junho 19, 2010

Crónica Semanal do Ricardo Araújo Pereira

In ABola


Cada um tem o Camões que merece


Já faz mais de uma semana que a Selecção portuguesa, baptizada por Carlos Queiroz com o nome de Navegadores, se encontra na África do Sul. Surpreendentemente, ainda nenhum poeta se ofereceu para narrar em verso a epopeia destes navegadores, cujo cognome evoca outros que, mais ou menos no mesmo sítio, viveram aventura igualmente emocionante - mas tiveram a sorte de arranjar bardo que os cantasse. Soubesse eu fazer decassílabos e, com boa vontade, tomaria nas mãos a tarefa de transformar em poema épico os heróicos feitos da equipa nacional nesta passagem, cerca de 500 anos depois, de novos navegadores pelo Cabo da Boa Esperança.

Creio que o trabalho não seria demasiado difícil. Em lugar do clássico início «As armas e os barões assinalados», talvez se justificasse uma referência a episódios um pouco mais actuais: «As armas que os jornalistas assaltados / na meridional praia africana», etc. Neste campeonato do mundo tão rico em tácticas defensivas e empates, é refrescante encontrar alguém que esteja realmente interessado em atacar, e até agora os bandidos têm sido dos poucos a atacar com arreganho e consistência. Nem que seja só por isso, merecem a simpática menção.


A segunda estrofe começaria, provavelmente, com a tradicional evocação à musa. Excepcionalmente, o poeta não pediria ajuda para si. Camões pediu à musa dele que o ajudasse a escrever; o vate dos novos navegadores pediria à musa que ensinasse a equipa a jogar. É uma questão de prioridades e, de facto, os jogadores precisam mais de ajuda do que o bardo.


À medida a que o canto avança, o melhor seria comparar os actuais navegadores com aqueles que lhes deram o nome. Os navegadores do século XVI e os do século XXI postos frente a frente, para ver quais são os mais valentes. «Escorbuto e fome nas caravelas / São nada a comparar com as vuvuzelas». Com todo o respeito para com o escorbuto, duvido que seja mais incomodativo que um estádio cheio daquelas cruéis cornetas.


O homólogo de Vasco da Gama na epopeia de hoje seria, creio, Carlos Queiroz, pelo que o poeta lhe daria especial atenção. «Da táctica não sabe o bê-á-bá / Mas queixa-se da tala do Drogba» poderia ser o princípio de uma visita à personalidade do nosso herói. Quem sabe se Manuel Alegre, que em tempos dedicou um poema a Figo, não poderá cantar agora o Queiroz em lugar do Gama?

Mesmo sabendo que quase só se fala de Selecção, sinto-me obrigado a referir outro assunto: o Sporting. Um cronista não pode falar apenas dos grandes temas, e além disso desta vez vem mesmo a propósito. O Sporting acaba de apresentar três reforços, dois dos quais são o Maniche. Ainda estive tentado a contar os duplos queixos do novo jogador do Sporting, mas não tinha a máquina de calcular à mão e desisti. Se, prosseguindo esta política de contratar estrelas do passado, o Sporting contratar Rochembach, ninguém passará pelo meio campo do Sporting. Não pela eficácia das marcações, mas porque não haverá mesmo espaço para passar.

1 comentário:

Manuel Oliveira disse...

O RAP sempre ao ataque!
Abraço.

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