junho 10, 2010

Crónica Semanal de Leonor Pinhão

In ABola


Pouco genial presidente, pouco genial

Não conheço nenhum portista que não tivesse reagido com um «oh, que pena!» à notícia de A BOLA dando conta do assédio do FC Porto a Jorge Jesus no final desta época.
E conheço muitos que reagiram com um saudoso «ai, ai, nos seus bons velhos tempos o nosso presidente tinha-vos dado mesmo a golpada!» e outros, mais dados à teoria histórica, que logo recordaram com um «ah, era lindo, um bocado parecido com aquela vez que fomos buscar o Rui Águas quando ele era o vosso ídolo e símbolo».
Na verdade, nada mais dentro do reportório de Pinto da Costa do que tentar fazer um número com Jorge Jesus que, em termos de apego ao Benfica, tem bem menos responsabilidades do que tinha Rui Águas desde que nasceu e, especialmente, no ano de 1988.
Mas, desta vez, o número falhou. Há artistas que, com o tempo, perdem qualidades.
E o silêncio oficial sobre o assunto é tão eloquente…
Pouco genial, presidente, pouco genial.

Em Junho de 2001, Pinto da Costa estava aborrecido com Domingos Paciência, em final de carreira, e Domingos estava aborrecido com Pinto da Costa, que, pelas nossas contas, já tinha passado o meio da carreira, e que criticava o ex-menino de ouro nestes termos: «Não venham agora com choradinhos de simbologias quando os jogadores são eminentemente profissionais e quando têm oportunidade de sair não abdicam de as aproveitar». Tudo isto a propósito de uma experiencia pouco empolgante do mesmo Domingos no Tenerife e do seu regresso, também pouco empolgante, ao Estádio das Antas, pois era assim que se chamava na altura o recinto do FC Porto.
O episódio já se passou há muito tempo e não é o simpático e distante Tenerife que o traz à baila. É antes o exemplo que Pinto da Costa deu do atleta que, segundo ele, mais e melhor significava a pureza do desinteresse material e do amor à camisola. «Só conheço um jogador que, desde que calçou umas botas ou sapatilhas para jogar futebol, só vestiu a camisola do FC Porto. Esse jogador foi Rodolfo Reis. Todos os outros aproveitaram quando tiveram oportunidade de ir para melhor».
Pois bem, resta-nos dizer que, face a acontecimentos bem mais recentes, Rodolfo Reis está completamente tramado.
Se na apresentação de André Villas-Boas, o presidente do FC Porto afirmou peremptoriamente que não conhecia, no universo portista, nenhum «céptico» quando ao bom juízo da sua escolha, imagine-se só que, no mesmo dia, veio Rodolfo Reis não só desalinhar como também desmentir Pinto da Costa em declarações públicas em tudo contrárias ao discurso presidencial sobre a unanimidade em torno do novo treinador: «Não sei o que dizer e acho que é a opinião de milhares de pessoas do universo portista. André Villas-Boas foi o técnico da Académica e lá fez um trabalho banal, apenas. É um risco total».
E Rodolfo Reis é mesmo um símbolo do FC Porto.

Pronto, lá estragaram as férias ao nosso Rúben Amorim. E, ainda por cima, que merecidas férias para quem tanto labutou e jogou um ano inteiro. Lamentavelmente, Rúben Amorim vai viajar para a África do Sul porque Nani, que prometia estar em grande, se lesionou num ombro ainda em Portugal.
Curiosamente, o comunicado da FPF a anunciar a indisponibilidade do jogador não especifica as circunstâncias em que Nani se magoou. Terá sido a jogar ping-pong com Cristiano Ronaldo? Ou terá sido a comemorar o seu bonito golo aos Camarões com uma sequência de cambalhotas? Em Manchester, Sir Alex Ferguson passa-se com os saltos mortais do português e alguma razão terá.


