março 08, 2012

Crónica de João Malheiro


A graça do Jaime

Foi em 66, ainda garoto, que conheci o melhor sexteto da história centenária do nosso futebol. Jaime Graça, Coluna, José Augusto, Torres, Eusébio e Simões davam mais bola à bola. Arregalavam olhares siderados, abriam bocas de pasmo, despertavam ouvidos atentos, atiçavam aplausos sentidos, conquistavam adeptos entusiasmados. Foi assim no Benfica e na Selecção Nacional.

Há dias, poucos dias, o Jaime morreu. O Torres já nos havia deixado há cerca de um ano. A bola também chora? Claro que chora. A bola também faz luto? Claro que faz. Amigo de há longos tempos, o Jaime foi, ainda por cima, um dos jogadores mais injustiçados, pelo menos no historial recente da bola lusitana. Jogador fabuloso, perdeu mediatismo por razões que me são difíceis descortinar.

Na companhia do grande Mário Coluna, entre outras figuras da maior expressão, acompanhei, em Setúbal, a cerimónia fúnebre. O momento foi dolorosamente emocionante. Durante alguns minutos, recordei muitas horas de intimidade com um artista invulgar, um homem bom, um amigo fiel. E recordei uma prosa que, em tempos, lhe havia dedicado. Para ficar aqui em jeito de epitáfio.

Tinha consigo a graça, não só de nome. Dizia de sua graça, Jaime Graça. Era acção de graças ao futebol, dava ares das suas graças, quando não estava para graças caía nas boas graças. Tinha tanta, tanta graça, fazia tantos, tantos gracejos, naquele estilo grácil, gracílimo, naquela gracilidade, que da graça da sua graça se fez também a graça do Benfica, a graça da Selecção. Não ficou de graça? E qual é o preço da graça de um campeão da graça do Jaime Graça?

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