O Benfica faz bem de estrear o filme mas não pode deixar em adiar a estreia
Ontem, na última página deste jornal, lia-se uma boa notícia para o futebol português e, também, para o cinema português. É que o filme existe. E, segundo A BOLA, as imagens são «nítidas, com boa iluminação, a cores» e «sem cortes» e foram «captadas por mais do que uma câmara». O filme, portanto, não só existe como, melhor ainda, é um bom filme, de qualidade superior. Tem profundidade de campo e tem campos e os respectivos contra-campos, enfim, não lhe falta nada para ser um êxito. No entanto, ao que parece, não deve ser um filme para intelectuais. Presume-se que a linguagem seja crua e que a história seja facilmente perceptível por todos os públicos sem que haja necessidade de recorrer a manuais de semiótica.
Bem faz o Benfica em adiar-lhe a estreia. E não se trata de fazer crescer o apetite do público. É porque só assim ficaremos a conhecer na íntegra o carácter analítico e a capacidade descritiva dos delegados da Liga e dos árbitros, obrigados, por força dos seus ofícios, a terem de relatar por escrito o que viram — ou seja, a fazerem a crítica — antes que o grande público possa, finalmente, ter acesso à obra e a exprimir livremente a sua opinião.
O Benfica faz bem em adiar a estreia mas não pode deixar de estrear o filme do seu Túnel, sob pena de ficar igual ao Sporting de Braga que promoveu durante semanas o seu filme do seu Túnel mas nunca o pôs cá fora, a correr nitidamente e sem cortes como tantas vezes sugeriu que iria fazer. Assim, não vale.
Não sendo o futebol um Estado dentro do Estado, nada impede o Benfica de exibir o filme. As câmaras são suas, as imagens são suas, não há nenhuma guerra com direitos de autor e não há nada na Constituição portuguesa que legitime uma eventual pretensão dos órgãos disciplinares da Liga e da FPF a serem os espectadores exclusivos do filme.
A Comissão Disciplinar da Liga, agindo antes da estreia nacional do filme, suspendeu dois jogadores do FC Porto e instalou um inquérito ao comportamento dos stewards, inglesice que baptiza em Portugal os assistentes de recinto desportivo que têm por função o manter da ordem e o fazer cumprir os regulamentos.
Se algum dos assistentes de recinto desportivo presentes no Túnel do Estádio da Luz foi incorrecto com a comitiva visitante ou extravasou as suas funções permitindo-se ao diálogo com jogadores ou dirigentes do FC Porto, será justa qualquer medida correctiva a aplicar.
É isso que queremos ver. Isto é, queremos ver o filme. Com tamanha expectativa é natural que comecem a surgir rumores sobre algumas cenas do Túnel.
Segundo consta, o momento mais conseguido da obra é um longo plano sequência em que ouvimos dois assistentes de recinto desportivo a comentar entre si, jocosamente, a transferência das corridas de aviões Red Bull do Porto para Lisboa e o romeno Sapunaru, de tão revoltado que ficou, terá alegadamente feito voar a sua bota — qual aviãozinho! — até a fazer aterrar em cheio na alegada cabeça de um alegado assistente de recinto desportivo.
Nos grandes jogos, como foi o de domingo na Luz, é muito frequente os melhores marcadores de cada equipa ficarem em branco. É frequente, muito natural e facilmente explicável. Pela importância do resultado e pelas responsabilidades competitivas dos emblemas em compita, as duas equipas, ao não quererem sofrer golos, reforçam drasticamente a vigilância e não dão o mínimo espaço aos goleadores adversários. E foi assim que Cardozo e Falcao não marcaram no domingo e deixaram interrompida por uma jornada a sua luta privada pela conquista de A Bola de Prata.
Cardozo, sem ter marcado, fez uma exibição enorme. Correu mais de oito quilómetros, lavrou o campo todo, concentrou-se totalmente no jogo e não andou a pedir explicações nem ao árbitro nem aos adversários, como lhe aconteceu em Braga e em Olhão com maus resultados quer para si quer para o colectivo a que pertence.
Falcao não foi tão útil à sua equipa quanto Cardozo mas teve um lance de golo que falhou por um palmo. Falcao foi descoberto pelo Benfica na Colômbia e contratado pelo FC Porto. Pinto da Costa até já agradeceu publicamente ao Benfica a valiosa indicação.
Pois o mesmo Falcao, a oito minutos do fim, esteve à beira de dar ainda mais razão aos olheiros do Benfica que lhe referenciaram a utilidade, quando na sua área defensiva aliviou tão mal ou tão bem a bola que deixou Helton batido e quase ia marcando, na sua própria baliza, o segundo golo do Benfica, com a ironia do costume. E teria sido esse o resultado mais justo.
vistos de Lisboa, os acasalamentos dos 16 avos- de-final da Liga Europa mais parecem uma brincadeira à moda da Segunda Circular do que um sorteio puro e duro à moda da UEFA.
Da fase inicial de grupos para a fase dos encontros directos a eliminar, aconteceu que Benfica e Sporting trocaram de adversários, o que vai acrescentar uma dose extra de emoção aos respectivos jogos internacionais a disputar em Fevereiro não fosse a rivalidade entre os vizinhos de Lisboa aplicável, também, quando se trata de comparar resultados e exibições.
E, pelo que já se viu este ano do Hertha Berlim e do Everton é caso para se dizer que Benfica e Sporting tiveram muita sorte no sorteio.
No que diz respeito ao Hertha, último classificado do campeonato alemão, bastará ao Benfica fazer um bocadinho melhor do que fez o Sporting, o que não é exigir muito a quem pretende ir o mais longe possível na Liga Europa.
No que diz respeito ao Everton, equipa inferior do meio da tabela do campeonato inglês, goleada na Luz e expressivamente derrotada em casa, bastará ao Sporting fazer bastante pior do que o Benfica fez para, mesmo assim, eliminar o adversário e seguir em frente na competição.
Lionel Messi venceu o prémio da FIFA para o melhor jogador do ano de 2009. Outra decisão seria impensável. Com Messi sempre preponderante, o Barcelona ganhou dentro e fora de portas tudo o que havia para ganhar.
Na hora da consagração, em Zurique, Lionel Messi, o grande artista individual, não se esqueceu do mais elementar nestas ocasiões, ou seja, não se esqueceu que é parte de um colectivo e, justamente por isso, disse: «Obrigado. É um prémio muito importante que partilho com os meus colegas.»
Cristiano Ronaldo cedeu o título de melhor do mundo ao argentino mas ganhou o prémio da FIFA para o melhor golo do ano. Outra decisão seria impensável. Mas, ao contrário de Messi, o português não partilhou a distinção com os colegas.
E, de facto, não havia razão para o fazer porque naquela noite de 15 de Abril de 2009, Cristiano Ronaldo, então ao serviço do Manchester United, fez tudo sozinho. Não precisou dos colegas para nada. Pegou na bola à saída do círculo central, deu não mais do que quatro passadas, levantou a cabeça, acertou a mira e disparou um tiro fenomenal de força e colocação. O guarda-redes adversário nada podia fazer. Foi, sem dúvida, um grande momento de 2009.
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