dezembro 10, 2011

Tempo Útil _ João Gobern



Mudar ou manter

Foi muito longe do Dragão e muito antes da partida de ontem que o campeão nacional hipotecou as hipóteses de manter incólume a tradição. Ou seja, de ultrapassar a fase de grupos da Liga dos Campeões, fazendo jus a um estatuto europeu que é difícil negar-lhe. Na Rússia, onde costuma ser feliz e encetar recuperações, e no Chipre, onde não lembrava a um careca que pudesse perder da forma ingénua que todos recordamos, aí é que se plantaram as sementes do diabo. Ontem, mais do que a falta de eficácia apontada por Vítor Pereira, há que tirar o chapéu à exibição histórica de Malafeev (na foto) e, de uma forma geral, à muralha defensiva que o Zenit montou e que conseguiu suster um FC Porto enérgico, teimoso e com momentos de puro e simples estrangulamento do adversário.

É verdade que os portugueses somaram 25 remates à baliza, que esmagaram na percentagem de posse de bola, que só viram um lance de perigo iminente por parte dos russos (um cruzamento de Danny que levaria a bola aos pés de um avançado isolado, não fosse Helton ter vestido providencialmente a pele de central). Mas, não fosse o cimento armado dos homens de Leste, e os números seriam calamitosos. É verdade que João Moutinho (com passes magistrais), Defour, Fernando, Alvaro Pereira, Rolando (um regresso às boas exibições), Djalma (consistente até a defender) e James Rodríguez mereciam o triunfo na partida em que, pesado e angustiante, o nulo não chegou a desfazer-se. Um pouco mais de Hulk – ou um pouco menos, se pensarmos nos seus excessos – e uma ala direita a funcionar talvez fossem as chaves. Mas, convenhamos, a este nível e à beira de uma proeza inédita para o clube russo, Spalletti não se preocupou com orgulhos e nobrezas: puxou dos galões de disciplinador tático e montou o seu bloco de maneira a tornar quase impossível que o FC Porto tivesse espaço físico para pensar o que queria fazer.

Dir-se-á agora que Vítor Pereira já desperdiçou dois dos objetivos da época (depois da queda abrupta na Taça de Portugal e não contando aqui a Supertaça Europeia diante do colosso Barcelona). É verdade que, transitando para a Liga Europa, a equipa vai ter mais jogos (a final fica à distância de mais uma eliminatória) e, sobretudo, menos dinheiro. Mas, do ponto de vista psicológico, a eliminação do Benfica na Madeira já veio amenizar as dores de alma. Na competição internacional, não há como excluir o FC Porto – detentor do troféu – da lista de favoritos. No campeonato, o ombro a ombro mantém-se. Com tudo ponderado, talvez Vítor Pereira tenha ganho salvo-conduto até final da época. Ou, pelo menos, até ao princípio do ano, quando visitar Alvalade. Mudar ou manter? São sempre “verbos provisórios”, no cenário do futebol.

In Record

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