abril 01, 2011

Crónica de João Malheiro



Bruxaria

O FC Porto tem hegemonizado o futebol português no último quarto de século. José Maria Pedroto, no final dos anos setenta, lançou a divisa ao precisar que “passamos de pombinhos provincianos a falcões moralizados”. Foi assim, foi mesmo.
A mudança de mentalidades e o rigor nos processos transformaram o emblema nortenho numa pujante máquina competitiva. Por que se queixam, então, os antagonistas da supremacia portista? Não é, seguramente, pela disciplina que caracteriza o quotidiano do clube, tantas vezes até objecto de inveja dos críticos ou detractores. A questão é outra, tem a ver com a apetência tentacular que os responsáveis azuis sempre demonstraram e, não poucas vezes, consumaram.

O futebol, em Portugal, ganha-se nas quatro linhas, mas ganha-se também noutras linhas. O presidente do FC Porto, há dias, afirmou que “o Benfica gosta de estar acima da lei”. Não deixa de ser bizarro que a declaração tenha sido proferida por alguém que foi suspenso das suas funções por tentativa de corrupção e tenha sido também um dos principais protagonistas das célebres escutas no âmbito do processo Apito Dourado.
Se Justiça é um conceito abstracto, já lei é um conceito inequívoco. E que dizer sobre o episódio da bruxaria? O líder nortenho quis atingir o seu homólogo sulista, que leu “tudo isto escrito nas estrelas”. Quis diversão, confortado com imorais 11 pontos de avanço no Campeonato. Bruxaria? Para os incautos, a coisa passa, dá mesmo para esboçar um sorriso. E para os informados? O sorriso só pode dar lugar à gargalhada. Bruxaria? Quantas histórias, nessa matéria, ao longo dos últimos anos, têm tido (a)berrante assinatura azul.

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