maio 19, 2012

Tempo Útil _ João Gobern



De todos nós

Acabou-se o suspense que, de resto, já não era grande, sabendo-se que Paulo Bento – embora com métodos e motivações distintas – alinharia pelo conservadorismo de Scolari nas suas chamadas a uma fase final, demarcando-se das aventuras, em boa parte inconsequentes, de Carlos Queiroz. Por outras palavras, a convocatória de jogadores para disputar a fase final do Euro’2012 concretizou-se sem surpresas, pelo menos do lado dos que viajam para o Leste da Europa em defesa das nossas cores.

Os casos mais assinaláveis são três: o de Custódio, que todos deram como acabado para as grandes conquistas depois do seu exílio russo, é um caso de renascimento, mantendo ao longo de toda a época um rendimento uniforme que permite dizer com segurança que não há disponível, neste momento, um melhor médio-defensivo português; o de Nélson Oliveira, a quem o selecionador aponta “características diferentes” entre os avançados, conseguindo – com essa chamada – marcar pontos no sector benfiquista e, ao mesmo tempo, abrir portas à chegada dos mais novos, indispensável para uma transição que há-de pedir-se pacífica. Isto sem menosprezo do valor intrínseco do atleta. Por fim, Varela, que nem sempre se impôs na sua equipa, mas que é portador de uma classe (algo inconstante, é certo) que pode, em caso de necessidade, render as dos naturais titulares (Cristiano Ronaldo e Nani) e desse génio imprevisível que é Ricardo Quaresma.

Tudo é pacífico? Nem tanto. Se entendo este como o último momento em que cada um pode soltar o selecionador que tem dentro de si, seguindo-se a fase de cerrar fileiras, de apoiar vigorosamente a Seleção e de fazer contas no fim (primeira divergência: esse acerto deveria ser feito após o Europeu, não dois anos mais tarde, uma vez que, se há no futebol um contrato por objetivos, é mesmo o de selecionador), cá vai: Miguel Lopes pouco provou e, acredito, tanto Nélson como Sílvio levariam vantagem; Ricardo Costa continua a somar chamadas em nome de uma “polivalência” que, por norma, dá maus resultados; trocar Ruben Micael por Manuel Fernandes ou por Paulo Machado seria um ato de bom senso; na frente, terei de ser convencido que os veteranos proscritos, Nuno Gomes e João Tomás, perdem para Hélder Postiga.

De um outro ponto de vista, o da teimosia e da (falta de) grandeza, hei-de lembrar-me de Ricardo Carvalho e de Bosingwa. E de Hugo Viana, a quem não chegou ser o melhor centro-campista português do campeonato nacional para ter direito à guia de marcha. Dito isto, Paulo Bento é soberano. E os 23 escolhidos passam a ser os nossos, de todos nós. No grupo em que estão, há quem peça o milagre. Por mim, só peço que não repitam a cobardia cinzenta da África do Sul.

In Record

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