novembro 16, 2010

Bloco de notas _ Nuno Farinha


Nós é que sabemos disto

Mais ou menos à mesma hora em que Luís Filipe Vieira garantia, na Nazaré, que Jorge Jesus não estava “a prazo” no Benfica, um grupo de adeptos “encontrava-se” com o treinador no Seixal para uma inédita conversa em pleno treino.
Desta vez quem exigia ser ouvido já não eram apenas os 2 ou 3 sócios que foram ao aeroporto mostrar indignação no dia da partida para Angola. Ontem, em dia de sessão à porta fechada, 100 benfiquistas entraram pelo centro de estágio e chegaram ao local onde a equipa trabalhava. Falaram com Jesus, com os jogadores e abandonaram tranquilamente as instalações depois de terem “desabafado”. “Não houve interrupção nenhuma. Cinquenta pessoas quiseram assistir à parte final do treino, Jorge Jesus autorizou e depois falaram com ele”, explicou João Gabriel, diretor de comunicação.
Não se compreende a forma como o Benfica pretende transformar esta “romaria” ao Seixal numa situação de absoluta normalidade, como se tal fosse possível. Nunca 100 adeptos foram ao Seixal tentar assistir a um treino que supostamente deveria realizar-se à porta fechada (em véspera de jogo). E se foram, não entraram. E se entraram, não falaram com treinadores nem jogadores. O Benfica admite que o seu treinador consentiu que os adeptos – a maior parte deles ligados à claque No Name Boys – assistissem ao treino, mas essa versão, oficial, acaba até por ser um precedente perigoso que fica aberto, porque daqui em diante será mais complicado deixar à porta sócios que pretendam igualmente sentar-se nas bancadas do Caixa Futebol Campus.

De que pode resultar, afinal, este desencanto corporizado na inesperada visita de ontem? A goleada no Dragão, por mais humilhante que tenha sido, justifica este sinal de descontentamento ou os 5-0 terão sido apenas a gota de água que faltava para fazer transbordar o copo? Há um ano, com o Benfica a ganhar, Jesus podia mandar um adepto calar-se (e chegou a mandar mesmo) durante um treino. Hoje, pelo que se vê, a situação ameaça perigosamente inverter-se. O treinador deixou de ser intocável e só os resultados podem devolver-lhe o crédito – por mais votos de confiança que receba do presidente.
Os últimos tempos têm sido um calvário para JJ, mas ele também tem feito por isso. Um treinador responsável não pode chegar a novembro ainda a lamentar a perda de dois jogadores vendidos no Verão, como se os outros – os que ficaram e os que entraram – só servissem para fazer número. Nem pode passar os dias a chorar a ausência de Cardozo e esperar que Kardec ou Saviola finjam que não ouviram nada. Jesus gosta de desafiar os jornalistas e tratá-los de forma altiva, assim ao estilo “vejam lá se aprendem um bocadinho comigo, porque o catedrático sou eu e vocês não percebem nada disto”.
Em entrevista à SIC, em março, quando o Benfica estava a um passo de conquistar o título, Vieira, mais do que um Jesus, via quase um Deus à sua frente: “Todos os dias falo com ele, seja à meia-noite ou às duas da manhã. Uma das últimas contratações surgiu após uma conversa telefónica mantida à uma e meia da manhã. Ele irá ficar muitos anos no Benfica.” É a velha história do amor: é eterno enquanto dura.

In Record

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