maio 06, 2012

Tempo Útil _ João Gobern


Apanhados

Vejo, na TV, um homem nervoso que, ao mesmo tempo que maltrata os jornalistas que polidamente o questionam, repete que o sucedido é “um caso de polícia”. Infelizmente, já nos vamos habituando a estes desabafos em todos os quadrantes da vida nacional – todos os dias somos enganados pelo “conto do vigário” da austeridade que não pára em todas as portas, somos roubados nos direitos, somos burlados nas nossas expectativas. Será o caso deste cidadão? Não, não é. Porque ele se chama João Bartolomeu, há alguns anos que dirige os destinos da União de Leiria e a sua indignação nasce daquilo que parece ser uma série de rescisões nos contratos de trabalho de jogadores profissionais.

Bartolomeu, à boa maneira daquele jogo infantil “passa a outro e não ao mesmo”, dispara em todas as direções – o Sindicato dos Jogadores, as forças das trevas que querem destruir a Liga e os pequenos e médios clubes, por aí fora.

Esquece-se este exemplo do pior dirigismo desportivo, corresponsável pelo divórcio litigioso entre uma cidade e um clube, que na base de tudo estão meses de ordenados em atraso, devidos a profissionais que não podem estar sujeitos a ouvir aquilo que alegadamente lhes foi dito pelo homem que os contratou ou caucionou a respetiva contratação – que só recebem se evitarem a despromoção. Bartolomeu, sempre ponderado e nada populista, vai mais longe, noutra ocasião, ao apontar o dedo acusador ao jogador Keita, que teria fugido com uma mala onde estariam 6 mil euros. No capítulo seguinte, já não foi nada disso – houve um equívoco e Keita não será, afinal, um ladrão mas um homem de bem, como o prova a sua disponibilidade para regressar ao seio do clube e da entidade patronal. Pelo meio, há processos que merecem ser postos em causa, tais como as generosas ofertas de um presidente de outro clube e do dirigente máximo da Liga, disponíveis para avalizar uma parte do pagamento devido aos jogadores leirienses. Fiúsa e Figueiredo, ambos “a título pessoal”. Mas o que significa isso se eles são as mesmas pessoas que detêm responsabilidades públicas no futebol? Bartolomeu fala num 25 de Abril dos clubes pequenos. E é nesse momento que coro, engulo em seco, mastigo um palavrão e desligo a televisão. Vergonha!

Quando ligo de novo a TV ouço um treinador de futebol dizer ao canal do seu clube que não se atreve a passar pelo meio dos adeptos porque uns gostam dele, mas outros… Tem medo, visível, da multidão. Faço contas para concluir que foi o técnico que perdeu o campeonato e receia o ajuste de contas? Não, afinal foi o “mister” que viu os seus ganharem, apesar da sua presença. Chama-se Vítor Pereira e, sabemos agora, sofre de agorafobia. Não vai ficar na História.

In Record

maio 05, 2012

Jornal " O Benfica " Edição Nº 3548


Destaques

Principais títulos

- Opinião Luís Fialho:"Há mais Benfica" (pág 31)


 Títulos  


2 Síntese + Futebol Formação: "Benfica Summer Camp na Índia foi um sucesso"
3 Actualidade: "Olhar para o futuro!" + Formação: "Camadas jovens em destaque" + Opinião João Paulo Guerra
4 Crónica Rio Ave- Benfica: "Castigo nos arcos com a flecha do costume"
5 Análise à jornada: "Jornada exemplar" + Opinião Arons de Carvalho
6 Análise à jornada: "Mais uma etapa do Campeonato da Mentira" por António Rola
7 Antevisão 29ª jornada: "Adeus à Luz em 2011/12" + Opinião Afonso Melo
9 Juniores: "Cartada importante" + Opinião Pedro Ferreira
10 Juvenis: "Assalto ao Castelo" + Infantis e Benjamins: "Infantis A dão cartas em Itália"
11 Iniciados: "Alma de campeão" + Opinião João Diogo
13 Revista Mística: "Hoje, nas bancas" + Opinião João Malheiro
15 Opinião Pragal Colaço: "O alargamento dos Clubes (Parte I)"
16/17   Efeméride: "Glória ao maior Clube de Portugal"
19 7ª Corrida de Atletismo: "10 mil em festa na Luz"
20 7ª Corrida de Atletismo: "Foto-reportagem da Corrida de Atletismo"
21/22  7ª Corrida de Atletismo: "Foto-reportagem da Corrida de Atletismo"
23 Judo: "Tetracampeã da Europa"
24 Futsal: "Tragam o caneco" + "Teste positivo em Tondela"
25 Voleibol: "Venha mais um título para a Luz!"
26 Andebol: "Segurar o segundo lugar" + Ténis de Mesa: "Teresa Reis em 3º lugar"
27 Hóquei em Patins: "Benfica domina a Física" + Taça de Portugal: "HC Braga é o adversário"
28 Ginástica: "Dias com muita actividade" + Bilhar: "Carambola na final da Taça de Portugal"
29 Basquetebol: "Ganhar nos Açores!"
30 Tome nota e Programação Benfica TV
31 Opinião Luís Fialho: "Há mais Benfica"
32 Futebol: "Último jogo da época no Estádio da Luz" + Opinião José Jorge Letria + Breves + Falecimento





