junho 14, 2011

Contra a Corrente _ Leonor Pinhão


A todos os títulos lamentável

A última coisa que faltava ao Benfica era acabar esta temporada de 2010/2011, a todos os títulos lamentável, com um processo disciplinar a Fábio Coentrão que foi, simplesmente, o único jogador do Benfica que jogou à bola a sério, sem falhas, sem quebrantos, sempre em altíssimo nível durante a época inteira.

Coentrão, de todos os jogadores do Benfica que estiveram no Mundial da África do Sul - e foram muitos, ao serviço de muitas selecções – foi o único que não foi vítima da síndrome do Mundial. Fez as suas feriazinhas, mais curtas do que o habitual, e apresentou-se no Estádio da Luz fresco como uma alface, pronto para mais um ano de trabalho que cumpriu com brio, profissionalismo e talento do princípio ao fim.

Parecia até, em comparação com alguns companheiros bem mais experientes do que ele nestas andanças, que Coentrão tinha-se limitado a ver pela televisão os jogos do Campeonato do Mundo de África do Sul, confortavelmente sentado no seu sofá em Caxinas, que é a terra onde nasceu.

Fábio Coentrão terminou a época no Estádio da Luz, no jogo com o União de Leiria, e despediu-se dos adeptos do Benfica com uma promessa enganadora, uma promessa que não devia ter feito: «Cá estarei no dia 22 de Junho», disse. Também é verdade que ninguém acreditou que alguma vez viesse a ser verdade a continuidade do lateral-esquerdo no Benfica, pelo que Coentrão jamais passará por mentiroso.

É de presumir que Coentrão, durante largo tempo, esteve em sintonia com o Benfica no que diz respeito à sua transferência para o Real Madrid. E ao despedir-se «até 22 Junho», o jogador mais não estava do que a fazer a sua parte da pressão sobre o Real, demonstrando aos espanhóis que se o queriam levar teriam de abrir os cordões à bolsa e bater os 30 milhões da cláusula de rescisão.

Aparentemente, Coentrão fartou-se de esperar pela conclusão do negócio entre o Benfica e o Real Madrid e, impaciente, mudou de campo um tanto precipitadamente. Passou a fazer parte da pressão do Real Madrid sobre o Benfica ao confidenciar – confidenciar? – ao jornal desportivo madrileno As que era do Real «desde pequenino» e que já estava de corpo e alma em Chamartín.

O Benfica quer o dinheiro todo e Fábio Coentrão quer ver-se rapidamente no Santiago Bernabéu. Neste conflito de interesses provocado pela demora das negociações ficou estragado o idílio amoroso entre Coentrão e o Benfica. É uma grande pena que uma relação que foi exemplar de paixão mútua e de profissionalismo termine em zaragata nos jornais e em ameaças de processos disciplinares.

É um negócio de milhões e, assim sendo, compreende-se não só a dimensão do conflito como também a intervenção pronta do presidente do Sindicato dos Jogadores que veio provar ao País que um sindicalista que se preze tanto olha pelos casos desesperados dos jogadores que não recebem salários como pelos casos milionários. Joaquim Evangelista correu à praça pública para clamar que Coentrão «tem toda a liberdade para manifestar a sua opinião, desde que não colida com os interesses do Benfica».

Escolheu mal as palavras o presidente do Sindicato dos Jogadores porque a pressa de Coentrão em ver-se em Madrid colide, precisamente, com os interesses do Benfica num valor de 5 milhões de euros, que é a diferença entre o que o Real oferece e o que o Benfica não pretende aceitar.

Os benfiquistas bem gostariam de ser poupados a este episódio final de uma época tão triste. Como se não bastasse ter de ver Coentrão ir-se embora, ainda temos de ver Coentrão no absurdo papel de mal-amado.

Argel garantiu esta semana que Bruno César, o canhoto que o Benfica já contratou ao Corinthians, «é muito parecido com Moutinho a jogar, é muito bom, forte, vai ajudar o Benfica», disse o antigo defesa-central do FC Porto e do Benfica.

