fevereiro 22, 2011



O reino do faz-de-conta


O futebol é rico em exemplos quanto às políticas de fachada, à megalomania, ao novo-riquismo e ao provincianismo serôdio que abundam na sociedade portuguesa.

O Estádio Magalhães Pessoa constitui espelho da desadequação entre a perceção que frequentemente anima políticos e governantes e aquilo que a realidade do país e, sobretudo, da vida das populações aconselha. Erguido como um dos templos do Euro que Portugal acolheu, está convertido num dos muitos elefantes brancos que o erário público amamenta.

Agora, a União de Leiria decidiu deixar de ali jogar. Independentemente das razões que estão por detrás dessa atitude radical, várias coisas transparecem de imediato, entre elas, duas: que para a alta competição é preciso dinheiro, não bastando fingir que se tem condições para ir a jogo, e que há estádios novos com viabilidade duvidosa, logo na gravidez, que não passam de dispendiosos esqueletos de betão. O futebol é, cada vez mais, um mundo de faz-de-conta, com muita estrutura que desaba perante o confronto com a realidade e protagonistas que, em muitos casos, se limitam a cavalgar oportunismos e vaidades sem limite.

No Algarve, o Estádio Intermunicipal Faro/Loulé é outra amarga referência, não valendo a pena acentuar as cores negras falando do Bessa. O mundo das aparências que sustentam a ilusão vai sendo abalado pelo impacto da verdade. Com a crise entrincheirada em cada esquina, a consciência do desperdício que poderia ter servido para acorrer a situações gritantes da sociedade torna-se insuportável. Se, ao menos, se tivesse conseguido valorizar o talento nacional ainda se encontraria uma escapatória, se bem que frágil, para justificar o pagamento da fatura que sempre chega a todos nós.

Infelizmente, o que se vê é a completa dependência dos clubes portugueses em relação a atletas estrangeiros. Até as equipas pequenas estão enxameadas de sul-americanos. Uma formação digna de se apelidar de nacional só se consegue no plano das seleções, elas próprias já também de portas abertas aos naturalizados.

Dir-se-á que tudo é normal. Não acho, nem entendo, que o chamado progresso competitivo nos condene desse modo. A arrumação tem de começar por qualquer lado. Desde logo, pela Federação Portuguesa de Futebol, que necessita de resolver dois problemas: a ilegalidade em que vive e o rejuvenescimento da sua direção.


In Record

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