Futebol á Portuguesa _ José António Saraiva


Jesus e Vítor

Jorge Jesus e Vítor Pereira vão ter provavelmente o mesmo destino, embora por razões opostas.

Jesus pôs o Benfica a jogar mas não conseguiu este ano ser campeão; Vítor Pereira é campeão mas não pôs o FC Porto a jogar.

Com Jesus, o Benfica fez algumas das mais notáveis exibições dos últimos 20 anos, marcou golos para todos os gostos e voltou a ter um nome na Europa; com Vítor Pereira, o FC Porto perdeu algum do prestígio conquistado na Europa e não fez uma única exibição de encher o olho.

Jesus foi prejudicado pelos árbitros em vários jogos e, se não fosse isso, talvez estivesse hoje a festejar o título de campeão; Vítor Pereira festejou o título, mas se não fossem algumas ajudas dos árbitros talvez estivesse hoje a lutar com o Braga pelo 2.º lugar.

Jesus foi o grande obreiro dos sucessos do Benfica, que resultaram de uma dinâmica coletiva muito forte; Vítor Pereira não foi o obreiro dos sucessos do FC Porto, que resultaram sobretudo do talento de Hulk e de penáltis assinalados em momentos decisivos.

Tudo isto é verdade, mas os adeptos não gostam de explicações mas de resultados. E os adeptos do Benfica dizem que a equipa teve cinco pontos de avanço e os perdeu – e acrescentam que, se Jesus não conseguiu ser campeão em ano de crise do FC Porto, nunca mais o conseguirá.

O próximo treinador da Luz será, quase de certeza, pior. Mas essa é a questão que nenhum benfiquista quer hoje enfrentar, porque o necessário, neste momento, é arranjar um culpado. E, como Cristo, ele só pode ser Jesus.

In Record

maio 04, 2012

Entrevista de J.Jesus a "A Bola"

J. Jesus: “Chegando-se ao Benfica não se pode andar para trás”

O treinador da equipa de Futebol profissional do Sport Lisboa e Benfica, Jorge Jesus, concedeu uma entrevista ao Jornal “A Bola” onde fez uma análise à época que agora finda e assume que já está a preparar a nova temporada ao comando do leme da “águia”. Leia aqui o excerto da entrevista presente na edição impressa desta quinta-feira do Jornal "A Bola".

Para que não haja equívocos, e de forma muito frontal, por si continua no Benfica?

Quando cá cheguei em Junho de 2009 vinha com uma ideia do que era o Benfica e com a ambição de ganhar. Efectivamente, estava longe de imaginar exactamente qual era a dimensão do Benfica e é evidente que gostaria de ter ganho mais títulos daqueles que ganhei, mas sinceramente sei que dei tudo e deixei o melhor de mim em cada dia de trabalho. Tenho a consciência tranquila em relação ao que fiz. A resposta é sim. Sim, vou continuar com a mesma vontade, com a mesma determinação. Continuo empenhado em fazer do Benfica aquilo que os sócios e adeptos esperam. É evidente que a emoção conta sempre em momentos como este, mas se forem fazer uma análise seria do trabalho que foi desenvolvido três anos acho que mereço pelo menos o benefício de provar que continuo a ser útil ao Benfica.


Teve, ou alguém teve por si, algum contacto com o FC Porto ou com outo clube, visando a próxima época?

