junho 18, 2010

Aqui á Gato _ Miguel Góis

In Record


O elogio da vuvuzela 

Uma injustiça ganha terreno. Até hoje, parece-me que ainda ninguém terá sublinhado convenientemente os méritos da vuvuzela. Por exemplo, mantenho que a carismática corneta foi a única coisa que me impediu de adormecer durante o Portugal-Costa do Marfim (sobretudo na parte final do encontro, quando a Selecção portuguesa já estava descaracterizada, pelo facto de só ter um brasileiro em campo). E até a exibição da nossa Selecção ajuda a relativizar um pouco as coisas. O que fará pior: a vuvuzela ao sistema auditivo, ou o futebol de Portugal `visão humana? É certo quem um estudo recente concluiu que a exposição à vuvuzela durante apenas duas horas pode ter consequências permanentes.

Mas também conheço algumas pessoas que, depois de verem hora e meia de uma equipa orientada por Carlos Queiroz, passaram a gostar mais de críquete. Dito isto, não me incomoda que se tire o som durante as partidas de futebol. O que me choca é que não se faça o mesmo nas conferências de imprensa de Carlos Queiroz.

Nesta última, o treinador da Selecção que ocupa o 3.º lugar do ranking da FIFA queixou-se de que a Selecção que se encontra no 27.º lugar “não assumiu o jogo, apostando numa atitude de espera para depois lançar o contra-ataque”, os malandros. Ou seja, Carlos Queiroz descobriu na terça-feira à tarde de que a Costa do Marfim tem um treinador escandinavo. Provavelmente teria sido boa ideia a Federação Portuguesa contratar o Toni para analisar a forma como jogam as equipas treinadas pelo seu amigo Eriksson. 

De seguida, o seleccionador acrescentou que Portugal “jogou de forma inteligente para não envolver muitos jogadores em termos de risco de ataque, para ter o contra-ataque controlado”. Por outras palavras, não assumiu o jogo, apostando numa atitude de espera para depois lançar o contra-ataque. O que significa que Queiroz teve o sangue-frio para, em cima do momento plagiar a estratégia de Eriksson. Com uma diferença significativa, é certo: a estratégia só é “inteligente” quando é Portugal que a utiliza. E conclui com uma dúvida existencial: “Veremos se a Coreia de Norte também surge em campo com esta atitude defensiva”. Não creio. Caso acontecesse, seria uma grave traição ao famoso “futebol total norte-coreano”. Depois, vieram as declarações bombásticas de Deco. Ainda faltam dez dias para o Portugal-Brasil, e os brasileiros já começaram com os mind games.

Por fim, não queria desperdiçar a oportunidade de também eu aderir a uma moda que se tem institucionalizado, nos momentos subsequentes a se ter criticado Carlos Queiroz – eu não critiquei Carlos Queiroz. Pronto, já está.

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