dezembro 21, 2011

Crónica de João Malheiro


Fitas e Fintas

O António Simões fez anos. Não é que é quase septuagenário? Convidou-me para o jantar de aniversário, regressado há dias do Irão, onde tem coadjuvado Carlos Queiroz. A cerimónia foi muito íntima e não menos tocante. O António gosta de sentir verdade, gosta de sentir certeza nos seus amigos. A meio do repasto, liguei à minha mãe, que já dobrou a barreira dos oitenta. “Nos anos do Simões? Aquele pequenino das fintas que jogava com o Eusébio?”. Esse mesmo.

Simões foi um futebolista genial. Na esteira de Rogério, Bentes, Albano, deliciou o mundo da bola nas décadas de 60 e 70. Um dia, comparei-o a algumas figuras da Banda Desenhada. Foi assim: “Ele era o Rato Mickey, na sua principal alcunha, expressão de agilidade em corpo minguado. Ele poderia ser o Speedy Gonzalez, conceito de rapidez, de velocidade. Ele poderia ser também o Astérix, noção de combatente, de indomável. Ele poderia ser ainda o Lucky Luck, ideal de oportunidade, de precisão. E porque parecia driblar mais rápido do que a própria sombra, ele só poderia ser o nosso Simões. Que ao poema chamava finta”.

Ele tinha a graça dos mais gráceis. Ele tinha a subtileza dos mais subtis. Ele tinha o engenho dos mais engenhosos. Ele tinha tudo o que os outros não tinham. Depois dele, também tiveram o Chalana, o Futre, o Figo, agora o Ronaldo. Gente de fintas como fitas? Ou será que gente de fitas como fintas? Sempre gente das mais belas fitas com as mais belas fintas.O futebol português tem parido alguns dos melhores filhos da melhor bola. O Simões ainda hoje é o mais jovem campeão europeu de toda a história. Dizer Simões, dizer também Chalana, Futre, Figo ou Ronaldo é dizer acato, é dizer mercê, é dizer honra. Mais ainda, é dizer presente a um passado com sabor a futuro

 

 

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