Bom arranque
O discurso portista já vinha ensaiado – e bem. Se a equipa ganhasse, estava preparado algum ruído em torno do virtuosismo de uma equipa capaz de vencer o rival mais direto, mesmo numa competição “não prioritária”. Perdendo, todas as palavras vão no sentido de privilegiar o campeonato, insistindo no desprezo por uma competição que faz recordar a fábula da raposa e das uvas, de La Fontaine – “estão verdes, não prestam”… É verdade que a pressão estava do lado do Benfica e, de um modo particular, nos ombros de Jorge Jesus, que corria o risco (depois de ganhar a Jesualdo Ferreira e a André Villas-Boas) de não conseguir ganhar a Vítor Pereira, técnico do mais fraco FC Porto dos últimos anos. Há, no entanto, elementos que merecem ser considerados: primeiro, os jogadores do campeão nacional entregaram-se em pleno a um jogo que, se nem sempre foi exemplar nas componentes tática e técnica, não passando a imagem de estar a participar numa partida “a feijões”; depois, na hipótese de as últimas sete jornadas não correrem de feição aos que tentam revalidar o título, será avaliada a justeza deste discurso e feita a verificação de se a velha máxima dos filmes americanos, a “win-win situation”, não deu lugar ao desastre total. Ao FC Porto resta uma verdade linear: ou campeonato ou nada.
Claro que tem a vantagem de lhe faltarem sete jogos (Liga) até às férias, enquanto o Benfica terá no mínimo dez e, se a Champions lhe sorrir até à final de Munique, poderá chegar aos treze. Mas era essencial para os encarnados interromper a série já considerável de vitórias do rival no Estádio da Luz, fazendo muito mais do que uma mera prova de vida. Ainda por cima num jogo que foi discutido até final, emocionante, com três golos e três bolas aos ferros da baliza adversária, com rotação de quase todos os valores ao serviço do clube, e ainda com o precioso contributo de um árbitro – Artur Soares Dias – a quem todos ficaram devedores de decisões equilibradas e de um rigor disciplinar que terá evitado expulsões e polémicas. Foi, do ponto de vista psicológico, o melhor arranque para o ciclo infernal, que começou ontem e vai passar por Olhanense (Liga, a jogar no Algarve), Chelsea (Champions, na Luz), Braga (Liga, Luz), Chelsea (em Stamford Bridge), Sporting (Liga, Alvalade) e ainda a final da Taça da Liga, com Braga ou Gil Vicente. Se a vida lhe correr de feição, seguem-se, sem intervalos nem descanso, as meias-finais da Liga dos Campeões (Barcelona ou Milão). Chega?
Jorge Jesus não errou: é o preço do êxito. Desta vez não há quem possa acusá-lo de falta de coragem. Resta saber se as mais-valias deste triunfo não vão custar caro nos juros do cansaço. Na sexta-feira há mais. E mais respostas.
In Record
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