abril 07, 2011

RAP in Record Video

Email Aberto _ Domingos Amaral


Todos à Luz

From: Domingos Amaral
To: Sócios do Benfica

Caros sócios do Benfica
Bem sei que há uma crise económica, e na quinta-feira há jogo importantíssimo com o PSV, mas mesmo assim não compreendo porque muitos de vós ficarão no sofá, e não haverá casa cheia hoje contra o FC Porto. O “inferno da Luz” é uma das poucas vantagens que temos. Mais de 60 mil a puxar pela equipa, poderiam dar a provar ao FC Porto um veneno que nunca provou este ano, e a que Valdano chamava “medo cénico”: a perturbação psicológica, um quase terror, que se apodera de uma equipa quando vê um estádio inteiro a gritar contra ela.

Principalmente porque, é importante recordar, este FC Porto joga muito fora de casa. Para a Liga Europa, ganhou todos os jogos, incluindo Sevilha e Moscovo. Para o campeonato, só empatou em Alvalade e Guimarães. Sabe pois o que é ganhar fora, e como fazê-lo. Mas, ponto relevante, nunca enfrentou este ano um estádio completamente cheio, com mais de 60 mil gargantas a pressioná-lo...

Portanto, aqueles de vós que ainda têm uns euritos na carteira, metam-se a caminho da Luz. Somos benfiquistas, “de um clube lutador”, como canta o Piçarra, e todos juntos podemos empurrar a rapaziada para uma vitória essencial para o que resta da época. Aqui devíamos dizer, como diziam os espanhóis: “no pássaran!” Igualar o recorde do Hagan? Campeões? Esqueçam! Alto e pára o baile, que aqui mandamos nós! Vamos lá cambada, todos à molhada, todos à Luz mostrar aos tripeiros que até os comemos!
PS: Ó Jesus, cuidado com o Guarín.

In Record

abril 06, 2011

Por força da lei _ Ricardo Costa


Próximo capítulo

Por estes dias, Bruno de Carvalho, o “challenger”-surpresa das eleições no Sporting, viveu as angústias do processo de decisão – impugnar ou não as eleições no Sporting. Uma simples folha de papel ou um linear esquema mental: de um lado os méritos, do outro lado os danos, no fim a equação final. Para isso, os fatores críticos de sucesso e de insucesso: a capitalização do crédito que ganhou como candidato à sucessão de Godinho Lopes; o ónus de criar um hiato incómodo na gestão imediata do Sporting. Lembrou-se do que prometeu na “madrugada sem fim”. Terá sabido reconhecer que foi absorvido pela rapidez de Godinho, Duque e Freitas – o tridente “GDF” do novo poder sportinguista – em consolidarem a legitimidade para além dos boletins de voto. Esperou por uma “vaga de fundo” para avançar em força: não a teve; percebeu que estava sozinho com os seus votos. Ou saía de cena, com o típico discurso da “reserva moral”, ou ia para o conflito. Conclusão: foi para a guerra.

No rescaldo da “madrugada sem fim”, adiantou-se que poderia ter havido problemas com os votos. Ou seja, a possibilidade de existirem “vícios de procedimento”, que afetariam a validade da eleição dos membros dos diversos órgãos sociais do clube ou, pelo menos, da Direção. Para isso será importante ver o detalhe da ata da Assembleia Geral eleitoral, bem como auscultar os representantes de cada uma das listas concorrentes durante o ato eleitoral. Em particular poderá estar em causa: (i) a contagem indevida de votos adstritos aos sócios que exerceram validamente o seu direito de voto, tendo em conta uma eventual diferença entre os votantes registados e os votantes que exerceram efetivamente o seu direito de voto; (ii) a eventual falta de controlo do número de votos a que os sócios votantes tinham direito; (iii) a eventual admissão do exercício de direito de voto por sócios sem as devidas condições estatutárias.

Será à volta destes argumentos que, aparentemente, será esgrimida em tribunal a procedência da suspensão cautelar do ato eleitoral. Para além disso, o tribunal terá de se convencer que a demora ulterior da ação em que se discutirá a validade das eleições acarreta prejuízo “apreciável” para Bruno de Carvalho e que a suspensão dos resultados eleitorais não causa um prejuízo superior à manutenção em funções dos eleitos. O que não é líquido, como se compreende. Independentemente disso, uma vez chegada a Alvalade a “citação” da providência cautelar, os eleitos passam a exercer ilegitimamente as suas funções até à decisão da providência cautelar. Logo, dúvidas, ruído e possibilidades de vazio…

