In Público
Em quase todos os países da Europa, os clubes vendem os direitos televisivos dos campeonatos de futebol de forma colectiva. Espanha e Portugal são as excepções e a Liga portuguesa deverá continuar a sê-lo. "O Benfica considera que a melhor forma de defender os seus interesses é uma negociação feita pela SAD e não uma negociação centralizada", disse ontem ao PÚBLICO Domingos Soares Oliveira, administrador da SAD do clube da Luz, quando confrontando com a hipótese de Portugal seguir o modelo habitual na Europa.
"De qualquer forma, mesmo que essa negociação individual venha a avançar, acreditamos que pode beneficiar os outros clubes, por uma maior tomada de consciência dos montantes que podem ser alcançados", acrescentou. Numa entrevista ao PÚBLICO em Outubro de 2008, Soares Oliveira tinha apontado 40 milhões de euros anuais como o valor justo pelos direitos dos jogos do Benfica.
O clube da Luz, que tem contrato com a Olivedesportos até 2012-13, recebe oito milhões de euros, um pouco menos do que os rivais. "O FC Porto tem contrato até 2014 e ainda não discutiu internamente a questão [da negociação em bloco]", disse ao PÚBLICO Fernando Gomes, administrador da SAD portista. Do Sporting, que tem contrato até 2012-13, não foi possível recolher uma reacção em tempo útil. Os clubes de média dimensão recebem anualmente perto de 3,5 milhões de euros e os mais pequenos 1,5 milhões por época.
A recusa do Benfica deita por terra uma venda colectiva. Emanuel Medeiros, director executivo da EPFL (Associação das Ligas Europeias de Futebol), reconhece que em Portugal há uma realidade "consolidada e até cristalizada", mas destaca que a Liga italiana inicia agora este novo modelo, que "garante maiores receitas". Medeiros recorda que as receitas televisivas das cinco maiores Ligas aumentaram 521 milhões de euros (17 por cento) em 2007/08 e dá ainda o exemplo da Liga grega, que também optou pela venda em bloco, garantindo 72 milhões de euros por ano.
Olivedesportos paga cerca de 45 milhões
Em Portugal, a Olivedesportos paga anualmente cerca de 45 milhões de euros aos clubes, um valor que é considerado baixo. Um artigo do site Futebol Finance estimava ontem que "o valor real atinja os 120 a 150 milhões de euros".
O PÚBLICO não conseguiu obter uma reacção da Liga de Clubes, nem perceber como correu a venda centralizada dos direitos da Taça da Liga. Mas fontes contactadas apontam precisamente como um obstáculo para uma venda colectiva as experiências da Taça da Liga e Taça de Portugal, que valeram algumas críticas dos maiores clubes, descontentes com as receitas geradas por esse negócio. Outra razão apontada é o fosso entre os três "grandes" e os outros clubes, além da própria negociação entre FC Porto, Sporting e Benfica. O clube da Luz tem insistido que gera mais audiências do que os demais, pelo que terá de receber mais. Até numa venda colectiva seria difícil convencer FC Porto e Sporting a darem uma parcela maior das receitas ao Benfica.
Emanuel Medeiros contrapõe que o fosso entre grandes e pequenos clubes existe noutros países, que aderiram ao modelo de venda colectiva, como a Escócia ou a Grécia. "O Celtic e o Rangers representam 80 por cento das receitas da Liga escocesa e aderiram ao padrão centralizado". O mesmo dirigente destaca que a distribuição das receitas de uma venda em bloco é feita também tendo em conta o comportamento desportivo e as audiências de cada uma das equipas.
A venda colectiva foi uma das ideias colocadas em cima da mesa pelos clubes da Liga de Honra, que estão descontentes com as verbas recebidas, mas não avançou. "Era inviável, porque os clubes tinham contratos em vigor com a PPTV [outra empresa de Joaquim Oliveira]", explicou Lopes de Castro, presidente do Varzim.
Os clubes da Liga de Honra estão, assim, a renegociar individualmente os contratos, mas com melhorias substanciais. "Ainda não assinámos o nosso acordo, mas há clubes que vão receber 125 mil euros, em vez dos 50 mil da época passada", revelou o líder dos poveiros, para quem faria sentido uma venda em bloco dos direitos das duas Ligas profissionais.
Contactado pelo PÚBLICO, Rolando Oliveira, vice-presidente da Controlinveste (grupo que agrega a Olivedesportos e a PPTV), recusou fazer qualquer comentário sobre o assunto.
Receitas televisivas na Europa
Inglaterra: 1176 milhões de euros (48% das receitas totais)
Itália: 863 milhões (61% das receitas totais)
Espanha: 579 milhões (40% das receitas totais)
França: 557 milhões (56% das receitas totais)
Alemanha: 476 milhões das receitas totais)
Holanda: 69 milhões (17% das receitas totais)
Escócia: 55 milhões (21% das receitas totais)
Portugal: 46 milhões (19% das receitas totais)
Nota: Os dados das 5 principais ligas são de 2007-08, os outros de 2006-07.
Fonte: EPFL (Associação Europeia de Ligas de Futebol)
O SLBenfica pretende receber 40 milhões o que acho mais que justo.
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