Vale tudo
In video veritas. Que é como quem diz: a televisão não mente, pelo menos nestes casos. À saída do Conselho de Presidentes, o senhor presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional engasgou-se uma ou duas vezes perante a mais linear das questões. Perguntavam-lhe se o alargamento do número de clubes na Liga ia ser consumado por conta da ausência de descidas. Mário Figueiredo rodeou, hesitou, procurou reanimar as suas boas intenções – a tal liguilha – e deixou perceber que, qual doutor Frankenstein, há muito tinha deixado de controlar o monstro que criou exclusivamente para conseguir ser eleito.
Escrevia-se um capítulo de vergonha e de perigo para o futebol português. O populista condutor, já responsável pelo pecado da gula, ao querer sentar 18 numa mesa que já não chega para alimentar 16, ainda fora ultrapassado pelos conspiradores que rapidamente concluíram o seguinte: para quê prolongar a época com uma liguilha, em que algum acidente de percurso ainda poderia deitar a permanência a perder, se a coisa poderia ficar resolvida de imediato com uma “passagem administrativa” que, a partir de agora, subverteria tudo e deixaria os potenciais aflitos à vontade para começarem já o “futebol de férias”?
Num espantoso golpe de rins, demonstrativo de uma flexibilidade que se estende ao raciocínio, disponível para abdicar de princípios e valores, o senhor presidente da Liga veio referir-se a uma teoria da cabala. Fica-me apenas uma dúvida: esta gente sonhará que, à sua volta, todos dormem e ninguém se apercebe do golpe palaciano e arruaceiro que pretende concretizar? A teoria de que já há quem não “lute por nada” na Liga é hilariante e só demonstra que Mário Figueiredo nem sequer acompanha de perto os acontecimentos. O Olhanense, sétimo classificado, está dez pontos acima da “linha de água” num momento em que falta disputar 24 pontos. Acontece que, até final, vai ter de encontrar-se com cinco dos seis primeiros da classificação. E isso significa a possibilidade – académica e real – de ainda poder passar por algum susto. Mais: os três candidatos ao título (FC Porto, Benfica e Braga) jogam cinco dos oito desafios que lhes restam com equipas localizadas nesta zona classificativa (7.º/16.º). O que legitima a ideia de que o título pode depender mais do empenhamento com os “pequenos” do que dos duelos com os “grandes”. Cabala? Não, uma cavalidade, isso sim.
Resta a esperança do bom senso federativo. Para poder explicar a estes cavalheiros que não basta eleger um testa-de-ferro para chegar ao ouro do bandido. Nos últimos dias, ouvi Manuel Cajuda falar em dignidade. Aí está uma palavra – e um conceito – que outros não são atrevem a pronunciar: enrola-se-lhes na boca…
In Record
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