O “quase-presidente” ponderou e não se ficou; o tribunal ajuizará. Se não tiver na mão irregularidades claras e manifestas, Bruno de Carvalho arrisca demasiado e terá de preparar-se para ser responsabilizado pelo pousio e para ser engolido pela pressão do “GDF”. Se as tiver, outro será o cenário no fim das contas. A partir de agora, joga-se o crédito que angariou nas urnas. E a avaliação final sobre ter ou não ter paciência para agarrar o futuro.
In Record

abril 01, 2011

Crónica de João Malheiro



Com Jesus

Ainda há quem recorde o começo da temporada do Benfica? As saídas do genial Di María e do versátil Ramires, vendidos por razões mais que imperativas? Nessa altura, ainda com o não menos magnífico David Luiz, dispararam acusações de múltiplos quadrantes, acerca do quadro de jogadores do campeão nacional, mais ainda dos seus novos recrutas.
Gaitán? Jara ? Salvio? Jorge Jesus foi questionado, foi mesmo amesquinhado. Também Luís Filipe Vieira, também Rui Costa. Que jogadores eram aqueles que o Benfica havia contratado? Alguns meses volvidos é de unanimidades que se fala. De futebolistas de grande valia, ademais jovens com enorme margem de progressão.

Vale a pena, até porque a nacionalidade é a mesma, recordar o primeiro ano de um tal Hector Yazalde no Sporting, iniciava-se a década de setenta. A temporada inaugural do avançado argentino foi mediana, muitas vozes se levantaram interrogando a justeza da opção leonina. E no ano seguinte? Yazalde explodiu, fez história, ainda hoje faz história.E o próprio Di María? No primeiro ano de águia ao peito persuadiu os adeptos? Não houve quem colocasse dúvidas acerca do seu potencial? Mais tarde desequilibrante, titular da selecção argentina, do Real Madrid de Mourinho, trata-se insuspeitamente de um dos melhores executantes mundiais.

Gaitán? Jara? Salvio? Apresentem-se as devidas desculpas a Jorge Jesus, esse mesmo treinador que transformou um extremo de nome Fábio Coentrão num dos melhores laterais-esquerdos da bola internacional.

Crónica de João Malheiro



Rasca?

A geração à rasca manifestou-se. Esmagadoramente, que o país anda mesmo à rasca. Tão à rasca que a multidão deixou os governantes enrascados, incapazes de perceberem que quem está à rasca são, mais do que todos, eles próprios. À rasca ficaram as formações políticas, que viram as massas, desenrascadamente, tomar a dianteira.

À rasca ficam, doravante, aqueles que subestimam a força contestatária do povo, da juventude, dos sovados pelo desemprego, pela precariedade, por salários ou reformas obscenas. À rasca só não ficaram os que quiseram dizer que estavam à rasca. Vão continuar a desenrascar manifestações que deixarão enrascados os responsáveis por políticas socialmente injustas e rascas.

Numa semana à rasca, acabou por ser o futebol a desenrascar-se. Benfica, FC Porto e Sp. Braga puseram de rastos a Europa da bola. Três equipas desenrascadas seguiram em frente.

Conhecido o sorteio dos quartos-de-final, os adversários já estão à rasca. Sabem que se joga bola desenrascada em Portugal, sabem que há três conjuntos desenrascados, capazes de provocar uma grande enrascada nas contas de quem governa o futebol no Velho Continente.

Uma final portuguesa não é cenário despiciendo. Era ou não era de deixar à rasca aqueles que olham de través para o pontapé nacional? E muita sorte têm os políticos para quem a rasca da bola até os pode desenrascar de maior contestação. É um dos sortilégios do futebol. Distrai a gente, a que está à rasca e a que não está ou diz que não está à rasca.

Comunicado do SLBenfica


Esclarecimento

O Sport Lisboa e Benfica face a algumas posições públicas assumidas nas últimas horas vem esclarecer que não quer alimentar nenhum tipo de polémica em relação ao jogo do próximo domingo, contra o FC Porto.

O Sport Lisboa e Benfica vai tratar com o respeito e o fair-play merecidos a instituição, os dirigentes e adeptos do FC Porto. Nesse sentido – e ao contrário do que sucede em outros campos - não vai omitir o nome do FC Porto, nem deixar de hastear a sua bandeira, como é próprio de instituições sérias e sem quaisquer tipo de complexos.

Em relação aos adeptos, e para informação dos mais distraídos, limita-se o Sport Lisboa e Benfica a aplicar – e dentro do quadro legal vigente – o princípio da reciprocidade. Os nossos sócios e adeptos nas deslocações ao Estádio do Dragão têm sido sistematicamente impedidos de entrar com bandeiras do Benfica ou quaisquer outro tipo de adereços, ao contrário do que sucede em todos os restantes estádios nacionais e estrangeiros.

Esta decisão foi devidamente ponderada e é irreversível, porque em questões morais – e dentro da legalidade – nunca se deve vacilar.

