novembro 04, 2011

Crónica de João Malheiro


Amizade

O Paulo convidou? Ele, para mim, não convida. Ele, para mim, ordena. É assim que procedo com os amigos mais próximos. O Paulo de Carvalho é um deles. “João, queres jantar na quinta-feira em minha casa?”. Claro que jantei. O Paulo não convidou, o Paulo ordenou. Ganhei um belo serão, matizado com futebol, com música, com reflexões sobre a vida, sobre as coisas, sobre tudo. Sobretudo, ganhei o que mais gosto de ganhar. Ganhei mais alguma ferramenta para robustecer o meu alicerce intelectual. Ganhei mais alguma ferramenta para robustecer o meu alicerce social. A dada altura, adveio a frase da noite. “As coisas belas só pertencem a quem as ama”. Ganhei, ganhei muito.

O Simões convidou? O Simões não convida, o Simões ordena. De passagem por Lisboa, ele que está no Irão, telefonou com um objectivo preciso. “João, queres almoçar na sexta-feira?”. Claro que almocei. Também com o Eusébio, outro daqueles que não convidam, outro daqueles que ordenam. Também com o Toni, outro ainda daqueles que não convidam, daqueles que ordenam. Em Caneças, no restaurante da Amélinha, ganhei horas infindas coloridas de bola, de boa bola, da melhor bola. Da bola inteligente, porque a bola é, mais do que tudo, daqueles que são da bola. Só da bola? Também de outras bolas, bolas da vida. A dada altura, adveio a frase da tarde. “Não quero ter razão, quero ser feliz”. Saiu da bola do António Simões. Ganhei, ganhei muito.

“A mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original”. Também emergiu essa? Não exactamente. Até que gostava de ter almoçado ou jantado com o Albert Einstein. Não houve repasto, mas houve, há sempre, ensinamentos irrefutáveis. E “nada na vida deve ser temido, antes compreendido”, algo que também não emergiu de um almoço ou de um jantar com a Marie Curie.

A amizade é um património inalienável. Carrega com ela tanto conteúdo substantivo. É uma causa que me fascina praticar. Praticar e sentir. Praticar e sentir para mais aprender. E se almoçasse ou jantasse com o Oscar Wilde, que frase deveria emergir? “Experiência é o nome que damos aos nossos enganos”. E se fosse com o Norman Vicent? “O mal de todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica”.

1 comentário:

António Barreto* disse...

Caramba! Gostei.

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