novembro 22, 2011

Email Aberto _ Domingos Amaral


Bate-papo

From: Domingos Amaral
To: Paulo Bento

Caro Paulo Bento
Ao longo dos quase seis anos que foi selecionador de Portugal, Luiz Felipe Scolari nunca explicou por que não convocava Vítor Baía. Correram rumores, mas ele nunca abriu a sua boca. Com isso impediu que Baía ripostasse e que o país analisasse o contraditório. O seu silêncio absoluto impossibilitou a transformação do caso numa telenovela, e manteve intocável a sua autoridade.

Não se passou o mesmo contigo. Tanto no “caso Ricardo Carvalho” como no “caso Bosingwa” caíste na tentação de justificar publicamente os teus atos. Talvez por receio de seres considerado demasiado “autoritário”, coisa sempre mal vista em Portugal, entraste no jogo das justificações e das explicações, no bate-papo público e… nasceram duas telenovelas.

Respostas e reações, insultos e provocações, ironias e bocas, bons e maus, heróis e vilões, já houve de tudo nas duas novelas. E houve também um lento degradar da tua autoridade, certamente o resultado oposto ao que desejavas. Há, pois, aqui uma lição: se procuravas impor a tua autoridade perante o grupo de jogadores, então a estratégia silenciosa de Scolari teria sido a mais apropriada. Entrar no bate-papo público só criou barulho e, de caminho, degradou a tua legitimidade enquanto selecionador.

O que é uma pena, pois a verdade é que conseguiste relançar a Seleção e colocar Portugal no Euro, tarefa difícil que ultrapassaste com distinção, e que merece o nosso aplauso. Se, nestes dois casos específicos, tivesses optado pelo silêncio, terias sido perfeito. Por vezes, o silêncio é mesmo de ouro.


In Record

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