janeiro 11, 2012
Crónica de João Malheiro
Natal com o Eusébio
Como é que escreveu o José Carlos Ary dos Santos? «Natal é quando um homem quiser». Escreveu lindo, escreveu intenso. O Paulo de Carvalho cantou. Cantou lindo, cantou
intenso.
E o meu Natal? Afinal, como foi o meu Natal?
«Natal é como o Eusébio quiser», poderia ter escrito.
O Eusébio quis que o meu Natal fosse menos Natal.
O Eusébio quis que o meu Natal fosse um Natal perturbado.
O Eusébio não quis voluntariamente, mas eu quis que este fosse o Natal do Eusébio. Falei
com ele todos os dias, mais ainda no próprio dia de Natal, ouvindo quase sempre
aquela voz fatigada, triste, pesarosa. Mas ouvi, também, uma voz amiga, gentil, delicada.
O meu Natal foi do Eusébio e para o Eusébio.
Tantas mensagens, tantos contactos, tanta gente preocupada com o estado de saúde do mais lendário futebolista nacional de todos os tempos.
De regresso ao hospital, o Eusébio quis que o meu Natal se prolongasse. Não quis voluntariamente, mas eu quis que assim fosse.
Porque «Natal é quando um homem quiser». E eu quis, eu quero continuar a querer o Natal do Eusébio.
Quis e quero continuar, dia após dia, a ouvir aquela voz. Menos fatigada, triste, pesarosa. Sempre amiga, gentil, delicada.
Escrevi muito, com indisfarçável orgulho, sobre o Eusébio. Só ainda não tinha escrito aquilo que lhe disse há duas semanas. «Maior, tu para mim és mais importante
do que o Natal.» O Eusébio não gostou. Eu gostei. Gostei porque senti.
E também vou gostar, mais ainda, de o ver, no futuro, a marcar golos, muitos golos,
bonitos golos, gostosamente, na baliza da vida.
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