Estou farto dessa insinuação que é repetidamente feita com a única intensão desgaste. Estou no Benfica de corpo e alma e não estou interessado em qualquer outro projecto. Quando se chega ao maior clube português alguém pode querer andar para trás? Isso é um completo disparate. Já agora, também lhe devo dizer que estou farto de ouvir e ler que a questão de eu continuar ou não se deve simplesmente ao dinheiro. Totalmente falso. Não é pelo dinheiro que estou no Benfica. Se fosse por uma questão financeira teria saído do Benfica em Janeiro para o estrangeiro e o presidente sabe disso porque acompanhou a abordagem que me foi feita por um clube de outro país. Quero continuar no Benfica porque me sinto útil e porque as pessoas acreditam no meu trabalho.              


Portanto, a questão FC Porto é um assunto encerrado?

Esse é que é o problema, é que nunca foi assunto. A única coisa que quero do FC Porto é ganhar-lhes. Repito: quem alcança o topo não pode ambicionar a descer. Alguém dizia aqui há alguns meses que treinar determinado clube era a sua ‘cadeira de sonho’. Eu não estou na minha cadeira de sonho, estou na cadeira que qualquer treinador do Mundo ambicionava ter. Acha possível eu querer trocar de cadeira? O que eu quero é continuar nesta cadeira por muitos anos…

Apostou de mais na Champions?

Quando se joga a esse nível é evidente que temos de aspirar a chegar o mais longe que pudermos, até porque a questão financeira é fundamental para o clube e tudo isso pesa. A partir do momento em que ultrapassamos a fase de grupos, quando se colocou em causa a calendarização dos jogos, hoje possivelmente assumiria opções diferentes, mas lá está, há sempre o reverso da medalha: há jogadores que se valorizaram como não teriam valorizado se não chegássemos onde chegámos, houve muito dinheiro a entrar no clube e tudo isso pesa nas opções que assumimos no momento. E já agora, não é para nos desculparmos, até porque seguramente errei em alguns momentos, mas houve a partir de determinado momento um vento contra que soprou muito forte.

Considera que o plantel do Benfica é equilibrado? A estrutura que apoia a equipa sénior é sólida?

A equipa é equilibrada, mas é evidente que há margem para crescer e melhorar. Quando termina uma época há sempre espaço para algumas mudanças. Há que reflectir onde é que se falhou, onde é que se pode melhorar quer no plantel, quer na estrutura, e isso também vai acontecer no Benfica. Seguramente que haverá áreas em que chegaremos à conclusão de que poderíamos ter feito de forma diferente ou que faltou alguma coisa, mas esse é o trabalho que iremos fazer mal o campeonato termine. Mas há uma coisa de que não me posso queixar que é o grau de profissionalismo de toda a estrutura que me rodeia, o António Carraça veio acrescentar valor ao grupo e isso é importante de destacar.

 Em três anos venceu um campeonato, três Taças da Liga, qualificou o Benfica três vezes para a Champions, foi a uma meia-final da Liga Europa e aos quartos-de-final da Liga Europa e da Champions. Estes resultados satisfazem-no ou sabem-lhe a pouco?

Sinceramente, quando olho para trás sabem-me a pouco. Esta lista poderia ter no mínimo mais dois ou três trofeus. Mas não vou ficar agarrado a olhar para trás, o que vou fazer é trabalhar para que no próximo ano alguns desses trofeus que nos têm escapado possam estar nesta lista. Quando cheguei a minha ambição era ganhar dois campeonatos nos primeiros três anos. Não consegui, mas posso garantir-lhe que vou sair do Benfica com o Benfica por cima e que esse titulo terá de ser ganho no próximo ano. Há uma coisa que devo dizer, devo muito ao Benfica, o Benfica valorizou-me enquanto treinador. Sei que hoje, enquanto treinador, tenho o reconhecimento que não teria se aqui não estivesse, e é por isso que me dedico de corpo e alma, para poder retribuir tudo o que me deu.

 Na próxima época haverá o FC Porto do costume (este ano, sem deslumbrar, sagrou-se campeão), um Sporting mais forte e um SC Braga que se habituou aos lugares cimeiros. E que Benfica se deve esperar?

Um Benfica que quer ser campeão, ganhar a Taça de Portugal e a Taça da Liga e chegar o mais longe que for possível na Champions.

 Que mensagem quer deixar aos adeptos? O que podem eles esperar de si na próxima época?

Pedir-lhes que continuem a apoiar-nos. Sei a desilusão que estão a viver, mas também quero que saibam que essa desilusão não é maior que a minha, a dos jogadores, a do presidente. Fizemos um caminho difícil, por isso é fundamental estarmos unidos, porque só assim vamos conseguir alcançar os nossos objectivos.

