Leão está de rastos
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O demissionário presidente do Sporting diz que o poder não caiu na rua. José Eduardo Bettencourt é um homem que transmite franqueza em muitas das afirmações que faz. Às suas palavras pode mesmo, por vezes, associar-se uma ideia de ingenuidade, que surpreende, por inabitual em dirigentes desportivos envolvidos em estruturas ajustadas à dimensão de um grande clube.
Admito que Bettencourt acredite convictamente que o poder na sua agremiação não tenha caído na rua. A verdade, no entanto, é que está de rastos. Os péssimos resultados desportivos da equipa de futebol, a venda de Liedson e a demissão de Costinha são o corolário de sucessivos erros que, pedra a pedra, sem travão, vêm abalando o edifício de competência e prestígio, desde há anos. A realidade que revela é que o Sporting de hoje está longe de corresponder ao que a herança de glória que lhe foi legada reclamaria. A frustração dos adeptos e sócios está em correspondência direta com o declínio que a formação de Alvalade assume no contexto do futebol português, de cuja cúpula se foi afastando, em detrimento do Futebol Clube do Porto e do Benfica.
A tarefa que aguarda o candidato que acabe por conquistar a cadeira da presidência é gigantesca. Não apenas a situação financeira obriga a intervenção urgente, realista e determinada, como a necessidade de relançar o Sporting como um clube com ambição de campeão pressupõe inteligência, pragmatismo, capacidade de mobilização e conhecimento.
Uma instituição que descobriu, criou e formou jogadores como Nani e Cristiano Ronaldo, sem citar mais nomes que me roubariam espaço nesta crónica, tem obrigação de ser coisa diferente daquilo que vem exibindo. É confrangedor assistir a uma equipa, outrora prestigiada e temível, arrastar-se nos relvados, insegura e frágil, sempre atormentada pela incerteza do desempenho, tal a vulgaridade para que convergiu.
Há ocasiões em que, claramente, a bola é um instrumento que queima... Sem tranquilidade, sensatez e rumos definidos dificilmente o Sporting dará a volta ao panorama em que se arrasta. A coragem para a rutura com o marasmo representa condição fundamental para que uma mudança ocorra. A não ser assim, o ciclo do declínio não conhecerá fim e outros Liedsons hão-de ser vendidos para pagar salários dos jogadores. Os dedos desaparecerão e os anéis a eles se juntarão.
In Record
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