novembro 24, 2010

Bloco de notas _ Nuno Farinha


Chegar, ver e vencer

José Mourinho continua o seu caminho em Espanha ao leme daquilo que, até há meia dúzia de meses, parecia estar condenado a não passar de um porta-aviões ingovernável. Hoje, mesmo olhando à distância para o Real Madrid, sem a observação direta das rotinas ou conhecimento do método, o que se identifica é exatamente a mesma receita que JM já aplicara nas passagens de estrondo pelo Porto, por Londres e Milão: ordem, disciplina, planeamento, saber. A isto torna-se ainda obrigatório acrescentar a capacidade que revela para “jogar” fora dos relvados, em batalhas palavrosas que terminam quase sempre da mesma forma. Ou seja, o melhor treinador do Mundo não é apenas produto da competência técnica ou do mérito do treino. Onde a diferença se estabelece verdadeiramente é na forma de liderança e em tudo o que resulta da gestão motivacional. Ficou provado no Dragão, em Stamford Bridge e no Giuseppe Meazza.
OReal Madrid vivia há dois anos debaixo de um preocupante complexo de inferioridade relativamente ao Barcelona, à qualidade do seu jogo e às suas conquistas. Só um fora-de-série seria capaz de rapidamente eliminar esse estado de angústia que atormentava os adeptos merengues. Na próxima semana, no clássico da Catalunha, terá início a segunda etapa da “volta” que José Mourinho está a dar a Espanha. Para já, é um justo camisola-amarela.

Continuando em Mourinho: ainda se recorda do raide que Gilberto Madaíl fez a Madrid para tentar contratar o treinador do Real? A hipótese oferecia um aspeto – digamos – duvidoso. Num primeiro momento, quando a informação ainda escasseava, até era possível pensar que estávamos perante um gigantesca operação de marketing preparada a partir do posto de comando da Federação Portuguesa de Futebol As interrogações terminaram quando o próprio Mourinho falou. “Sim, é verdade. Sim, estou a pensar no assunto. Sim, gostava muito de treinar Portugal”. Existia mesmo, afinal, um plano de salvação nacional que consistia em ter o técnico à frente da Seleção por três jogos: Dinamarca, Islândia e Espanha. Percebia-se o objetivo: tocar as campainhas todas ao mesmo tempo, fazer disparar os níveis gerais de motivação, garantir os seis pontos em disputa e deixar uma boa imagem – a melhor possível – no jogo frente aos campeões do Mundo. Madaíl acreditou que só um homem estaria à altura dessa missão. Não seria agora boa altura para pedir desculpa a Paulo Bento e reconhecer que aquela viagem a Madrid era, afinal, despropositada?
Tocar em projetos e transformá-los quase de imediato, dando-lhe uma expressão própria, é pois o desafio que só pode estar destinado aos grandes, como Mourinho ou Bento. E nessa perspetiva há um outro nome para acrescentar à lista: André Villas-Boas. O FC Porto que foi capaz de reinventar já começa a ser um caso sério no domínio da estética – por comparação, até, com as maiores potências europeias. O que mais impressiona nem é o número de vezes que ganha. É como ganha. É por isso que tem o destino traçado: Inglaterra, Espanha ou Itália. A Liga Zon Sagres vai tornar-se rapidamente num espaço muito pequenino para quem exibe, aos 33 anos, tão elevada qualidade.

  In Record

1 comentário:

ian curtis disse...

E o Moreirense também é um colosso? é que assim até eu passo a ser o melhor treinador do mundo, vide o Jesualdo... 3 campeonatos no Porto e na sua longa carreira nada de títulos. Não é tirar o mérito ao Mourinho, esse sim um excelente treinador, agora o Villas Boas... ou Farinha também baixaste as calças ao pintinho...

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