«Quando se perde, o grau de desânimo é sempre grande» - Jorge Jesus

O treinador do Benfica aceita que lhe apontem erros. Ele, de resto, aponta alguns. Garante, porém, ter a consciência tranquila relativamente às opções tomadas e caminhos percorridos. E diz-se, hoje, tão motivado para trabalhar no clube como em junho de 2009, quando chegou. Diz que, quando sair, sairá por cima.

- Três anos à frente do Benfica representam um longo caminho. Sente-se com condições para enfrentar a próxima época, quer do ponto de vista pessoal, quer do apoio dos adeptos, atendendo a alguns sinais exteriores de contestação que têm sido percetíveis desde a derrota em Alvalade?

- Quando se perde, o grau de desânimo é sempre grande, principalmente num clube como o Benfica e, portanto, esses sinais são naturais em momentos como este. Tenho de os considerar e compreender, porque eu próprio sinto essa frustração, mas posso garantir-lhe que tenho, hoje, a mesma ambição e a mesma vontade que tinha quando cá cheguei no primeiro dia. Podem acusar-me de muita coisa, mas há uma garantidamente de que não podem, de falta de dedicação e de não ter dado sempre tudo pelo Benfica.

- Sente um clima diferente, para pior, à sua volta, no universo dos sócios e adeptos, ou entende que os assobios vêm apenas de uma pequena franja mais radical, responsável pelas paredes pintadas na Luz e em Vila do Conde?

- Repito o que disse atrás, manifestações de frustração são naturais, principalmente quando tínhamos uma perspetiva bem diferente daquela que temos hoje. Como acham que vivi alguns dos dias que se seguiram a alguns jogos em que perdemos pontos? Mas alguém pode acreditar que não demos tudo para chegarmos ao fim em primeiro? Portanto, eu partilho dessa frustração e repito que temos de compreender a desilusão dos adeptos. Mas já não posso compreender, como também já disse no passado, as pinturas feitas, não se sabe por quem, e que colocam em causa a pessoa responsável por hoje existir o Benfica tal como o conhecemos.


"gamado do fórum Glorioso SLB"  não resisti a colocar aqui...!

maio 02, 2012

O Voo da Águia_ Marta Rebelo


E agora, JJ?

Na verdade não quero escrever. Estou a ver os carros a descer os Aliados, os cachecóis do FCP, os comentadores a alertar para o perigo de Jorge Jesus ir para o FC Porto na próxima época. Face ao empate em Vila do Conde, e depois de termos tido tudo na mão e tudo ter voado, o que é que há a dizer?

A discussão, agora, centra-se na permanência de Jesus. Neste momento quero lá saber quem é que fica ou sai. Só me vêm à memória os pontos e os jogos perdidos. Não foi o FCP que ganhou isto. A época passada ganhou com justiça, ganhou-nos à goleada, estávamos de gatas. Este ano fomos melhores, muito melhores. Não há quem falte a afirmar que o Benfica joga o melhor, mais intenso e artístico futebol da nossa liga. E jogou, até Guimarães. Até a alta cilindrada a que JJ obriga as suas equipas ter feito peso nas pernas dos gloriosos. Fez estragos, com o FCP de um cinzentíssimo Vitor Pereira a jogar um futebol “que está benzito”, mas esteve assim morno até à regularidade e até à nossa queda. Este ano não se trata bem de mérito, mas de demérito. Nosso. Nós perdemos o campeonato. O FCP estava à espera da boleia. Apanhou-a, e chegou à meta.

Não me ocorre pensar que Jesus possa sair para o FC Porto. Pode sair, e neste segundo preciso serão milhões os que lhe querem a cabeça – que vale “apenas” 6 milhões de euros. Também não é claro para mim quem o viria substituir: Jardim? Mas não vai para o FCP? Domingos (cruzes-canhoto)? Mas não vai para o FCP? Vamos ao mercado estrangeiro? Tenho maiores certezas quanto à saída de Vitor Pereira do nosso rival do que na de JJ da Luz. Mas pensar, mesmo no meio da minha mágoa perdedora, que Jesus pode ir para o Porto, isso é que não. O Rui Águas foi, não sei se o pai lhe deixou de falar. O Dito foi, nunca mais foi jogador que se visse. A ideia de ver os segredos do nosso balneário cair nas mãos deles é tenebrosa. E para quem acabou de confirmar que queria mas não tem o Benfica campeão, chega de más notícias.


