Nunca houve um "Caso Calabote"
Dia 22 de Março de 1959 – última jornada do Campeonato Nacional. Teimam alguns, de escassa honestidade intelectual, em falar de um fantasioso "Caso Calabote".
Aceitemos o repto porque a mentira espalhou-se como um cancro, aproveitada por aqueles que têm tanta porcaria a esconder sob o diáfano véu da sua fantasia.
Nunca houve um "Caso Calabote"; houve, isso sim, um "Caso Guiomar"!
As mentiras destroçam-se com factos. E os mentirosos viajam com elas para as sarjetas sujas da cidade.
Facto – O Benfica comandou largamente o Campeonato de 1958/59.
Facto – Ao entrar para última jornada o FC Porto gozava de vantagem perante o Benfica apenas na diferença entre golos marcados e sofridos: FC Porto (78-22); Benfica (71-19).
Facto – Supondo-se que o FC Porto ganharia o seu último jogo (em Torres Vedras, frente ao Torreense) por 1-0 o Benfica ficaria obrigado a ganhar em casa à CUF pelo menos por seis golos de diferença.
Factos – Tanto CUF como Torreense estavam nos últimos lugares da tabela – o Torreense concluiria mesmo o Campeonato na última posição, descendo de Divisão; a CUF ficaria no 4.º lugar a contar do fim.
Facto – Tanto FC Porto como Benfica eram claros favoritos nos seus jogos.
Factos – O árbitro do Benfica-CUF foi Inocêncio Calabote; o do Torreense-FC Porto foi Francisco Guiomar.
Facto – A equipa do Benfica entrou em campo com cerca de cinco minutos de atraso em relação ao FC Porto em Torres Vedras.
Facto – Aos 14 minutos de jogo já o Benfica vencia, por 1-0, golo de Águas, de grande penalidade, considerada absolutamente indiscutível por Alfredo Farinha, o cronista de "A Bola".
Facto – Mais golos se seguiram: aos 26 minutos, de novo Águas de penálti a fazer o 2-0 – "penalidade algo forçada" segundo a opinião do mesmo Alfredo Farinha. O 3-0 surgiu aos 35 minutos, por Mendes, a passe de Águas.
Facto – Aos 14 minutos de jogo no Campo das Covas, António Manuel e Noé saltam a uma bola e o jogador do Torreense é obrigado a sair do relvado. A equipa de Torres Vedras joga largos minutos reduzida a dez elementos.
Facto – Aos 24 minutos, na sequência de um canto de Hernâni Perdigão faz o 1-0 para o FC Porto.
Facto – Dois minutos mais tarde António Manuel regressa de cabeça ligada. Assistira ao golo do FC Porto fora do campo, queixando-se com dores.
Facto – Alfredo Farinha considerou de lastimar as atitudes de exacerbada hostilidade dos jogadores da CUF.
Factos – Quando chega o intervalo, num campo e noutro, o nervosismo mantém-se. O FC Porto continua em vantagem e, enquanto no Estádio da Luz os cufistas tudo faziam para queimar tempo, segundo Alfredo Farinha; no Campo das Covas, Aurélio Márcio, outros dos "monstros" de "A Bola" criticava a falta de qualidade da exibição portista.
Calabote???? Reparem antes em Guiomar...
Facto – Três minutos após o intervalo, Chino, com um remate de longe, marca um golo de classe e põe o Benfica a ganhar, por 4-0.
Facto – Aos 56 minutos, Quaresma, com uma cabeçada vigorosa, faz o golo da CUF e torna tudo mais complicado para o Benfica.
Facto – Aos 58 minutos, Cavém entra na área e é rasteirado. Penálti claro, segundo o cronista, que Águas converteu.
Facto – Escutam-se pelos transistores notícias de um estádio e de outro.
Facto – Aos 64 minutos, em Torres Vedras, Francisco Guiomar expulsou Manuel Carlos por carga sobre Carlos Duarte. Com António Manuel em esforço, o Torreense quebra no seu entusiasmo.
Facto – Na Luz o Benfica corre desesperadamente à procura de mais golos. Os jogadores da CUF continuam a exagerar nas quedas e nas perdas de tempo. Aos 65 minutos, Águas, num remate estupendo, faz o 6-1. O impossível parecia à beira de acontecer.
Facto – Apesar de jogar contra 10, o FC Porto não assume a sua nítida superioridade. O Torreense defende-se de forma galharda e mantém a sua baliza a salvo. Os adeptos portistas começam a sentir que podem perder o título que já consideravam ganho.
Facto – Aos 83 minutos, Mendes faz o 7-1 na conversão de um livre directo. O Benfica está na frente, mas ainda há muito para jogar.
Facto – O tempo escoa-se com rapidez. O Benfica cumpriu o seu trabalho, está na frente do Campeonato, o FC Porto luta contra o destino. O Torreense, com menos um jogador em campo, fraqueja.
Facto – A dois minutos do fim do jogo em Torres Vedras, um livre apontado por Hernâni dá o golo a Noé. Saldanha procura atrasar o recomeço do encontro: Francisco Guiomar dá-lhe ordem de expulsão.
Facto – Na Luz, Inocêncio Calabote dá mais quatro minutos de descontos. Para quem está no estádio pecam por pouco. Alfredo Farinha escreve: "No que se refere ao prolongamento de quatro minutos cremos ter deixado ao longo da crónica justificação bastante para o critério do senhor Inocêncio Calabote".
Facto – O FC Porto joga o que falta contra um adversário desfeito (com apenas nove em campo e António Manuel diminuído. Só lhe falta um golo. Já não é assim tão difícil.
Facto – No último minuto da partida, Carlos Duarte tira um centro e Teixeira cabeceia por entre os defesas do Torreense. O título está ganho, ainda que tivesse sido necessário devastar o já condenado Torreense.
Facto – Os jogadores do FC Porto esperam pelo fim do jogo da Luz para comemorarem. Onze para onze, não tinham conseguido fazer um golo: foi preciso contar com a saída temporária de António Manuel, primeiro, e depois com as expulsões definitivas de Manuel Carlos e Saldanha para marcar o segundo e o terceiro.
Facto – Toda a gente conhece o nome de Calabote... Ninguém parece querer recordar o nome de Francisco Guiomar.
Conclusão – Alguns cronistas ligados ao FC Porto sabem pouco ou nada da história do Futebol português. Por isso insistem alegremente nas mentiras repetidas.
1 comentário:
E contra factos não há argumentos. Ainda bem que está atento e conhece a história do Benfica.
Enviar um comentário