Em tempo de crise, a “janela de inverno” veio novamente revelar os clubes ingleses como os grandes animadores do mercado de transferências de jogadores. A migração de Fernando Torres do Liverpool para o Chelsea simbolizou a liderança inglesa: 58,5 milhões de euros, o 5.º valor mais elevado de sempre. E impressiona o dinheiro que, entre compras e vendas, a Premier League fez girar nas duas épocas de transferências de 2010-11: mais de 1.000 milhões de euros.
Aintervenção da principal liga portuguesa neste ranking é invulgar. Por aqui deslocaram-se, já ou no futuro, cerca de 260 milhões de euros. Assim, um 6.º lugar honroso, depois da líder Inglaterra e da Itália, Espanha, Alemanha e França; mas à frente, entre outros, de Rússia, Brasil, Turquia, Argentina, Ucrânia, Holanda e Bélgica. Se virmos bem, é esse 6.º lugar a que podemos aspirar no top 10 dos melhores campeonatos, ainda que com o “calcanhar de Aquiles” das fraquíssimas assistências médias.
Oponto mais relevante é, porém, o facto de ser Portugal quem lidera o saldo positivo entre vendas e compras: mais de 90 milhões de euros. Ora, um campeonato que vende perto de 180 milhões de euros numa só época não é um campeonato menor! É empírico mas parece ser indesmentível que esse valor se deve em grande medida à prospeção nos mercados sul-americanos de jovens jogadores com prognose de evolução. Mais do que por causa de formação interna, os clubes portugueses vendem bem à custa da deteção desses atletas, antes de serem descobertos e contratados pelos grandes do top 5. E esta é uma das discussões a ter com a dissecação destes números: vale mais um bom departamento de “scouting” do que o investimento nas camadas jovens?
Mais do que nunca, portanto, emerge a necessidade de transparência nas compras e vendas de jogadores. A intermediação dos agentes e a titularidade do passe por empresas e fundos nem sempre contribuíram para a limpidez. Mesmo quando se trata de clubes-sociedades desportivas cotadas em bolsa, a informação fornecida ao mercado financeiro é pouca e, até, imprecisa. Ou seja, é preciso informar mais e melhor. Sobre a forma e o tempo de pagamento dos valores acordados, sobre as comissões dos agentes, sobre as condições de pagamento dos montantes a vencer, sobre eventuais valores a pagar a terceiros, nomeadamente as compensações por formação, etc. Foi para isso que, em janeiro, entrou em cena o “sistema de correspondência de transferências” da FIFA – o novo registo online obrigatório para todas as transferências internacionais de jogadores profissionais. Onde se comprova que o dinheiro circula somente entre as contas bancárias dos clubes. E onde se determina que, sem que essas e outras informações “batam certo” entre os clubes, a transação não se concretiza e o certificado internacional do jogador – requisito para jogar no novo clube – não é expedido. E onde ainda se preveem sanções disciplinares para as federações e os clubes infratores.
A FIFA responde assim ao grande repto de todos estes milhões que gravitam no futebol: transparência! Já era tempo. Quem tem medo do futuro?
In Record
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