dezembro 09, 2010

Bloco de notas _ Nuno Farinha


Tudo para dar certo

Há momentos em que vale a pena recuperar um texto. Este “Bloco de notas” foi publicado a 6 de junho, dois dias depois de Villas-Boas ter chegado ao FC Porto. Passaram 6 meses e a história vai-se fazendo...
Éraro acontecer, mas desta vez até alguns senadores do FC Porto e outros proeminentes fazedores de opinião vão olhando com desconfiança para o treinador que Pinto da Costa escolheu. Verdadeiramente estranho, contudo, é que entre os céticos que nos últimos dias se têm pronunciado sobre a capacidade de André Villas-Boas não exista mais do que um argumento para invocar: a idade do técnico – 32 anos.
As dúvidas já levantadas vão permanecer até que a bola comece a rolar e o novo projeto do FC Porto ganhe corpo e definição. AVB continuará, portanto, a suscitar as mesmas reservas enquanto o tempo for de trabalho invisível. Nada a fazer.
Mas há um erro de avaliação que pode estar a ser cometido. Porquê? Porque salta à vista um vazio de conteúdo na mensagem dos descrentes. Não há grande preocupação em perceber de que forma AVB entende o futebol; não há nenhuma preocupação em detalhar o que foi capaz de fazer em poucos meses na Académica de Coimbra; não há nenhuma preocupação em interpretar, sequer, as palavras que escolheu para o dia da apresentação. Esse é o erro.
Por mim, e direito ao assunto: Pinto da Costa acertou em cheio na escolha do treinador. Não, não é por ter feito o longo estágio que fez ao lado de Mourinho ou por ter vivido experiências em clubes de topo, como Chelsea ou Inter. Seguramente que essas etapas contribuíram em boa medida para o conhecimento e capacidade de liderança que hoje AVB evidencia, mas a minha convicção nasce sobretudo da Académica que o treinador foi capaz de recriar – e mais até pelo salto evolutivo em tão curto espaço de tempo do que propriamente pelos pontos acumulados no final.
Aideia de um jogo positivo e de respeito pelo espetáculo é a primeira razão por que vale a pena acreditar no novo técnico dos dragões. A meio de abril, em véspera de receber o Benfica, em Coimbra, o treinador fez um rasgado elogio aos encarnados, confessando ao mesmo tempo que estava ali, na equipa de Jorge Jesus, o seu registo preferencial: “Não me compete comentar, mas sou um fã daquele estilo de jogo, dominador, agressivo e de ataque. Jogam de forma apreciável, marcam uma quantidade inacreditável de golos, entram sempre para ganhar, são fortes em todos os sentidos. Sou fã deste estilo.”

Ora, se este já era o pensamento que revelava antes de chegar ao topo, não há razão para considerar que, perante novas obrigações, AVB não queira implantar esta etiqueta no FC Porto. E esse será um dos principais aliciantes do próximo campeonato: saber até que ponto o treinador irá conseguir cravar esta marca (aliança entre espetáculo e qualidade dos resultados) no Dragão.
Quem mostrou coragem e saber para pôr uma equipa que lutava pela permanência a jogar no campo todo – e em qualquer estádio! –, deveria agora ter mais crédito do que lhe está a ser concedido. AVB não deve somente ser olhado como discípulo de Mourinho, nem penalizado por ter 32 anos. Deve, pelo contrário, ser valorizado por ter iniciado o caminho ao lado dos melhores e por ter chegado a um gigante do futebol português com esta idade. O resto, como diz PC, é capaz de ser inveja.

  In Record

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