Choque de dois mundos
De um lado o Barcelona e o seu jogo de PlayStation, rendilhado, artístico, com Messi, Xavi e Iniesta ao comando. Do outro o Real Madrid, mais forte e agressivo do que nunca. Cristiano Ronaldo, como dizem os espanhóis, está um touro. Di María parece um Fórmula 1. Um estádio em brasa, liderança do campeonato em discussão, duas propostas de jogo completamente distintas. Um treinador apaixonado pela estética, o outro pela eficácia. Uma rivalidade poderosa, que pisa o limiar do ódio e atinge o estado máximo de excitação durante 90 minutos. Desde o dia em que as bolinhas andaram à roda para ditar o calendário da Liga espanhola, que o mundo do futebol reservou a data na agenda: 29 de novembro. Durou uma eternidade, mas, felizmente, é já amanhã.
Se o futebol fosse uma ciência exata até daria para antecipar o que vai acontecer neste Barça-Real, elevando-o para uma dimensão nunca antes vista – em tese facilmente suportada pelo assustador momento de forma que os dois porta-aviões atravessam. No campeonato estão separados por um ponto e têm um registo de golos quase gémeo. Na Liga dos Campeões acabam de confirmar o primeiro lugar nos respetivos grupos e consequente qualificação para os “oitavos”. Messi marca um e CR responde. CR marca dois e Messi faz o mesmo. E andam nisto há semanas, como se a caminhada não passasse, afinal, de uma longa série de sessões preparatórias com o único objetivo de afinar as máquinas para a grande noite.
Como estamos na presença das duas melhores equipas da atualidade, dos dois melhores jogadores e, possivelmente, dos dois melhores treinadores, então o espetáculo promete transformar-se numa coisa memorável. É isto que o bom senso obriga a pensar. Mas será mesmo assim? Era bom, mas infelizmente o mais provável é que não seja. Até é provável que Guardiola e Mourinho tenham projetado a evolução das suas equipas a pensar num pico de forma para esta fase da época (a julgar pela amostra, é bem capaz de ser verdade), só que, na ótica do adepto que tem a expectativa de assistir a um espetáculo sublime, há aqui um empecilho: é que a prática desfaz qualquer teoria, por melhor que ela seja.
Messi é o inimigo público número 1? Então terá marcação individual semelhante à que foi sujeito frente ao Inter de Mourinho. Ronaldo é um diabo à solta? Então será fechado à chave, algures numa sala do Camp Nou, entre Puyol, Piqué e o amigo Busquets. Se a ideia for travá-los pelo “civil ou pelo criminal” – como defendia em abril o diretor da “Marca”, referindo-se ao argentino –, metade do jogo já fica estragado. O que sobra? Um Barça de iniciativa, como exige a sua matriz, e um adversário que seguramente terá uma surpresa guardada para a hora certa. Especula-se sobre a entrada de mais um médio (Lass?) para a saída de um criativo (Ozil?). É possível. Os primeiros 20 minutos valem meio jogo. Caso o Real consiga, nesse período, sentir-se confortável em atmosfera hostil, dificilmente será derrotado. Mas, pelo contrário, se isso não acontecer e se Messi for capaz de enganar os guardas prisionais, então também é muito possível que Mourinho sofra ali, na Catalunha, a sua primeira derrota pelo Real Madrid. Tudo teorias, porque a única certeza é que amanhã haverá um choque de dois mundos.
In Record
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