novembro 17, 2011

Contra a Corrente _ Leonor Pinhão




Foi um extraterrestre que apagou as luzes (ou Artur e as «coisas do outro mundo»)

De todas as coisas inacreditáveis que se passaram e se disseram em Braga desde que o Benfica foi lá jogar, a mais inacreditável de todas é, por sorte, logo única que está documentada.

Sim, sim, temos foto!

A coisa que seria mais improvável de ocorrer em nome do bom senso, da harmonia e do progresso da civilização, a coisa verdadeiramente mais chocante triunfando sobre os demais nos capítulos da intolerância e da estupidez, é a única coisa que disponibiliza a imagem em flagrante do abuso cometido.

Certamente, será alvo de um inquérito não da Liga de Clubes, que organiza os jogos da bola, mas do Ministério da Educação que organiza o resto, ainda que menos importante.

Na terça-feira, o bom do Mossoró, que joga no Sporting de Braga, visitou a escola EB 2-2 de celeiros, uma freguesia bracarense, e um aluno «foi aconselhado a não assistir à sessão de autógrafos, não fosse a sua presença ser confundida como uma provocação», como se podia ler ontem neste jornal. E não só ler.

Ver também porque A Bola publicou uma fotografia – que aposto que não é forjada – de um rapazinho com uma camisola do Benfica encostado a uma parede a ouvir as explicações, desprende-se, de uma senhora mais velha que não se sabe quem é. Poderá ser uma professora, uma mãe, uma funcionária ou mesmo alguém que goste de aparecer em fotografias.

O rapaz tem um sorriso maravilhoso.

Não mostra o menor temor pelo acto de segregação de que está a ser alvo nas instalações de uma escola do Estado português.

Está-se a sorrir de frente para eles.

A Comissão de Disciplina da Liga decidiu multar esta semana o Sporting na quantia de 1700 euros por causa da pancadaria entre elementos de uma claque sua e as forças policiais no jogo de Alvalade com o Benfica, a contar para o campeonato de 2010/2011. O tal episódio de violência, amplamente documentado pelas câmaras, ocorreu a 21 de Fevereiro deste ano. Está quase a fazer um ano e a demora da decisão praticamente fez esquecer o despautério infelizmente comum nos nossos bonitos campos.

Assim sendo, ainda bem que a Liga não vai abrir nenhum inquérito às três falhas de luz que obrigaram a interromper o jogo por três vezes numa primeira parte que, por isso mesmo, teve 37 minutos de tempo de compensação.

Aparentemente, ouvindo o presidente da Liga e futuro presidente da Federação a falar, foram mais do que suficientes as explicações fornecidas em pleno camarote VIP do estádio Axa para que Luís Filipe Vieira e o próprio Fernando Gomes se considerassem esclarecidos sobre o invulgar episódio eléctrico.

No entanto, é bem possível que a Liga abra um inquérito às acusações trocadas publicamente entre Artur e Alan.

Artur, por exemplo, está tramado com a analogia que escolheu. Agora vai ter de provar aos juízes da Liga que em Braga, sempre que o Benfica lá vai, «acontecem coisas do outro mundo». Não vai ser fácil para Artur, neste mundo, justificar o que afirmou sobre a recorrência das manifestações anti-benfiquistas do além. Para se safar ao castigo terá de provar, para além de qualquer dúvida razoável, que quem fechou por três vezes a luz do estádio foi um extraterrestre ou um saco de ectoplasma ou um alienígena ou uma alma penada, enfim, qualquer coisa «do outro mundo».

Alan também se desgraçou um bocadinho com analogia que escolheu em defesa da inocência dos cortes da luz. «Falha de electricidade é um erro técnico que acontece. Quando o FC Porto foi à Luz ligaram o sistema de rega», disse.

Disse e esticou-se.

Porque não há ninguém que acredite que a ligação do sistema de rega (quando o tal jogo tinha acabado, o que já faz diferença) na Luz «foi um erro técnico» que aconteceu, pois não?

Alan terá levado longe de mais o seu esforço na ânsia de grande profissional que quer defender o bom nome da sua entidade empregadora mas que, por excesso de voluntariedade e pouco tino, acaba por cometer um lapso de analogia que era absolutamente dispensável.

Alan não fez uma exibição muito inspirada contra o Benfica e até parece que só acordou para o jogo 24 horas depois de Pedro Proença ter apitado para o fim da contenda. Acordou e acusou Javi Garcia de lhe ter chamado «preto», a ele que «preto eu, não, é negro».

A frase é confusa, admita-se.

Não é claro se Alan está a querer dizer que não é preto, que é negro. Ou se Alan está a querer simplesmente explicar-nos em que língua é que Javi o insultou, visto que em língua castelhana não existe «preto», só se usa o «negro».

Este vai ser um inquérito difícil para os juízes da Liga. Até porque todos sabemos que não há prova documental dos insultos visto que Alan acabou com o suspense afirmando que o jogador espanhol do Benfica «pôs a mão à frente da boca» quando falou. Para ninguém lhe poder ler os lábios, estão a perceber?

Lá mais para os Santos Populares teremos notícias destes inquéritos todos.

(…)

Nas próximas eleições para a Federação Portuguesa de Futebol o Sporting joga deliberadamente ao ataque em dois tabuleiros. E, portanto, sairá sempre vencedor o que tem as suas virtualidades.

Godinho Lopes reitera a cada momento o seu apoio a Fernando Gomes, de acordo com as notícias de todos os jornais. Luís Duque, de acordo com o Correio da Manhã, mantém-se inabalável na campanha por Carlos Marta ao ponto de «ameaçar mandar regressar a Alvalade já em Dezembro» os jogadores que o Sporting emprestou aos clubes da Associação de Futebol de Lisboa que assinaram a convocatória da assembleia-geral que visa destituir Marta, o actual presidente da AFL.

Estas eleições da FPF estão como o universo, em expansão. Não só vão decidir quem vai suceder a Madaíl na presidência do referido organismo de utilidade pública, como também vão decidir quem manda nos árbitros e nos delegados e, como se já não bastassem tantas decisões num acto só, vão também sufragar quem é que verdadeiramente manda no Sporting.

Atenção, portanto, ao dia 10 de Dezembro.


1 comentário:

Jotas disse...

Fantástica como sempre.

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