Era bom que Bruno César fosse «parecido» com Moutinho. Aliás, foi uma pena que, no defeso passado, o Benfica, no lugar do FC Porto e, sobretudo, pelo mesmo preço, não se tivesse abalançado a um João Moutinho em rota de colisão com os responsáveis do Sporting. Que jeito teria feito o dínamo Moutinho no depauperado meio-campo do Benfica pela saída do dínamo Ramires.

Mas agora vem aí Bruno César e chega bem credenciado. Se Argel tiver razão e o brasileiro for «muito parecido» com Moutinho, será sem qualquer espécie de dúvida uma boa contratação do Benfica. E pode acontecer ainda melhor.

Imagine-se que Bruno César acumula não só as qualidades de João Moutinho mas também outra gama de talentos de vocação mais virada para a baliza. Vamos esperar para ver, é este o encanto de todos os defesos…

Nolito visto no youtube é fantástico. Falta vê-lo a sério, na chamada vida real, noventa minutos todos os fins-de-semana ao longo de meses, com sol e com chuva, inspirado e desinspirado, como acontece a todos.

O jogador espanhol tem vindo incessantemente a explicar através dos jornais as razões que o levaram a optar pelo Benfica em detrimento do Barcelona, onde raramente tinha acesso à equipa principal. Nolito, segundo se depreende das suas palavras, vem para o Benfica para «jogar com regularidade», ambição legítima para um profissional com 24 anos de idade.

Nolito parece ser uma pessoa humilde. «Jogarei onde o treinador quiser, procurarei adaptar-me às necessidades da equipa», disse a A BOLA na sua edição de ontem. Ficam-lhe bem estas palavras. Depois acrescentou: «E se for preciso jogar a guarda-redes também o farei.» Pronto, aqui é que estragou tudo.

Porque se Nolito, afinal também dá para jogar na baliza, então, nesse caso devia ter vindo para a Luz um ano mais cedo.

No sábado passado a selecção portuguesa não fez nem mais nem menos do que o que lhe competia. Ganhou à Noruega e saltou para o primeiro lugar do seu grupo de qualificação para o Europeu de 2012.

Apesar de ser um jogo importante, era obrigatório ganhar, o Portugal – Noruega foi vivido nas bancadas da Luz num ambiente de fim de temporada a até de fim de ano escolar. Basta dizer que o único momento de verdadeiro delírio entre o público aconteceu já em tempo de descontos quando um adolescente atrevido invadiu o relvado embrulhado numa bandeira nacional e foi cerimoniosamente cumprimentado por alguns jogadores que não resistiram a embarcar no momento cómico da noite.

A multidão adorou e o nosso streaker imberbe rematou a sua performance com uma frase digna de registo: «Sou o orgulho da Nação!»

Já Cristiano Ronaldo mostrou, uma vez mais, que tem grandes dificuldades em ser o orgulho da Nação sempre que veste a camisola da Selecção Nacional. Não é que Ronaldo tenha jogado mal contra os noruegueses. Mas quando está de quinas ao peito, Ronaldo raramente consegue produzir aquelas fabulosas habilidades que o transformaram num ídolo mundial e que o vimos protagonizar em Manchester e, agora, em Madrid.

Há quem justifique esta perpétua crise de Ronaldo na Selecção com o facto, indesmentível, de não ter a seu lado jogadores do mesmo nível galáctico que tem em Madrid.

E como o futebol é um desportivo colectivo, estes pormenores acabam por ter a sua importância em termos prático. Ronaldo joga melhor no Real do que na Selecção porque está inserido num elenco de bastante melhor qualidade.

É, por exemplo, o que acontece precisamente a Hélder Postiga que joga muito melhor na Selecção do que no Sporting pelas mesmíssimas razões. E que bom golo marcou Postiga aos noruegueses, a passe de Nani, pois claro!

Vai começar a Copa América e o Benfica, com Luisão, e o FC Porto, com Guarin e Falcao, vão estar representados na mais importante competição sul-americana entre selecções. Hulk, no entanto, não foi convocado ainda que seja ele, ente todos os avançados brasileiros a jogar por esse mundo fora, o único a ter um contrato com uma cláusula de rescisão de 100 milhões de Euros.

Vê-se logo que o seu empresário não se chama Jorge Gomes…

1 comentário:

Sakana disse...

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