In Record

maio 01, 2012

Por força da lei _ Ricardo Costa


Primavera quente

O mais provável é não haver jogo hoje na Marinha Grande: a Leiria SAD não terá jogadores para se apresentar em campo e o Conselho de Disciplina da FPF abrirá um processo disciplinar por “falta de comparência”. Tratando-se de um dos últimos 3 jogos do campeonato, o clube faltoso será punido com descida de divisão, derrota no jogo por 0-3 e multa até 50 mil euros. As sanções só são aplicadas, porém, se a falta não for justificada no prazo de 2 dias. Olhando para os factos, para as declarações dos principais intervenientes e para o Regulamento Disciplinar (RD) da Liga, é bem provável que a Leiria SAD invoque “comportamento culposo de terceiros” para justificar a impossibilidade de comparência, uma das causas de afastamento da ilicitude disciplinar. Caberá ao Conselho de Disciplina e ao Conselho de Justiça decidirem.


Projeta-se também a vontade dos administradores da Leiria SAD em declarar o “abandono da competição”, depois do abandono da maior parte dos jogadores credores de salário. As sanções são ainda mais graves: desclassificação no campeonato; exclusão dos campeonatos profissionais por um período que pode ir de 1 a 5 épocas; multa de 100 mil euros. A ameaça trouxe novas contas para a tabela classificativa, uma vez que o RD determina que a Leiria SAD não poderá prosseguir em prova, todos os resultados dos seus jogos seriam anulados e desconsiderados na classificação e, por último, ficaria a Leiria SAD colocada em último lugar com 0 pontos. Isto é, tudo se passaria como se houvesse 15 clubes em prova sem a Leiria SAD. Porém, nem mesmo isso é líquido. O mesmo RD da Liga apresenta uma norma especial que impõe a homologação dos resultados dos jogos 30 dias após a sua realização. E acrescenta: “Quer os protestos sobre qualificação de jogadores quer as denúncias de infrações disciplinares admitidos e feitos depois daquele prazo não terão quaisquer consequências relativamente a esse jogo e na tabela classificativa, ficando os infratores unicamente sujeitos às penas disciplinares previstas e aplicáveis para os ilícitos que vierem a ser provados.” Ou seja, a desclassificação poderá só produzir efeitos para os jogos não homologados em relação à data do “abandono”, preservando-se os jogos anteriores e obrigando a outras contas. Confuso? Nada como o Conselho de Disciplina e o Conselho de Justiça o elucidarem, se for o caso, até ao fim da primavera…


E ainda sobram os processos disciplinares aos jogadores, a eficácia da noticiada renúncia dos administradores da Leiria SAD e o âmbito dos poderes de tais administradores enquanto se mantiverem em funções e a eventual responsabilidade civil societária desses mesmos administradores pelos prejuízos causados pelas drásticas consequências do eventual abandono. Muito direito, portanto.


Mas não só. Se houver coerência nos atos e no pensamento, seguem-se mais greves e estímulos de “rescisões coletivas” dos jogadores dos 80 por cento de clubes profissionais que têm até 5 meses de salários em atraso, em especial nas cidades com mais paixão pelos seus clubes. É o que se espera. A não ser que esta semana tenha revelado apenas sindicalismo… “seletivo”!

In Record

Um velho conhecido no sistema do fcporto

 António Garrido: “Marquei penalties quase sem ter visto”

O ex-árbitro, considerado o melhor árbitro português de todos os tempos, conta as aventuras de uma carreira ímpar. Confessa que a principal mágoa foi ter falhado por um triz a final de um Campeonato do Mundo, ao mesmo tempo que revela que esteve para abandonar a arbitragem, quando lhe incendiaram o carro em Guimarães no quente ano de 1975.

E pensar que detestava árbitros...

É verdade! Era correspondente na Marinha Grande do jornal Mundo Desportivo e se o Marinhense não ganhasse, atirava-me a eles. Tenho a noção que era a pior coisa que podia haver. Não gostava mesmo, posso dizer que era o seu maior inimigo.

Mas acabou por ir lá parar...
Fui dirigente do Marinhense durante vários anos e tinha um amigo que era o presidente da Associação de Futebol de Leiria, o saudoso Vieira Ascenso, que me convenceu a frequentar o curso. Continuei a não querer ser árbitro e estive um ano sem pegar no apito. Até que um dia fui experimentar - a fiscal-de-linha - e gostei. Comecei a sentir um carinho muito grande pela arbitragem e vi que se chegasse ao topo podia aproveitar para fazer aquilo que mais sonhava: viajar. Assim foi.

