In ABola
Diabólica, é a ponta ou é a época?
Falar torna-se, às vezes, muito complicado. Principalmente quando se fala pouco é muito difícil fazermo-nos entender. A culpa é dos eloquentes, que são os que falam muito e, embalados pelo som da sua própria voz, dizem a mesma coisa uma dúzia de vezes, sem vírgulas, sem pontos finais. Para sofrer a experiência basta assistir a programas de televisão cujo assunto em debate seja, por exemplo, o futebol.
Qualquer interveniente que comece por dizer «vou ser muito rápido» demora-se, pelo menos, dois minutos a explicar porque é que vai ser muito rápido, mais dois minutos a perder-se em considerações que não vêm para o caso e outros seis, sete minutos a formular por palavras a sua ideia inevitavelmente muito geral. E com tantas explicações e redundâncias é óbvio que, no fim, os telespectadores dando-se por vencidos, por exaustão, conseguem juntar os pedacinhos todos do muito que ouviram e armar, pelo menos, uma frase que faça algum, ainda que pouco, sentido.
Assim sendo, as pessoas desabituaram-se de apreciar os lacónicos. E, sobretudo, desabituaram-se de os perceber. Ouvir falar os outros tornou-se numa espécie de passatempo sem que o móbil seja o da compreensão. E quanto mais falam mais passa o tempo, sucesso garantido. É caso para se dizer que, nesta altura do campeonato, as frases curtas e o poder de síntese estão condenados ao desdém, à obtusidade e à maledicência, como alguns fenómenos recentes bem o explicam.
Comecemos por Jesus, por definição um incompreendido. Ainda hoje, um incompreendido.
No fim do jogo no Funchal, contra o Nacional, Jesus disse:
— Estamos a fazer uma ponta final de época diabólica!