O futebol português dispensa a violência e a intolerância, mas também prescinde de “virgens ofendidas”.

Crónica de João Malheiro



Bruxaria

O FC Porto tem hegemonizado o futebol português no último quarto de século. José Maria Pedroto, no final dos anos setenta, lançou a divisa ao precisar que “passamos de pombinhos provincianos a falcões moralizados”. Foi assim, foi mesmo.
A mudança de mentalidades e o rigor nos processos transformaram o emblema nortenho numa pujante máquina competitiva. Por que se queixam, então, os antagonistas da supremacia portista? Não é, seguramente, pela disciplina que caracteriza o quotidiano do clube, tantas vezes até objecto de inveja dos críticos ou detractores. A questão é outra, tem a ver com a apetência tentacular que os responsáveis azuis sempre demonstraram e, não poucas vezes, consumaram.

O futebol, em Portugal, ganha-se nas quatro linhas, mas ganha-se também noutras linhas. O presidente do FC Porto, há dias, afirmou que “o Benfica gosta de estar acima da lei”. Não deixa de ser bizarro que a declaração tenha sido proferida por alguém que foi suspenso das suas funções por tentativa de corrupção e tenha sido também um dos principais protagonistas das célebres escutas no âmbito do processo Apito Dourado.
Se Justiça é um conceito abstracto, já lei é um conceito inequívoco. E que dizer sobre o episódio da bruxaria? O líder nortenho quis atingir o seu homólogo sulista, que leu “tudo isto escrito nas estrelas”. Quis diversão, confortado com imorais 11 pontos de avanço no Campeonato. Bruxaria? Para os incautos, a coisa passa, dá mesmo para esboçar um sorriso. E para os informados? O sorriso só pode dar lugar à gargalhada. Bruxaria? Quantas histórias, nessa matéria, ao longo dos últimos anos, têm tido (a)berrante assinatura azul.

Tempo Útil _ João Gobern



Tons de verde

Vale a pena partir de um princípio básico: nem os sportinguistas precisam de lições de moral nem os responsáveis por outros clubes portugueses, em especial os chamados “grandes”, estão em condições de lhas dar. Ou seja, qualquer atitude sobranceira face às ocorrências de uma campanha e de uma noite eleitorais – o dia foi absolutamente exemplar e sintomático do desejo dos sócios fazerem ouvir as suas vozes, depois de um consulado desastroso para o clube – pode ser repelida com um simples espelho: selvagens infiltrados há em toda a parte e, assim, a única surpresa (e só para alguns) está na morte definitiva do Sporting enquanto clube da diferença e das elites. Nada disso: tem os mesmos problemas dos outros, agravados pelo estado das finanças e pelos resultados desportivos.

Este pressuposto inicial também não pode impedir a análise e o comentário a um processo eleitoral que, mais do que propostas, acabou por deixar feridas – tal foi o nível a que se desceu, com suspeições pessoais e ataques que ficaram por comprovar. Houve quem visse nas cinco candidaturas uma manifestação de vitalidade democrática. Não creio: Dias Ferreira, que tanto se esforçou para apresentar uma identidade de veterano outsider, é da mesma “família política” (e só falo do Sporting, como é óbvio) de Godinho Lopes. E lançar em simultâneo dois projetos de corte estrutural – os de Bruno de Carvalho e Pedro Baltazar – significou perder terreno para o establishment. Claro que foi em cada subgrupo que o tom entornou: Dias Ferreira não perdeu oportunidade de “marcar” Godinho Lopes, tal como Baltazar fez de Carvalho o seu inimigo principal. Com poucas vantagens, a não ser a demarcação de território para memória futura.

Na noite eleitoral, aquilo que aconteceu foi um triste epílogo da campanha, aliado a um processo de contagem de votos que, de tão obsoleto e demorado, foi ajudando a alimentar a especulação e ainda agora contribui para alimentar a dúvida. Houve contrainformação à solta? Claro que houve. Mas culpar a comunicação social e uma sondagem não desculpa a corrida à “cacha” (sensível sobretudo em canais de TV) nem anula a existência de múltiplos responsáveis, de Rogério Alves (e o “rumor” que ele acabou por corroborar) a João Lino de Castro (presidente em exercício da assembleia geral), que decidiu tornar-se protagonista às seis da manhã e tantas explicações deixou que acabou por baralhar ainda mais.

Acredito que a impugnação ficará pelo caminho. Mas se a missão de Godinho Lopes já era espinhosa, acaba por tornar-se ainda mais difícil, com um Sporting partido (até por uma perigosa fronteira etária) e que não vai dar-lhe tréguas, quanto mais estado de graça. O tom de verde continua escuro.

In Record

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