“Benfica aumentou receitas em 30% com as goleadas”
Em entrevista ao Diário Económico, o presidente do Benfica fala sobre o treinador, a venda de jogadores e as acções em bolsa.
O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, e o administrador da SAD, Domingos Soares de Oliveira, estiveram duas horas à conversa com o Diário Económico. Contas, futebol, jogadores, novo fundo, bolsa e o futuro do clube foram os grandes temas abordados ao longo da entrevista.
O Benfica ultrapassou a meta dos 200 mil sócios. Qual é agora o objectivo e em quanto tempo pretendem alcançá-lo?
Luís Filipe Vieira: A estratégia utilizada, desde que chegámos a esta casa, está focada nos sócios do Sport Lisboa e Benfica. Pensamos que iremos conseguir cumprir o novo objectivo que é atingir os 300 mil sócios.
Tem algum objectivo definido em termos de ‘timing' para atingir os 300 mil sócios?
LFV: Não tenho uma meta temporal, apenas o objectivo final. Confesso que tinha uma determinada expectativa que não foi cumprida. Gostaria de estar já a celebrar os 300 mil, mas fui demasiado ambicioso. Agora, alcançámos os 200 mil sócios, o que não deixa de ser notável. Não em seis ou sete meses. Sinceramente não sei em quanto tempo, mas da forma como a equipa se está a aproximar dos sócios chegaremos lá em breve.
Destes 200 mil sócios, quantos são pagantes?
LFV: Mais de 60% têm débito directo. E fomos o último clube a fazer uma renumeração de todo o universo de sócios. Foi em 2005. Isso significa que todos aqueles que já não reuniam as condições foram "limpos" da base de dados.
Como estão as negociações para o ‘naming' do estádio?
Domingos Soares de Oliveira: Continuamos em negociações. Ainda não está fechado o processo. Este é talvez o projecto mais difícil em termos de venda.
Difícil porquê?
DSO: Difícil porque é um valor elevado, embora não seja mais caro do que as camisolas. Enquanto o patrocinador das camisolas tem uma visibilidade diária, o patrocinador do estádio não tem essa mesma visibilidade. Continuamos com propostas activas e acreditamos que, a curto/médio prazo, vai ser possível fechar esse patrocínio.
E estamos a falar de empresas nacionais que já apresentaram propostas?
DSO: Estamos mais a falar de empresas internacionais, do que nacionais. Sim, já apresentaram propostas. Para uma empresa internacional, a sua associação ao Benfica é muito forte. O melhor exemplo é o caso da Repsol. A frota de clientes/sócios do Benfica é hoje o primeiro, ou o segundo, melhor cliente da Repsol.
E quais são as grandes prioridades para este mandato?
LFV: A herança que recebemos foi muito pesada. Ainda hoje temos de responder por erros e irresponsabilidades de um determinado período da nossa história. Durante a campanha eleitoral, assumi que a prioridade seria a vertente desportiva. Queremos deixar o museu concluído e fazer a revisão de estatutos.
A casa está arrumada?
LFV: Sim, a casa hoje já está arrumada. O que nos tem faltado são os resultados desportivos, sobretudo porque tínhamos outras prioridades.
Está de tal forma apetecível, que receia uma nova Oferta Pública de Aquisição?
LFV: Não, não receio. O maior accionista da SAD Benfiquista vai ser sempre o clube. Esse perigo não existe.
Noutras SAD, o presidente é bem remunerado. No Benfica, o presidente não é pago. Qual é a lógica?
DSO: Nenhum dos Órgãos Sociais eleitos pelos sócios é remunerado. É a lógica de quem serve o Benfica, serve com espírito de missão e não de qualquer remuneração. E não creio que haja intenção de alterar essa situação.
As goleadas já estão a reflectir-se nas receitas de bilheteira?
LFV: As receitas de bilheteira são compostas por duas vertentes. Aquilo que são as receitas dos bilhetes de época, cativos e camarotes cresceu face aos últimos anos. E depois temos uma segunda vertente de jogo a jogo que, tipicamente, é mais comprado por adepto do que por sócio. Nesta vertente, estamos com o triplo da facturação, em relação ao ano passado. No campeonato nacional e nas competições europeias estamos com o volume de receitas 30% acima do valor do ano passado.
Os resultados de amanhã vão ser elucidativos da ausência de venda de jogadores?
LFV: Os resultados vão reflectir a estratégia. Para além disso, se uma liga dos Campeões vale cerca de 15 milhões de euros... é uma questão de fazer contas. Mas repito, sabemos exactamente o terreno que estamos a pisar. A conta de resultados será influenciada de forma significativa mas, do ponto de vista financeiro, temos a capacidade para aguentar esse impacto de não vender jogadores. Toda a gente reconhece que os activos, os jogadores, valem muitíssimo mais hoje do que valiam há um ano atrás.
