novembro 09, 2010

Bloco de notas _ Nuno Farinha


Ser ou não ser decisivo

Nem era preciso que José Mourinho fizesse aquela declaração política para se chegar a tão evidente conclusão: o clássico do Dragão é decisivo. Ou melhor, pode ser. Se o FC Porto ganhar, não tenhamos ilusões, o campeonato fica praticamente fechado à 10.ª jornada. 

E não adianta dizer que, triunfando logo à noite, os dragões deixarão “apenas” um concorrente direto fora da corrida pelo título, porque na verdade, em caso de vitória, os dragões deixam, sim, todos os adversários a 10 ou mais pontos. Derrotar o maior rival até poderá ter, desta vez, um peso simbólico adicional (o da passagem do testemunho), mas é bom perceber que esse resultado não acabaria apenas com as águias: era mesmo com a Liga Zon Sagres.
Ou seja, em caso de sucesso, o que o FC Porto terá depois para fazer é unicamente gerir uma vantagem de 10 pontos pelas restantes 20 jornadas. O Benfica, por exemplo, nunca teve essa “folga” na última época. Alguém acredita, realmente, que cedendo só um empate no primeiro terço da prova (em Guimarães), a equipa de André Villas-Boas iria depois encolher ao ponto de permitir essa espantosa reviravolta? Não me parece.
A diferença pontual e a necessidade de sair do Dragão com um resultado positivo (o empate é aceitável) devem obrigatoriamente transformar a atitude, os índices motivacionais e, por consequência, a qualidade de jogo da equipa do Benfica. Se for só o que se tem visto até agora, há poucas hipóteses de sobreviver ao “rolo” do FC Porto – que, em modo acelerado, parece uma máquina de destruição maciça. Só em estado de superação os encarnados podem conseguir equilibrar este clássico. 

Não estamos perante um jogo em que a diferença deva ser estabelecida a partir dos conceitos táticos. Pelo contrário. Nem faz sentido forçar por aí qualquer alteração de última hora para aplicar nos próximos 90 minutos. FC Porto e Benfica são aquilo que já se sabe e não é crível que, com tanto em jogo, seja este o tempo indicado para surpresas estratégicas. Até pode haver qualquer novidade na escolha ou no posicionamento dos jogadores (acredito, por exemplo, que David Luiz venha a surgir no lado esquerdo da defesa), mas não é razoável que alguma das equipas altere princípios de jogo já bem definidos. O que pode então ser decisivo neste embate? A frescura física, acima de qualquer outro aspeto. Depois dos jogos europeus e num confronto de intensidade máxima, como se espera, quem for capaz de correr mais e aguentar melhor o desgaste terá a vitória mais perto. Isso já aconteceu, de resto, na Supertaça, quando vimos um FC Porto a 150 à hora e um Benfica com dificuldade em “sair do chão”. Quem não recorda, por exemplo, um Varela supersónico a passar por um Luisão de chumbo, na parte final do jogo, para depois oferecer em bandeja de ouro o 2-0 a Falcão? Nessa noite, os dragões não foram apenas melhores no plano tático: estiveram muito mais fortes fisicamente. Veremos como será desta vez.

Por fim, numa noite de nervos, é igualmente fundamental perceber quem atinge melhor equilíbrio mental. É raro haver um clássico em que o centro da história não passe por um erro súbito – daqueles que acabam por alterar o guião. Quem suportar melhor a pressão já entra a ganhar 1-0. E por falar em erros e pressão, oxalá Pedro Proença também esteja à altura dos acontecimentos e não volte, como em 2009, a deixar-se embalar pela canção do bandido.

 In Record

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