maio 02, 2011

Tempo Útil _ João Gobern


Céu ou inferno

Deus, nas suas infinitas sabedoria e misericórdia, evitou os extremismos: admitiu a existência de um Purgatório, entre o Céu e o Inferno. Já os homens, e em particular os do futebol, viram a cara a esse lugar intermédio entre o cenário da felicidade absoluta e a condenação à mais crua das expiações. A menos de um mês do fim da época, conquistado apenas o mais modesto dos troféus que lhe norteava a cruzada, o Benfica sabe que, daqui até final, não dispõe de uma terceira via: ou quebra um jejum de 49 anos sem conquistas europeias ou aceita a sentença de uma época falhada, com tudo o que isso acarreta de sangue, suor e lágrimas para os próximos capítulos.

Treinadores houve, bem recentemente, que nem a Taça da Liga conseguiram (Camacho, parte II) ou que, tendo conseguido levá-la para a Luz, tiveram direito a vaga de fundo para continuarem no clube (Quique Flores). Jorge Jesus ganhou a sua segunda Taça da Liga, interrompeu quase duas décadas de falhanços do clube em chegar a umas meias-finais europeias, perdeu em condições dramáticas o acesso à final da Taça de Portugal, dotou a equipa de uma capacidade invulgar para dar espetáculo e mobilizar adeptos. Mas são muitos os que, apesar do bom senso e da justiça presidencial, se preparam para exigir a sua cabeça se o Benfica não estiver na final de Dublin ou se, terminado esse jogo, não for Luisão a erguer a taça respetiva.

Parece injusto. Não porque Jorge Jesus não tenha errado, com invenções e teimosias que às vezes deixam incrédulos e desiludidos os torcedores benfiquistas. Não porque o técnico não tenha, nalgumas situações, “cantado de galo” cedo demais, acabando a realidade por lhe reduzir os ditos a um piar inconsequente. Mas, por tudo o que fez, pelo câmbio de mentalidade, pela atitude competitiva, não merece a continuidade? À distância de seis ou sete jogos do final da época – e a presença no sétimo pode valer o polegar ao alto ou a condenação em praça pública – tenho poucas dúvidas em defender que Jesus merece a terceira época.

Merece, acima de tudo, um tira-teimas com André Villas-Boas, o grande “culpado” pelas angústias existenciais do Benfica. Que sofre mais por causa das quatro derrotas em cinco jogos, por ter permitido duas festas portistas na Luz, por estar perto de deixar de ser o único campeão invencível. A única vantagem, agora, dos encarnados é que o FC Porto e o Braga já cumpriram e douraram a época. O Benfica tem três partidas para fazer por isso. Se matar o fantasma, pode lá chegar. Até porque há adeptos portistas que, embalados pela maré, já se apresentam como melhor equipa europeia da atualidade. Se não fosse tão idiota, faria sorrir Guardiola, Mourinho, Ferguson, Ancelotti...


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