agosto 17, 2010

Crónica Semanal do Ricardo Araújo Pereira

 De regresso após as férias e não vou comentar esta 1ª jornada da Liga, ainda estou a digerir.

 In ABola

A andorinha e a Primavera

O principal acontecimento desta semana deve ter intrigado a generalidade dos comentadores – quer os cronistas que escrevem colunas de opinião, quer os que preferem publicar opiniões que não são as suas com o objectivo de interferir nos jogos espicaçando jogadores. O fenómeno é simples: a equipa que acabou de ganhar brilhantemente o campeonato passou a ser péssima no espaço de uma hora e meia. Não é fácil. Requer talento. A metamorfose do Porto, que se transformou na melhor equipa do mundo no mesmo lapso temporal, não é tão impressionante. É certo que, até ao passado sábado, a equipa do Porto era um conjunto de jogadores pouco ambiciosos, à imagem do amorfo Jesualdo Ferreira, e precisava urgentemente de reforços se queria fazer melhor que o justíssimo terceiro lugar em que tinha terminado a época. Mas só às segundas, quartas e sextas. Às terças, quintas e sábados, o Porto era uma equipa que, se não tivesse sido injustiçada pelas punições sofridas por jogadores inocentes que, coitados, se limitaram a participar em espancamentos, teria sido campeã com 30 pontos de avanço – ou não fosse treinada pelo competente Jesualdo Ferreira.

O próprio André Villas Boas – que, além de ser o mais novo vencedor da Supertaça, é o primeiro treinador do mundo a usar por quatro vezes a palavra «exacerbação» na mesma conferência de imprensa – recordou, aliás de forma um pouco exacerbada, que o Porto do ano anterior só não tinha ganho por causa das injustiças, observação que constitui uma crítica a Pinto da Costa pelo despedimento de Jesualdo Ferreira, o que acaba por ser razoavelmente exacerbador. E é assim que a equipa que, ainda não há seis meses, levou três secos daquele Sporting que acabou a 28 pontos do primeiro, se encontra no topo do futebol português. Pelos vistos, no futebol, por morrer uma andorinha acaba a Primavera. E por morrer um abutre acaba a exacerbação.

Quanto ao Benfica, se é possível encontrar algum aspecto positivo no meio desta horrível hecatombe que foi o facto de termos perdido um jogo, talvez seja consolador registar que, num jogo em que tudo nos corre mal e não jogámos mesmo nada, o pior que nos pode acontecer é perdermos 2-0 com o Porto.

O Braga entrou na nova época com uma vitória clara por 3-1. À atenção do Porto: a luta pelo segundo lugar vai continuar a ser dura. Talvez não seja boa ideia voltar a emprestar jogadores ao principal rival em Janeiro. Fica a sugestão.

E ainda

O 27.º Mourinho respondeu ao primeiro, que ficou com as orelhas a arder
Se houvesse dúvidas acerca da categoria de André Villas-Boas, elas dissipara-se ontem. Trata-se de um treinador de nível internacional. Um técnico menor estaria empenhado a tentar perturbar o treinador do seu adversário de hoje no primeiro troféu da época, ou a tentar desestabilizar o outro candidato ao título, o Braga. André Villas-Boas não. Anda entretido a fazer mind games com o treinador do Real Madrid. Não duvido de que os merengues andem de cabeça perdida por causa das azedas considerações de Villas-Boas. «Villas-Boas es muy duro!», terá exclamado Jorge Valdano. «La Liga ya nos va correr mal!», terá suspirado Florentino Pérez. A conferência de imprensa que o treinador do Porto deu ontem ficará na história do futebol. Primeiro, disse que concordava com o Special One: Villas-Boas e Mourinho não são clones. Depois, disse que discordava do Special One: Villas-Boas e Mourinho tinham quase o mesmo número de jogos como treinador principal antes de chegar ao Porto. Logo, afinal são clones. É um discurso que só está ao alcance das mentes mais complexas. A imprensa do Porto apressou-se a fazer a pesquisa que servia os argumentos de Villas-Boas e descobriu que, antes de ir para o Porto, Mourinho tinha apenas mais um jogo como treinador principal do que Villas-Boas. O problema é que Mourinho não falou em jogos como treinado principal. Falou em trabalho de campo. Antes de ser treinador principal, Mourinho foi treinador adjunto. Não foi observador de jogos, nem redactor de relatórios. Dizem que faz uma diferençazinha.
Como benfiquista, não posso deixar de estar preocupado com o jogo de hoje. Além de ser orientado por um quase-Mourinho, o Porto conta agora com João Moutinho, que no espaço de duas semanas deixou de ser um fiteiro contumaz para, passar a ser um quase-Iniesta, e o Benfica limitou-se a fazer uma pré-temporada parecida com a da época anterior, o que significa que, tal como no ano passado, estamos todos imbuídos de um entusiasmo completamente injustificado. É certo que Miguel Sousa Tavares atribuiu o favoritismo da Supertaça ao Benfica, mas, depois de ter previsto a vitória da Argentina no Mundial, MST evidenciou perceber menos de futebol do que certos polvos alemães. Não há nada que nos acalme esta angústia.

Creio que o leitor se lembra da novela. Primeiro, Real Madrid e Barcelona digladiaram-se pelo jogador. Os catalães ofereciam milhões mais o Ibrahimovic e os madrilenos queriam troca por troca com o Kaká. Depois, Chelsea e Manchester United travaram uma luta muito feia para o contratar, com derramamento de sangue e tudo. Foi, por isso, com bastante admiração que vi o extraordinariamente magnífico Bruno Alves rumar a S. Petersburgo. Enfim, estes jogadores que têm o Porto no coração e que Pinto da Costa diz que vão ficar muito tempo só abandonam o clube se for para rumar a algum colosso do futebol europeu.

Quanto ao Sporting, a grande surpresa foi a ida de Miguel Veloso para o Génova. Que se terá passado? O Porto não estava interessado no jogador? É possível que Veloso fosse apenas uma maçã tocada, ao contrário de João Moutinho, que como se sabe já estava em estado de putrefacção. A ponto de certos adeptos do Sporting terem mesmo negado que Moutinho fosse um símbolo do Sporting. Absurdo. Recordo que Moutinho era capitão e tinha na camisola o número 28. Exactamente o número de pontos a que o Sporting ficou do Benfica. Se isto não é um símbolo, não sei o que é.

2 comentários:

Estér disse...

E lá vai este Ricardo tendo o dom de me provocar espasmos de riso...mesmo depois de parecer que para nós Benfiquuistas, o mundo está perto do juizo final!!
É esse o espírito! Grande Ricardo = Grande Benfiquista!
P.S: É indispensável ler as suas crónicas depois de jogos como o de domingo! Ah, e essa última do Moutinho :)))) eheheheh bem visto!!

Saudações Benfiquistas :D

nonickname disse...

Bem vindo!Finalmente regressaram as boas cronicas!Gostei muito!Por favor analisa os jogos do sidnei,repara que é o grande cul+ado dos golos do Roberto!

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