Acertar contas
O Benfica deve a Jorge Jesus um campeonato, ganho com um futebol empolgante que ajudou a lançar a onda vermelha. Deve-lhe duas ou três Taças da Liga, consoante o resultado de sábado. Deve-lhe uma boa época europeia (que se finou há uma semana em Londres), uma razoável caminhada na Europa (meias-finais da Liga Europa, mas com queda frente ao Braga) e uma radical deceção internacional na estreia do técnico. Não convém esquecer o regresso do futebol de ataque, do espetáculo, de jogos de autêntico cilindro. O renascimento da atitude guerreira da equipa, de vez em quando capaz da raça que os mais antigos (como eu) associam a uma forma própria de estar em campo, merece ser contabilizado. E há o crescimento de jogadores que, ganhando destaque no clube, já lhe renderam ou podem render excelentes negócios. É muito crédito para Jesus.
Em contrapartida, Jesus fica, depois de Alvalade, a dever um título ao Benfica. Não há outra forma de sintetizar a queda vertical dos últimos dois meses, em que os 13 jogos dos encarnados (em três competições) se traduzem em cinco vitórias, quatro delas na Luz, dois empates e seis derrotas: Zenit, Guimarães, FC Porto, Chelsea duas vezes e Sporting. No final da primeira volta, o Benfica tinha dois pontos de avanço. Virada a jornada 18 (três quintos do campeonato), há dois meses, o Benfica aumentara a diferença – cinco pontos. Daí para cá, toma lá 13 pontos perdidos em 24 possíveis. Mesmo que faça o pleno nos quatro jogos em falta, o Benfica da segunda metade do campeonato ficará longe do que se apresentou na primeira volta – 32 pontos possíveis (20 até agora) contra 39. Hoje, o Benfica tem quatro pontos de atraso.
Mais: Jorge Jesus deve ao Benfica, à sua história e à sua dimensão, o imperativo de não repetir a desculpa com as arbitragens. É certo que Proença, Capela e Soares Dias passam a ser protagonistas – e não figurantes, como deviam – do campeonato. Mas isso não lhe dá o direito de não perceber que a equipa estourou, que há demasiada gente a acusar a pressão, por excesso de nervos (Bruno César) ou por defeito de desempenho (Gaitán, Cardozo), que sempre houve lacunas e teimosias. Jorge Jesus, enquanto treinador do Benfica, não pode descrever a partida com o Sporting – justo vencedor – como o fez, lançando um manto sedoso de ilusão sobre a triste realidade. Chegou a hora de acertar contas com ele. Para, logo a seguir, começar a avaliação da estrutura diretiva e do próprio presidente, que prometeu mais do que deu.
Custa aos adeptos do Benfica assistir a isto. Mas também custa aos amantes do futebol perceber que, no seu país, um técnico irremediavelmente medíocre como Vítor Pereira possa ser campeão nacional, só porque tem mais máquina.
In Record
1 comentário:
Uma análise, respeitável antes de mais, mas com a qual concordo apenas parcialmente. Não me limito a olhar apenas para resultados, mas avaliar o que os motiva, e recentemente tenho concluido coisas como "Proenças, Hugos, Soares Dias", e demais cáfila...
Quanto aos outros, (sabemos quem são) até um foragido do Júlio de Matos, ou o próprio "emplastro" seria o treinador cãopioum. Lá qualquer um o é...
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