Como é que um árbitro reage quando tem a noção que errou?
Na minha carreira houve penalties que marquei quase sem ter visto(devem ter sido todos para o clube da corrupção). E outros que não marquei e que foram. Há aquele momento exacto, aquela fracção de segundo e o apito sai ou não sai. Se não sai, já não há nada a fazer. Mas se apitamos e ficamos a pensar que se calhar não foi, é seguir o jogo e nada de entrar na lei das compensações. Isso é o pior que pode acontecer a um árbitro. Pressentir que errou e depois procurar emendar o erro com outros erros.

Há algum momento na carreira que tenha sido particularmente difícil?
Tive um único momento grave na minha carreira. Foi em Guimarães, numa partida entre o Vitória e o Boavista que decidia a presença de uma das equipas na Taça UEFA. No final do jogo, estava nos balneários, e deram-me conhecimento que me tinham incendiado o automóvel. Foi um momento difícil e deram-me inclusive o telefone para me despedir da família, porque aquilo estava efervescente. Estávamos em 1975, um momento muito conturbado, e acredito que foi mais por causa da época que se vivia do que do jogo em si que aconteceu aquilo.

Pensou deixar a arbitragem?
Pensei. Estive mesmo para abandonar, mas consegui resistir e pensar que se o fizesse seria um cobarde. Acreditei que se conseguisse ultrapassar aquilo é porque não havia limites para a minha carreira.

Alguma vez sentiu algum tipo de pressão para favorecer quem quer que fosse em todos aqueles anos de carreira?
Nunca senti pressão nenhuma, de clubes, dirigentes ou treinadores(pressão não existe, só em mentes perversas, então não). Talvez por eu estar num patamar superior, que fazia com que as pessoas me encarassem como uma figura do jogo em si.

Qual era a sua principal característica?
Era um árbitro muito ambicioso. Se dirigia a final da Supertaça Europeia, a seguir tinha de arbitrar a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Se ia a um Europeu, tinha de ir a um Mundial. Se ia a um Mundial, então tinha de ir a um segundo e dirigir a final. Não tinha limites. E se tivesse apitado a final do Mundial, pensava que a seguir só na Lua...

Falhou por pouco essa final do Campeonato do Mundo...

É um dos grandes desgostos da minha carreira. Estava programado que iria fazer o jogo da final entre o Brasil e a Alemanha, só que com surpresa geral, a Itália eliminou o Brasil que era, de facto, a melhor equipa. Tive de ir fazer o jogo de atribuição dos terceiro e quarto lugares e quem foi arbitrar a final foi o brasileiro Arnaldo Silva Coelho.


Nesse jogo das meias-finais estava a torcer pelo Brasil?
Olhe, tenho um episódio muito engraçado para lhe contar. Estávamos os dois reservados para a final e para o jogo dos terceiro e quarto lugares. Vimos o jogo no quarto do hotel e enquanto eu pugnava pelo Brasil, ele pugnava pela Itália. No final fiquei bastante aborrecido e ele contente. É normal, um árbitro arbitrar a final de um Campeonato do Mundo é o máximo que se pode atingir na carreira.

Também se falou muito de uma atitude que teve na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus que dirigiu...
Especulou-se bastante. Toda a crítica foi unânime em considerar que fiz uma arbitragem impecável, mas quando o jogo terminou cerrei os punhos e fiz um gesto de contentamento. O gesto foi apreciado por um lado, por outro foi muito criticado, porque dizia-se que teria ficado muito contente por o Nottingham Forest ter ganho. Nada disso, aquilo foi apenas uma forma de descarregar os nervos. Tinha cumprido e estava naturalmente satisfeito.

Teve muitos problemas com jogadores?
Posso dizer que fui um privilegiado. À medida que a cotação de um árbitro sobe, um jogador também acaba por ter mais confiança no seu trabalho. Nunca fui de mostrar muitos cartões – nos últimos quatro anos da minha carreira não mostrei nenhum cartão vermelho – raramente mostrava amarelos porque dava prioridade ao diálogo. Hoje é mais difícil, por causa das televisões, mas eu tinha sempre um diálogo com os jogadores, procurava aconselhá-los e por isso os jogadores respeitavam-me. O jogador olhava para mim, não como um inimigo, mas como um amigo que conversava com ele. Quando um jogador se aproximava de mim, para protestar, dizia sempre: ‘falem comigo mas não me levantem os braços’. Houve um jogo, no Torneio da Corunha, em que expulsei o Cruijff. No dia seguinte foi ter comigo ao hotel para pedir-me desculpa. Tinham-me muito respeito.

