Da conspiração
Há duas hipóteses: ou a máquina organizativa do FC Porto entrou em derrapagem, não conseguindo evitar alguma roda livre em atitudes e tiradas dos “funcionários” do clube, ou Vítor Pereira é, muito mais do que a sua presença, o seu vocabulário e a sua estratégia permitem adivinhar, um “enfant terrible” que escapa a todos os esforços para o corrigir.
Vejamos, no final do jogo com o Zenit, ao técnico do campeão nacional em título e detentor da liga Europa só restava uma solução: apresentar-se publicamente, mas sobretudo perante os sócios e adeptos do clube que orienta, de “corda ao pescoço”, assumindo o falhanço de um objetivo que, no FC Porto, já é tradição. Em vez disso, a Vítor Pereira só faltou aparecer a referir o dever cumprido – falta de bom senso perante uma massa de torcedores que está habituada a ganhar e que, ainda que bem menos do que outras, não pode deixar de ser resultadista.
Pior só o deslize, fatal, no final da partida com o Apoel, em Chipre: “Hoje fomos Porto”. É curioso que ninguém lhe tenha pedido para repetir, garantindo assim que era o próprio homem a mergulhar voluntária e despreocupadamente numa piscina de areias movediças.
Pior, outra vez, foi agora. Perante a exibição sofrível do FC Porto em Aveiro, Pereira avançou para “as teorias da conspiração”. Em boa verdade, não conheço um só adepto dos campeões nacionais que, podendo exercer a sua sentença de forma discreta ou secreta, não assinasse prontamente a guia de marcha ao antigo adjunto de André Villas-Boas.
Mais: em letra publicada, os que se assumem como principais críticos das decisões do técnico “em vigor” no Dragão são conhecidos defensores do clube, vários deles premiados pela dedicação e pelo brilho com que espalham (ou espalharam?) o “portismo”.
Vem deles, muito mais do que dos sectores habitualmente identificados como “inimigo externo”, o ataque às escolhas, às substituições, aos desenhos táticos, às invenções de um treinador que, para sermos sinceros, até é considerado um “aliado” pelos adversários, que não deixam de fazer votos para que a sua permanência se estenda no FC Porto.
É que, resultados e exibições à parte, já perceberam que as inúteis espadeiradas de Vítor Pereira contra os fantasmas acabam por lhes valer dias de trégua, em que ninguém desvia os olhos para outras crises.
Só há mistério ou este só se adensa quando deparamos com o silêncio obstinado de Pinto da Costa. Mas também não é preciso recuar muito para a lembrança do adeus a Octávio Machado e das boas-vindas a José Mourinho, a meio de uma época. Resta saber agora quem desempenhará o papel deste último, num “remake” tantas vezes levado à cena no palco do futebol. E, ainda assim, tantas vezes com casa cheia.
In Record
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