivemos um exemplo perfeito e refinado de como se pode, na praça pública, pressionar dois clubes para que um jogador se transfira de um para o outro. De um lado, um dos melhores jogadores do Mundo, Ronaldo, e um dos melhores treinadores do Mundo, Mourinho, lançaram-te inúmeros elogios, dizendo que eras um jogador fantástico e uma “mais-valia” se fosses para o Real Madrid. Na prática, e no meu ponto de vista de benfiquista, essas foram pressões boas. Mourinho e Ronaldo, com os seus elogios, estão a valorizar-te, e ao mesmo tempo a pressionar o Real para te comprar. Se um ativo é assim tão bom, o seu preço sobe, e quem o quer terá de pagar mais. O meu obrigado público aos dois pelas suas palavras, que ajudam a posição negocial do Benfica.

Infelizmente, o mesmo não posso dizer das tuas declarações. Depois de meses a dizeres que estavas feliz no Benfica, e que por ti até assinavas um “contrato vitalício”, de repente mudas radicalmente o discurso, dizendo que adoravas ir para o Real, “o melhor clube do Mundo”, para ser treinado por Mourinho, “o melhor treinador do Mundo”. Não duvido que penses isso, mas dizê-lo em público prejudicou a posição negocial do Benfica, e foi uma pressão a roçar o inaceitável. Se um ativo se quer ir embora para outro clube, o seu preço desce imediatamente.

Desceste na minha consideração, tanto por esta razão, como pela aparição patética ao lado de José Sócrates. Foram dois momentos péssimos. Mas nem tudo é mau, pelo menos não disseste que o Benfica era uma “boa vitrine”, como disse um jovem brasileiro que para o ano virá jogar para o FC Porto. Ele lá sabe por que o diz…

In Record

junho 06, 2011

Comunicado do SL Benfica



Desmentido

Fábio Coentrão é jogador do Sport Lisboa e Benfica. Ao contrário das notícias veiculadas nas últimas horas por alguns órgãos de Comunicação Social alimentados, como sempre, por “fontes” sem rosto e sem nome, não há qualquer tipo de acordo com o Real Madrid.

A cláusula de rescisão do jogador é de 30 milhões de euros e os possíveis interessados no seu concurso sabem disso.

Aqui á Gato _ Miguel Góis


Recordar 61

Na terça à noite, exultei e emocionei-me a assistir à reposição, na Benfica TV, do quinto episódio de “Vitórias & Património” (um programa que, se passasse na Porto TV, intitular-se-ia “Vitórias & Aumento do Património dos Árbitros” e, se estivesse na grelha da Sporting TV, chamar-se-ia apenas “Património”), a propósito do cinquentenário da conquista da primeira Taça dos Campeões Europeus.

Antes de mais, é necessário ter presente que, em 1961, o futebol era muito diferente daquilo que é hoje em dia, nomeadamente porque havia, pelo menos, uma defesa contra a qual o Barcelona não fazia farinha. Outros tempos. Mas o ataque do Sport Lisboa e Benfica não ficava atrás: tinha jogadores com tanta qualidade, que o Eusébio nem era convocado.

Regressando ao documentário, há vários momentos assinaláveis. A saber: José Águas, na segunda mão das meias-finais contra o Rapid de Viena, implora ao árbitro inglês que assinale uma grande penalidade a favor dos adversários (“Marque o penálti, senhor, para ver se saímos todos daqui vivos!”); Mário João declara que, hoje em dia, senta-se a ver a final contra o Barcelona todas as semanas; vê-se o lance em que a bola bate num poste da baliza de Costa Pereira, atravessa a linha, bate no outro poste e sai (é curioso como a do Isaías, contra o Milan na Luz, já não tem tanta graça); vê-se o golo monumental, a partir do qual o Sr. Coluna devia ter passado a ser tratado por Dr. Coluna; nos últimos 15 minutos, perante a pressão do Barcelona, o Benfica estaciona o autocarro (o que, na altura, significava passar-se a jogar com quatro defesas); no final dos 90 minutos, o presidente do Benfica, Maurício Vieira de Brito, decide celebrar a vitória, tendo um AVC – ao seu lado, os funcionários do clube que estavam a saltar, todos nus, e a beber champanhe da garrafa sentem vergonha por, comparativamente, estarem a festejar de forma tão contida. Mais tarde, já recuperado, o presidente diria aos jogadores, no balneário: “Morrer ali, a ver o meu Benfica campeão europeu, não seria assim tão terrível.”


