A tala que nos entala
O resultado de anteontem não foi nada mau. Em primeiro lugar porque foi muito melhor do que a exibição, como Jorge Jesus referiu. A exibição também não foi assim tão má quanto pintam os críticos da nossa Selecção.
Pode-se dizer que foi uma exibição eminentemente pálida na primeira parte e levemente descorada na segunda parte, sendo que nos minutos finais o panorama se apresentou em ameaçadores tons sombrios, tal foi a avalanche de ataques costa-marfinenses. Mas o jogo também estava quase a acabar e Drogba, graças ao peso da tala de gesso que carregava no braço direito, desequilibrou-se no momento do remate que podia ser fatal e atirou com a bola para trás em vez de a atirar para a frente.
Empatar com a Costa do Marfim, que é uma boa selecção, nunca pode ser um mau resultado. A não ser que seja no primeiro jogo da fase de grupos de um Campeonato do Mundo, em que uma vitória, seja contra o adversário que for, é o bálsamo para a campanha que se segue.
Do ponto de vista táctico, o confronto entre os dois treinadores teve aspectos curiosos. Eriksson sentou Drogba na primeira hora de jogo, para atrair os portugueses para facilidades inexistentes, e Queiroz sentou Simão Sabrosa nos primeiros 50 minutos, para atrair a substituição sempre mais fácil de fazer que é tirar Danny, que é meio venezuelano e ainda por cima joga longe, lá na Rússia, pelo que a sua saída nunca causa protestos.
Já Hugo Almeida esteve sempre sentado no banco. Ao contrário de Liedson que só se sentou duas vezes na relva em despiques com defesas contrários. Tirando isso, o Levezinho conseguiu rematar uma bola de cabeça num lance quase perigoso, aliás foi o único lance quase perigoso do ataque português em toda a segunda parte.
Se jogar muitas vezes, Liedson vai acabar por marcar alguns golos, como se viu no último campeonato português que teve 30 jornadas. O problema é que este campeonato só tem três jornadas garantidas, o resto virá por acréscimo e só para quem merecer.
A derrota da Espanha aos pés do suíço Gelson Fernandes, primo de Manuel Fernandes, se significar que a Espanha não vai ganhar o seu grupo, obriga a grandes contas no nosso grupo porque, francamente, ninguém o vai querer ganhar… e como o nosso último jogo é com o Brasil… Esta é uma boa notícia para Portugal.
A Liga de clubes da nossa terra, organiza o campeonato de bola cá da nossa querida terra, devia pôr os olhos no comité Organizador do Campeonato do Mundo de Futebol da FIFA que, por ser uma instituição de dimensão global, domina com grande eficácia e savoir faire todos os sobressaltos que lhe advêm.
Referimo-nos aos sobressaltos que advêm à FIFA enquanto organizadora de eventos, obviamente. Como este, por exemplo:
- Na noite de domingo, em Durban, depois da goleada da Alemanha sobre a Austrália, três centenas de stewards de serviço no Estádio Moses Mabhida, desagradados com o cachet recebido, manifestaram-se de forma tal maneira provocadora e desapropriada que houve necessidade, para manter a ordem pública, de recorrer às forças policiais que não hesitaram em correr à cacetada os rapazes dos coletes amarelos, despejando-lhes para cima gás lacrimogéneo e uma saraivada de balas de borracha sem cerimónia nenhuma.
A falta que fez o Hulk, especialista na matéria, naquela batalha campal com stewards nas de Durban!
Hulk, como sabemos, só não está na África do Sul por causa daquele incidente no túnel do Estádio da Luz que levou à sua suspensão, o que impediu Dunga, seleccionador do Brasil, de lhe observar as qualidades e, consequentemente, de o convocar para o escrete onde teria sempre lugar garantido. Fora do Mundial, Hulk está de férias no seu país e participou recentemente num jogo de beneficência em Campina Grande, Paraíba, onde teve oportunidade de, uma vez mais, falar à imprensa sobre o seu caso.
«Acredito que foi uma situação armada, combinada. Eu não fui culpado, foi uma confusão generalizada e tudo caiu em cima de mim. Acredito que se não fosse isso, poderia estar no Mundial», disse.
E disse curiosamente, no mesmo dia, um seu colega de equipa, o colombiano Guarín, que concedeu Omã entrevista ao O JOGO assumindo uma posição um bocadinho diferente da de Hulk sobre os mesmos acontecimentos. Considerando que «os castigos foram exagerados», Guarín, no entanto surpreendeu ao analisar o comportamento da sua equipa naquela já distante noite de Dezembro. O colombiano, que passou a época a ser assobiado no Dragão, disse apenas isto: «Erramos no túnel da Luz.»
O que significa que Guarín, a poucas semanas do início da próxima temporada, pode ficar certo de que ofereceu novas e sonantes razões para que os adeptos do FC Porto continuem a embirrar solenemente com ele.
Mas em que é que ficamos? Tem razão Guarín, que admite o erro, ou terá razão Hulk, para quem a situação «foi armada»?
Felizmente, situações «armadas» no futebol são muito poucas. No futebol português, então, sap raras. A última situação «armada» que a todos impressionou negativamente ocorreu já há um bom par de anos, quando Paulo Assunção, que estava a renegociar o contrato com o seu clube, revelou numa entrevista à RTP um episódio que metia meliantes anónimos e que metia as referidas armas. «Perseguiram-me de carro. Disseram-me que se não renovasse até quarta-feira levaria um tiro no joelho…» Recordam-se?
Regressemos, rapidamente, à actualidade, à África do Sul e ao corrente Mundial de futebol porque, sem Hulk por perto, foi com armas que as autoridades de Durban meteram na ordem os stewards de serviço no Estádio Moses Mabhida. Como já foi legislado em Portugal, stewards, tecnicamente, são público, por muito garridos que sejam os coletes que usam.
O que de notável esta situação gerou foi a reacção pronta da FIFA, emitida em comunicado: «O Comité Organizador do Mundial prescinde dos stewards nos jogos a realizar em Durban e na Cidade do Cabo e vai entregar os aspectos ligados à segurança do jogo às forças policiais locais.»
Ora aqui está uma solução de futuro. Que, aliás, era a solução do passado e sempre funcionou bem. Dispense-se as modernices e chame-se a polícia para fazer o trabalho da polícia nos estádios de futebol de todo o mundo e também nos estádios da nossa terra. Porque quando a coisa dá para o torto, não duvidem de que um homem fardado da cabeça aos pés vale muito mais do que um homenzinho com colete.
Hoje a Argentina joga com a Coreia do Sul. Com ou sem Di María? Tal como a exibição de anteontem dos portugueses no jogo com a Costa do Marfim, também a exibição de Di María no jogo com a Nigéria não foi tão má quanto a pintam. O estremo (ainda) do Benfica, por exemplo, fez duas assistências maravilhosas a que Lionel Messi não deu a melhor conclusão. Também não deixa de ser verdade que não houve ninguém que, anteontem, na selecção portuguesa fizesse duas, nem uma, nem sequer meia assistência maravilhosa para quem quer que fosse. Ou seja, pensando melhor, a má exibição global da equipa portuguesa contra a Costa do Marfim. E teria sido muitíssimo melhor a prestação de Di María se os colegas lhe passassem a bola…
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