Novos árbitros
1. Quem nos leu a semana passada, saberá que refletimos por ora sobre os desafios que serão essenciais para o crescimento do futebol. Um deles é a arbitragem. Depois de anos de suspeições, histórias e rumores, e após os castigos (desportivos e criminais) a vários árbitros no “Apito Dourado”, no “Apito Final” e no “Apito da Federação” (onde foram pesadamente punidos vários árbitros), a classe encontra-se numa fase de transição, sob pena de se tornar insuportável o ambiente das competições. Ou avança para outro patamar ou fica na dúvida. Vítor Pereira intuiu isso há uns anos e, orientado pela experiência inglesa, forneceu um modelo para traduzir essa transição: a profissionalização de um quadro estável de árbitros para as competições da Liga. Infelizmente, toda a envolvência dessa profissionalização não foi acompanhada pelo poder político nas revisões da Lei de Bases e do Regime Jurídico das Federações. E não temos, por isso, base legal para um novo estatuto do árbitro desportivo. É urgente este salto.
2. O repto é alterar todo o processo de recrutamento e evolução dos árbitros nas sucessivas categorias, desde as camadas jovens até à 1.ª categoria. Submetidos desde a base a critérios esconsos e a fiscalização discutível, os árbitros que chegam hoje ao topo não são muitas vezes – ou não podem ser – os melhores. Ressente-se a independência e magoa-se a qualidade das suas atuações. Por isso se deve redigir quem e como se chega a árbitro – em carreiras distintas para “grupos de modalidades” – e instituir um corpo de arbitragem autónomo de quem organiza as competições (ainda que financiado e balizado pelas competições). Um corpo escolhido, formado e avaliado por “comités de técnicos de arbitragem” designados pelo Estado e atuantes, em secções diferenciadas, nas federações e nas associações. E com a possibilidade de tais organismos federativos e associativos recorrerem, no caso da gestão e organização dos árbitros profissionais, a entidades externas e, no caso da aprendizagem e reciclagem das competências de todos os árbitros, a formadores fora do ambiente fechado das federações e das associações (p. ex., universidades). Sem pôr em causa a autorregulação, mas assegurando o seu futuro.
3. Propor este projeto deveria ser um escopo indeclinável da Federação e da Liga. Mas já percebemos que, por um lado, a liderança velha ou uma liderança nova da Federação não arquitetam (até ver) um qualquer cenário diferente do passado. Por outro lado, a Liga atual manifesta ansiedade em libertar-se dos litígios da arbitragem (e da disciplina), pois almeja concentrar-se somente nas variáveis competitivas do “negócio” do futebol. Contudo: a) não se olvide que nesses dois sectores reside muita da credibilidade do “negócio”; b) não se negligencie que a Liga passará a ser a porta-voz da insatisfação dos seus associados e a ser ela a administrar o ruído. Melhor seria pugnar por um modelo favorável para o “negócio”. E na Liga, por agora, ainda estão as ideias de Vítor Pereira e os homens da sua equipa, que sabem bem como coser as linhas da arbitragem. Aproveite-se.
In Record
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