Tratava os jogadores pelo nome?
Sempre. Sabia o nome de todos os jogadores, fossem das 1.ª, 2.ª ou 3.ª divisões. Sempre fui um estudioso dos jogadores, das suas características e isso dava confiança na relação.

“Posso dizer que hoje sou portista”


Em Portugal também era respeitado como no exterior?
Sim. Fazia quase todos os jogos entre o Benfica e o FC Porto. Naquela altura os árbitros de Lisboa e do Porto não podiam dirigir essas partidas. Como era de Leiria tinha a facilidade de poder fazer esses encontros todos.

Do Sporting não dirigiu porque se declarou sportinguista...
Todas as pessoas têm uma predilecção por um clube. Podemos ser do Marinhense ou da União de Leiria, mas também de um a nível nacional e, nessa altura, ou se era do Sporting ou do Benfica. Tínhamos de dizer qual era o clube da nossa simpatia e eu disse que era do Sporting. Houve quem dissesse que era do Oriental... A Comissão de Árbitros não me nomeava para o Sporting e só por uma vez dirigi um FC Porto-Sporting, um jogo decisivo para o título, e as direcções dos dois clubes entenderam que eu era a pessoa indicada.

Ainda é o seu clube do coração?
Hoje, não. Vamos lá ver. Uma pessoa acaba por se sentir bem onde nos tratam bem. Não é que o Sporting ou o Benfica não me tratassem bem. Acompanhei os árbitros nos jogos desses clubes, mas também da União de Leiria e do Boavista, mas comecei a sentir-me acarinhado, principalmente quando terminei a carreira, pelo FC Porto. Acabei por ganhar uma simpatia pelo FC Porto e posso dizer que hoje sou portista.

Quais eram as suas funções enquanto colaborador do FC Porto? Há quem diga que teve tanta importância nos títulos conquistados como Pinto da Costa...
Nunca tive qualquer função. Passei a gostar do FC Porto devido ao carinho das pessoas, fiz uma ou outra palestra a nível dos jogadores, como fiz noutros clubes. Agora uma função, não. Passei a acompanhar o FC Porto e continuo a acompanhar os árbitros nas partidas internacionais do FC Porto porque sou nomeado pela UEFA através da Federação Portuguesa de Futebol. De resto, como já acompanhei os árbitros do Benfica e do Sporting.

Diz-se que a Marinha Grande é melhor madrasta do que mãe. Sente que o seu concelho o reconhece como merece?
Acho que sim. Nasci em Vieira de Leiria e aos 12 anos mudei-me para a Marinha Grande, que me reconheceu como uma figura do concelho e até me atribuiu a medalha de ouro(será que foi merecida). Mais do que isso não sei o que poderiam fazer. Quanto às pessoas em si, é bastante natural que existam algumas que não gostam de mim. Por terem simpatia por este ou aquele clube, mas sobretudo porque são bastante invejosas(invejoso deve ser para rir, deve pensar que é mais importante que os outros Marinhenses, vai dar banho ao cão).

E Portugal?
Olhe, o País reconheceu-me mais do que a própria terra. Fui reconhecido pelo Governo com a medalha de Mérito Desportivo e mais tarde fui agraciado pelo Presidente da República com o grau da Ordem do Infante D. Henrique. Quer dizer que Portugal viu em mim uma figura que merecia ser reconhecida. Por outro lado, depois de ter terminado a minha carreira como árbitro, fui durante 20 anos instrutor de árbitros da FIFA, observador da UEFA e comissário de árbitros em campeonatos do Mundo. Fui quatro anos membro do Conselho de Arbitragem a nível nacional e nunca fui dirigente da Associação de Futebol de Leiria.(Peça aos corruptos mais medalhas)

E como é que isso se explica?
Nunca tive aquele reconhecimento que penso que merecia. Nunca fui convidado para uma palestra, para nada! Talvez não fosse uma pessoa querida para muita gente. Não me cria uma mágoa muito grande, mas penso que não se coaduna com todo o reconhecimento que tive em Portugal e no estrangeiro.(Só se fosse para explicar como marcar penalties sem ver a falta)