Durante dois anos?
LFV: Durante dois, se for necessário. Se isso é algo que queremos manter ‘ad eternum', depende também do que queremos fazer em termos de investimento. Hoje temos o melhor plantel dos últimos anos.
Quando vão dar lucros?
DSO: Evidentemente que não vamos dar prejuízos ‘ad eternum'. Acreditamos que conseguiremos voltar aos lucros e ter os capitais recompostos no espaço de três ou quatro anos.
Quando conseguirão ter os capitais próprios repostos?
LFV: A meta definida é o ano de 2013. E este projecto desportivo tem de ser sustentado ao longo dos próximos três a quatro anos. Se conseguirmos renegociar os contratos, colocamos o Benfica num patamar completamente diferente.
A crise financeira também teve impacto no Benfica?
LFV: Teve impacto no Benfica, como em todo o lado. Mas apesar de tudo não nos podemos queixar muito. Como em qualquer outra empresa, tivemos maior dificuldade de acesso ao crédito. Posteriormente, reflectiu-se também no aumento dos ‘spreads'. Já do ponto de vista de receitas, não sentimos impacto. Assinámos contratos, que melhoraram os valores que vinham do passado. O potencial de valorização da marca Benfica foi positivo.
Segundo as contas da SAD, basta vender seis jogadores para cobrir todo o passivo bancário.
Luís Filipe Vieira garante que o Benfica "não está vendedor, mas comprador", mas ainda assim admite a venda de um jogador. Quanto ao negócio, revela ainda que a incorporação do Estádio na SAD será apresentada na próxima assembleia-geral, marcada para 19 de Novembro.
O investimento é uma estratégia assumida esta época?
LFV: Esta época e a anterior. Desde que o entrei na SAD em 2001 foi tomada uma primeira opção estratégica que condicionou todas as outras, a construção do Estádio. Digo que condiciona todas as outras, porque custou - com todas as infra-estruturas adjacentes - 160 milhões de euros e obviamente que a vida do Benfica do ponto de vista financeiro passou ser regulada pelo cumprimento do Project Finance associado.
Ainda é possível melhorar os patrocínios?
DSO: É. Falta vender o ‘naming' do Estádio, que pode ser complementado com a melhoria do patrocínio das camisolas, das bancadas e dos pavilhões. As receitas de quotização estão a subir. Passar de 200 mil para 300 mil sócios, na prática significa cerca de sete milhões de euros.
Estão disponíveis para investir mais?
LFV: Ainda estamos disponíveis para investir mais nesta equipa em termos de jogadores, essa é uma garantia que posso deixar. Os investimentos começaram mais estruturadamente em 2008 e continuaremos até 2010.
Consideram que de alguma forma estão a hipotecar ou a diminuir a margem de manobra da próxima direcção?
LFV: Pelo contrário. Quando chegámos a esta casa já estava tudo hipotecado. Agora, há um futuro e risonho. Para terem uma ordem de grandeza, imaginem que queríamos cobrir o passivo bancário. Garanto que bastava vender seis jogadores e cobríamos o passivo bancário.
É difícil não cair em tentação?
LFV: De facto as propostas são tantas que vamos ter de saber resistir, porque o nosso objectivo passa por ganhar o campeonato e isso só se consegue mantendo os nossos activos, mas admito que iremos vender um jogador. Vou-lhe dar apenas um exemplo de valorização - e não estou a dizer que o vamos vender - o caso de Di Maria, que está avaliado em 22 milhões de euros no Fundo. E ainda ontem soubemos quanto vale Di Maria no mercado e posso garantir que vale muito mais.
É uma gestão financeira que se consegue mesmo sem ir à liga dos campeões?
DSO: O nosso plano prevê que o Benfica eventualmente não vá à Liga dos Campeões todos os anos, mas tem todas as condições para estar regularmente na Liga dos Campeões. O plano aguenta isso. Agora pode colocar-se a questão ao contrário: será que todos os planos de todas as sociedades aguentam não ir, eventualmente, um ou outro ano à Liga dos Campeões?
Para quando a incorporação do estádio na SAD?
DSO: A intenção é apresentar essa operação aos sócios e accionistas das duas instituições entre Novembro e Dezembro.
Em 2013 terão outro tipo de receitas?
DSO: Sim, relacionadas com os direitos televisivos. Daqui até lá, teremos de pontualmente procurar as melhores soluções. A solução da venda de jogadores é uma possibilidade. Os contratos que vão terminar nessa altura, como o das camisolas, a Adidas, a própria situação do contrato do nosso canal, serão alvo de negociação, não será global, mas faseada. Tudo isso será alvo de uma negociação que será desenvolvida neste mandato.
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