In Record

junho 03, 2011

Por força da lei _ Ricardo Costa


Tribunal desportivo

Os titulares das pastas da Justiça e do Desporto do próximo governo vão ter em cima das suas secretárias uma opção a tomar. De um lado, têm o requerimento do Comité Olímpico de Portugal (COP) para ser instalado o Centro de Arbitragem Desportiva (CAD). Do outro, têm o projeto de criação do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), da autoria da comissão governamental para a Justiça Desportiva. O próximo governo estará em condições de decidir a vetusta questão do “tribunal desportivo” – o “fantasma” sempre alegado como solução para a justiça desportiva quando as decisões jurisdicionais não agradam aos “gregos” ou aos “troianos”, conforme os casos.

Nenhum dos dois modelos substitui a justiça desportiva das federações (e que deixou as ligas). Acontece que um arquétipo de “tribunal desportivo” que ocupasse o lugar dos conselhos de disciplina e de justiça, sem a alegada (e quase sempre doentia) suspeição sobre os seus membros aquando das sentenças desfavoráveis, não é partilhado por nenhum daqueles projetos. Ou seja, fica tudo na mesma quanto à competência dos órgãos jurisdicionais federativos “internos” – e não podia deixar de ser assim, tendo em conta a lei das federações e os princípios de autonomia das organizações desportivas.

Assumido isto, os caminhos separam-se. O CAD é uma instância arbitral “voluntária” que desincentivaria o recurso das decisões federativas nos tribunais administrativos do Estado. O TAD é uma instância arbitral “necessária” e “exclusiva” para o recurso dessas decisões, excluindo-se, desta forma, o acesso final à justiça administrativa do Estado; o TAD não é um tribunal do Estado, com magistrados judiciários comuns, especializado em matéria desportiva, mas uma entidade jurisdicional incluída na ordem desportiva, com “juízes” indigitados. Em suma: o ambicionado “tribunal desportivo” será o “tribunal de última instância” – desde que as matérias não sejam as famosas “questões estritamente desportivas” (como os castigos decorrentes da amostragem dos vermelhos) – e não um substituto da justiça federativa.

Concordo com o projeto do TAD. Tirar as decisões desportivas dos tribunais do Estado é a melhor medida e conforma-se com a Constituição. Porém, julgo que o TAD devia funcionar no seio do Comité Olímpico, como ente supra-federativo e transversal. Deveria fazer-se uma harmonização dos dois modelos, tanto mais que o TAD também pode funcionar por vontade das partes (arbitragem voluntária). O projeto do TAD não esgota os problemas a tratar. Longe disso. Haverá tempo, entre outros pontos, para refletir sobre recursos imediatos de sentenças federativas de 1.ª instância para o TAD – que terá uma “câmara de recurso” – sem passar pelo Conselho de Justiça ou ponderar a compatibilização das providências cautelares no TAD com efeitos suspensivos a decretar pela justiça federativa. E, no fim, esperar que juristas com capacidade e estofo psicológico queiram ir para o TAD. O que não será fácil, pois, nos tempos que correm, ser juiz desportivo passou a ser uma atividade a necessitar de... “subsídio de risco”!

 In Record

junho 02, 2011

O Voo da Águia_ Marta Rebelo


Las canteras

O Barcelona venceu no sábado o quarto título de campeão europeu, e desempatou com o Manchester United. Foi a vitória do futebol delícia face à racionalidade inglesa. Tal como sir Alex Ferguson reconheceu no final da partida, o Barça deu-lhes “um banho” de futebol e equipas que gostam tanto do futebol que praticam merecem ser campeãs.

Pep Guardiola, na contenda que mantém com Mourinho, elogiou André Villas-Boas. Eu elogio a gestão desportiva do futebol do clube da Catalunha. E agora que Fábio Coentrão abandona a defesa esquerda do Glorioso pelos ares da capital espanhola, começo a contar os portugueses que integram o nosso plantel e são… um? Carlos Martins? E tenho muitas saudades dos tempos em que os nossos juniores eram investimentos muito seguros para o futuro do plantel da equipa A. No momento em que o Benfica lava roupa suja e putativas comissões do nosso treinador pela transferência de um jogador brasileiro, depois de uma época de equipa “insuficiente” – nas palavras do presidente Vieira – e de vitórias nulas, quando se discute o reforço da estrutura do futebol, porque é que não se discute a formação? Das canteras do Barça saíram, por exemplo, Messi, que apesar de ser argentino joga na Catalunha vai para 15 anos. Aliás, do plantel atual, e sem contar com o míster Guardiola, são onze os jogadores que vieram das divisões de base do clube catalão.

O Benfica formou Manuel Fernandes. Formou o João Pereira, que desperdiçou. Tal como o Miguel Vítor e o Roderick que, por mais que digam ser uma esperança, se prepara para ser um jovem com um passado promissor, sem jogo nas pernas. Por estas e por outras é que defendo que um técnico como o Rui Vitória servia bem o comando do Glorioso. Porque, entre muitos outros valores, tem noção do que devem ser as canteras de um clube.

In Record
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