O efeito Paulo Bento
A entrevista a Judite de Sousa resultou numa espécie de 3.ª vitória para Paulo Bento (PB), a juntar aos triunfos sobre Dinamarca e Islândia. Titulava o Record, após a jornada de Reivejavique, que “assim até dá gosto” e foi isso que apeteceu reforçar depois se ter apreciado o registo sóbrio e ponderado de PB na “Grande entrevista”, da RTP.
À primeira vista não é isso que parece, mas o recém-chegado selecionador nacional tem um forte poder comunicacional. Acontece que, a esse domínio, o técnico junta-lhe depois duas “armas” poderosas que o aproximam do adepto: humildade e conhecimento. Torna-se difícil não simpatizar com quem exibe esta postura de seriedade. Diria até que qualquer sondagem que hoje se realizasse para medir o grau de popularidade do treinador resultaria em valores elevadíssimos, na ordem dos 70 ou 80 por cento.
Portugal precisava de alguém assim, com esta verticalidade e espírito de missão. E vendo bem, era quase impossível, desta vez, Madaíl ter escolhido melhor. Para além da análise (técnica) que pode ser feita à forma como abordou os desafios com dinamarqueses e islandeses, PB já se “mostrou”, pelo menos, em mais sete ocasiões desde que é selecionador nacional: no dia da apresentação; no anúncio da convocatória; nas quatro conferências de imprensa (antes e após os jogos) e agora na entrevista televisiva. Saiu-se sempre com nota alta, mas este último “teste” foi mais revelador e conclusivo porque, em registo mais intimista, PB poderia até ter caído nalgumas tentações fáceis. Não aconteceu. Foi inteligente nas poucas referências ao antecessor, voltou a contornar bem o episódio que envolveu Mourinho e, já podendo “capitalizar” os seis pontos conseguidos, preferiu novamente atribuir o mérito, por inteiro, aos jogadores.
Bento é isto e não se deve mudar a natureza das coisas. Mas, se ele não o diz, é preciso explicar que esta não é a verdade toda: o selecionador teve muito peso na reviravolta que foi operada em tempo recorde. E mesmo que não tenha havido sequer tempo para implementar qualquer alteração tática, o mérito de quem chegou passou a existir, desde logo, na forma descomplexada de ir a jogo. Se o futebol é uma coisa simples, então o caminho é simplificar. PB conseguiu isso em toda a linha: no discurso, nos processos de trabalho e até na aceitação do caos em que estava transformado aquele balneário tão especial. Parecendo simples, não é. Menos ainda quando a margem de erro está esgotada e a escolha só pode ser entre ganhar ou ganhar.
O primeiro objetivo foi assim conseguido. Portugal somou seis pontos em seis possíveis, os adeptos voltaram a suspirar pela Seleção Nacional (o jogo na Islândia teve uma audiência média de 2 milhões de espectadores, na estação pública), deixou de discutir-se a posição de Pepe no terreno e – melhor do que tudo – já se fala outra vez de futebol. Não seria mesmo isso que estava a faltar? PS: No “Minuto 0” de ontem previ fracas assistências para os jogos deste fim-de-semana na Taça de Portugal. Afinal, enganei-me redondamente e ainda bem. 40 mil espectadores no FC Porto-Limianos é obra! 25 mil no Benfica-Arouca e mais 5 mil no Estoril-Sporting é muitíssimo bom.
In Record
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