“O futebol também vive dos erros dos árbitros”

Acha que a televisão complica muito o trabalho dos árbitros?
Antigamente havia televisão, mas muito menos câmara. Agora vão analisar com minúcia o eventual erro do árbitro através dos vários ângulos disponíveis. Vê-se de um lado, de outro e só ao sétimo ou oitavo é que se consegue perceber se acertou, se errou. Como à comunicação social interessam sobretudo os erros, vão especular sobre o que esteve mal. Penso, por isso, que a televisão prejudica mais do que beneficia.(Mostra a porcaria que fazem, já não podem esconder, bem a sportv ainda ajuda)

Concordaria se se utilizassem as novas tecnologias para auxiliar o trabalho do árbitro, de resto como se vê no basquetebol?
Sou contra. Apenas admitia o chip na bola para saber se entrou na baliza. Tudo que seja além disso é acabar com a modalidade, porque o futebol também vive dos erros dos árbitros. Imagine que paramos o jogo para ir ver as imagens. E depois, se não for grande penalidade, como reatamos a partida? Considero que está bem como está, as leis beneficiam o espectáculo.(Verdade Desportiva!!! nem pensar)

Os árbitros estão a sofrer as maiores críticas de sempre?
Hoje o futebol é uma indústria que envolve milhões e milhões e normalmente as críticas negativas acabam por cair na pessoa mais indefesa. Os clubes não vão acusar os próprios jogadores e normalmente quando se perde é porque o árbitro errou. As críticas até podem ser justas, mas são empoladas.

Aqueles programas de debate também não ajudam nada...
Também vejo esses programas e quando são à mesma hora até os gravo. Por vezes debatem problemas de arbitragem que não estão abalizados para o poder fazer.

Concorda com o facto das nomeações terem passado a ser secretas?
Não. Não é por terem sido tornadas secretas que se vai dar mais garantias ou haver maior suspeição. O árbitro deve ser nomeado com antecedência, toda a gente deve saber quem é, acima de tudo não deve haver críticas dos dirigentes e treinadores antes dos jogos. Acredito que seja uma situação pontual, depois de todos estes problemas, mas para haver confiança deve ser tornada pública.(Secretas só para alguns, não foi)

Os árbitros fizeram bem em faltar àquele jogo do Sporting devido às críticas?
Na minha altura também houve greves, mas era por outros motivos. Eu nunca faltaria a um jogo para ir contra um clube.

Há corrupção na arbitragem?
Até ser provada não existe. ( Ainda mais, não chega o Youtube)

O homem do diálogo
António Garrido completa em Dezembro 80 anos e 30 que deixou a arbitragem. Nasceu em Vieira de Leiria e aos 12 anos mudou-se para a Marinha Grande. Detestava árbitros, mas acabou por ser o melhor deles. Começou como fiscal-de-linha num Peniche-Caldas de juvenis em 1964 e a estreia como árbitro foi num “Os Nazarenos”-Mirense no mesmo ano. Em quatro anos chegou ao topo da arbitragem portuguesa, mais três anos e chegou a internacional. “Foi uma carreira brilhante. Momentos bons foram incalculáveis, mas tenho de destacar as duas presenças nos campeonatos do mundo, em 1978 e 1982, o Europeu de 1980 e, para mim, um dos momentos altos foi a final da Taça dos Campeões Europeus de 1980, entre o Nottingham Forest e o Hamburgo”, diz com indisfarçável orgulho. Também arbitrou uma Supertaça Europeia em 1977, entre o Liverpool e o Hamburgo. Cumpriu o sonho de dirigir uma partida em Wembley, a final do campeonato britânico entre a Inglaterra e a Escócia. “Como um tenor sonha cantar no Scala de Milão, eu sonhava arbitrar em Wembley e consegui-o.” Contabilista de profissão, procurava ter o jogador na mão. “Às vezes dizia a um, que estava a perder, que faltavam três minutos e ainda tinha hipótese de marcar, e depois dizia ao adversário que faltavam três minutos e que tinha de aguentar. Sabia viver dentro do campo. Tinha grandes condições como árbitro, mas também como homem de diálogo.”


Entrevista ao Jornal de Leiria, a vermelho os meus comentários mais suaves....

Benfica TV mostra o bom trabalho da apaf


Fanado ao Blog do Manuel

Photobucket