abril 19, 2012

Tempo Útil _ João Gobern



Modernos e eternos

Os melhores adeptos do Sporting, entre os quais “coleciono” grandes amigos, não mereciam aquilo que lhes caiu em cima. Só há duas hipóteses: ou é uma traição de um dos seus, inusitada, indesculpável, indecorosa e ainda por cima mal montada, ou é uma cabala de terceiros, o que seria prova final do estado de demência a que chegou o futebol português. A época leonina parecia já ter suportado toda a agitação possível. Pode o Sporting queixar-se de que esta bomba, com ondas de choque ainda incalculáveis, rebenta em vésperas de um momento decisivo da temporada para um clube que foi arquivado cedo de mais, acabando por se tornar no mais resistente dos portugueses à erosão europeia. O primeiro encontro com os espanhóis do Bilbao ajudará a traçar o rumo da eliminatória e, certamente, este não era o clima que os dirigentes e os técnicos gostariam de poder proporcionar à equipa.

O problema, mais uma vez, vem da gestão do caso, mal concretizada. Nas suas aparições e declarações públicas, Godinho Lopes nunca passou a imagem que se esperava dele – a de alguém profundamente ofendido, legitimamente indignado pela calúnia que envolve um homem em quem confia (Cristóvão). Ou será que não confia? No final da sessão eleitoral que o consagrou, Godinho Lopes titubeou. Na Luz, com pirómanos à solta, ameaçou com umas famigeradas gravações – “altamente” comprometedoras para Luís Filipe Vieira – que nunca se ouviram. No caso Domingos, mudou de discurso e de posição em menos de um dia. Agora, a ter sido ele o responsável final pelo regresso do vice-presidente, voltou a dar uma imagem de fraqueza. Para sossego geral, sobretudo para descanso do próprio Sporting, Paulo Pereira Cristóvão devia ficar longe dos círculos de decisão, ao menos por uns tempos.

Há, ainda assim, alguns elementos que me fazem pôr tudo isto em causa. Um antigo inspetor da Polícia Judiciária, a ter feito aquilo de que o acusam, não conseguiu prever que o depósito era um tiro no pé quando o que se usa, ao que julgo saber, é o numerário em envelope, entregue em local discreto? Um vice-presidente pode tomar a iniciativa de vigiar jogadores do clube quando se sabe, por tradição, que essa tarefa policial é entregue a um qualquer adjunto ou assessor da equipa técnica? Mais do que tudo, custa-me a hipocrisia (com que tenho sido forçado a conviver de perto…), elevada ao extremo, de ver arautos de um certo clube, satisfeitos e impiedosos com o alegado percalço de um sportinguista, a gritarem por sangue, a exigirem cabeças e a esquecerem-se que têm lá em casa um senhor que só não foi condenado por pormenores técnicos. Mas nem uma sentença judicial muda a essência da verdade – e essa anda aí, para quem quiser ouvi-la.

In Record

1 comentário:

Mikos disse...

O que me lixa é que uma vez mais vai ficar tudo em águas de bacalhau.Isto não é um país é um lugar mal frequentado no qual só há justiça para os mais desprotegidos,tudo o resto é um fartar vilanagem.

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