O João Maria Tudela era um bom amigo, uma figura singular, talvez singularíssima. Os fascistas diziam que ele era comunista, os comunistas diziam que ele era fascista. O que é que ele era? Não sei, não soube, nunca saberei. Sei que era um homem muito especial. Tão especial, tão especial, que um dia, na Luz, vivia-se o império vermelho do nosso Eusébio, o João, depois de um golo magnífico do Pantera Negra, saiu do estádio. Na bilheteira, solicitou novo ingresso.
«Não precisa de pagar, o jogo está quase a terminar», foi o que ele ouviu. «Mas eu quero pagar, este jogo vale, no mínimo, dois bilhetes.»
E pagou. E entrou, renovadamente, feliz, na Luz. E sentou-se na bancada com o contentamento de um menino, daqueles que juravam que o Eusébio era uma personalidade do outro mundo.
João, eu não fui ao teu funeral, ainda que sofresse com a tua partida. Sabes a razão, amigo? Não havia bilhetes. É que eu, juro-te, queria comprar muitos. Ainda que isso jamais me consolasse a alma, jamais me enxugasse as lágrimas…
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