Na edição de terça-feira, A Bola publicava excertos de um relatório de André Villas-Boas que «fez furor» e que «ainda hoje é alvo de estudo».
Trata-se de uma observação do Newcastle, adversário do Chelsea, para quem Villas-Boas trabalhava sob o comando de José Mourinho. Não se resiste a partilhar com os leitores mais distraídos deste jornal, alguns excertos dessa obra marcada pela genialidade.
Ora, tomem lá para aprenderem a fazer relatórios: «Importante manter atenção à alta intensidade do jogo»… «muita rapidez e alertas nas segundas bolas»… «más transições defensivas e bolas paradas»… «substituições não implicam alteração do sistema»…« Luque tem técnica»… e termina com uma chamada de atenção ao atraso de bolas para o guarda-redes… «grande perigo!».
Por esquecimento, não foi mencionado que este relatório que «fez furor» é «ainda hoje alvo de estudo» até na NASA!

Florentino Perez, o presidente do Real Madrid, concedeu uma entrevista à cadeia de rádio espanhola Antena 3 e disse: «Gosto muito do Di María». E o que é que isso tem de especial? Também nós, os que somos do Benfica, gostamos muito do Di María. Se Florentino Perez gosta assim tanto, tanto, tanto do argentino, tem bom remédio. Pague.

No princípio da semana, pelas ruas da cidade. Vai uma pessoa a passar perto de uma banca de jornais, olha distraidamente para as primeiras páginas e, de repente, sobressalta-se, quase não quer acreditar no que lê na manchete de O Jogo: VILLAS-BOAS ACREDITA QUE PODE MUDAR O ‘POLVO’.
Não é possível! Então isto é que é um treinador «à Porto»? Este rapaz, com estes propósitos, não vai longe…
Depois uma pessoa aproxima-se do escaparate e percebe, finalmente, o verdadeiro teor da notícia. ‘O Polvo’ é a alcunha do jogador Fernando para o qual o novo treinador tem planos tácticos diferentes daqueles que tinha o anterior treinador. Ah, pronto, assim já faz sentido.

Óscar Cardozo lesionou-se num tornozelo já ia adiantada a segunda parte do último Benfica-Sporting para o campeonato de 2009/2010. Com o devido respeito, levou uma patada de Grimmi em plena área sportinguista que o deitou por terra e por lá ficou um bom par de minutos em grande aflição. Lembram-se? Obviamente, o árbitro não apontou para a marca de grande penalidade porque era chato, podia roubar interesse à competição que foi disputada até ao fim.

Depois Cardozo levantou-se a coxear, ao jogo e na primeira oportunidade que teve, mesmo manco, rematou uma bola com êxito para o fundo da baliza de Rui Patrício e inaugurou o marcador que viria a ser magnificamente selado por uma obra artística de Pablito Aimar. Até ao fim do campeonato, Cardozo disputou o título de melhor marcador com Falcão, marcando, sempre preso por arames, sempre a coxear, os golos suficientes para receber, no fim de tudo, em pleno relvado da Luz o troféu que distingue o artilheiro-mor da época. E exibiu, na ocasião, um bonito sorriso, ainda que melancólico como é do seu timbre.

O esforço de Cardozo e o sacrifício que fez foram meritórios e muito aplaudidos. O paraguaio mostrou-se sempre empenhado em ajudar a equipa a ganhar o título colectivo e a equipa mostrou-se sempre empenhada em ajudar Cardozo a ganhar o título individual. E tudo acabou em beleza.

Cardoso poderá ou não sair do Benfica e, se sair, vai deixar excelentes recordações e um muito válido sentido de gratidão entre todos os benfiquistas. Foi inexcedível e agora que já tudo passou, até lhe perdoamos aquela série de grandes penalidades falhadas com que nos ia matando a todos de ataque cardíaco.
Só não se compreende o relambório corrente do empresário do jogador, Pedro Aldeva, que lastima todos os dias na imprensa o facto de Cardozo ter jogado em deficientes condições as últimas partidas do campeonato português, pondo em em risco a sua titularidade no Mundial e a sua transferência para outras paragens.
Não se compreende porque nunca ninguém ouviu Cardozo lamentar-se do mesmo. Antes pelo contrário. Conquistar a Bola de Prata foi um objectivo a que nunca virou a cara e muito menos o tornozelo lesionado.

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