Trabalho sujo
Segundo as minhas contas, há onze meses e sete dias que não faço qualquer observação depreciativa em relação ao talento de Carlos Queiroz para treinar equipas de futebol. Estou, como é biologicamente previsível, a ressacar. Várias vezes ao dia, assalta-me uma súbita vontade de assistir a um jogo particular do Irão, ou, quando a pulsão aditiva é tanta que já nem é necessária satisfazê-la com jogos em direto, a reposição de uma qualquer partida que Queiroz tenha orientado no passado e em que não tenha conseguido uma vitória. Convenhamos que a escolha é, neste último caso, enorme.
Mas o caso é mais grave do que parece. Aqui há uns tempos, a Federação Portuguesa de Futebol obrigou-me a fazer uma coisa muito desagradável, que ainda hoje lhes guardo ressentimento: a vir defender o ex-selecionador nacional, na sequência do processo disciplinar absurdo de que foi alvo. E hoje temo que o volte a fazer. A continuar a este ritmo, qualquer dia serei tão pró-Queiroz, que começarei a referir-me a ele como ele se refere a si próprio em todas as entrevistas que dá – “eu, que em 1989 e 1991 fui campeão mundial nos Sub-20…”
Mas tem de ser. Na semana passada, Raul Meireles, antes do Portugal-Noruega, declarou: “Portugal mudou, pois tem um treinador com métodos novos. E aí está a grande diferença. Hoje, os jogadores sabem o que têm de fazer.” Até no boxe, que é um desporto violentíssimo, há uma pessoa que está encarregue de interromper o combate, quando um dos lutadores está no chão, inconsciente, e o outro está no seu canto a festejar, com o seu treinador. Como se trata de futebol, alguém já devia ter dito que é feio continuar a bater em quem está no chão.
Por favor, não me obriguem a vir outra vez defender Carlos Queiroz, que em 1989 e 1991 foi campeão mundial dos Sub-20.
Pronto, já estou.
In Record
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