Fica Jesus
From: Domingos Amaral
To: Luís Filipe Vieira
Caro Luís Filipe Vieira
Escreveu Mário Zambujal que o amor é como o leite: nasce fresco, depois ferve, torna-se morno e, no fim, azeda. Jesus e o Benfica são um amor assim. Depois das paixões e dos orgasmos espetaculares, os erros, as raivas e as mágoas. Mas (não o sabemos todos?) só dura quem supera o mal. Pessoa dixit: “Quem quer passar o Bojador tem de passar além da dor.”
No futebol, tal como num casamento, há limites mínimos. Para mim, já o escrevi aqui, treinador que garante a Champions deve ficar. Jesus conseguiu, apesar de tudo, melhor que Quique, Camacho ou Fernando Santos. A questão não é pois se “deve ficar”, mas “como deve ficar”. E aí há muito a mudar.
Primeiro, os jogadores. Não deve permanecer quem não tem talento (Roberto, Kardec, Filipe Menezes, Sidnei, Luís Filipe ou Weldon) ou motivação (Cardozo); e só deve vir quem tem ambos. Depois, a tática. O 4x4x2 deve tornar-se matreiro e contido, com menos ataque à maluca e mais posse de bola. A seguir, o planeamento da época. É preciso começar bem, manter e acabar melhor. O sabor amargo pode vir no meio, não no princípio ou no fim, como esta época.
Em quarto lugar, altere-se o “posicionamento” do Benfica. O FC Porto é uma “superequipa” e estamos a milhas do colosso. Não somos já “o maior e melhor clube”, mas apenas um aguerrido “challenger”. Quem defender o contrário viverá numa perigosa ilusão.
Por fim, mude-se o discurso. Não quero “ganhar a Champions”, ter “a equipa mais cara de sempre”, ou um “mestre das táticas”. Bastam-me golos e espetáculo, um Jesus trabalhador e humilde e já agora, como dizia o outro, concentradíssimo. Não um clone de Mourinho, mas um Wenger.
In Record
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