maio 15, 2011

Tempo Útil _ João Gobern



No tom e na hora

Com o passar do tempo, com os tristes espetáculos a que assisti no que toca à tortura e ao desperdício das palavras, tornei-me um adepto convicto em defesa dos que só falam quando têm algo a acrescentar. Ou a inovar. Ou a salvaguardar. As principais culpas para esta desconfiança face aos fala-barato, empossados em vendedores da “banha da cobra”, como se dizia noutras eras, não moram sequer no mundo do futebol – basta verificarmos a diária enxurrada de disparates que a política nos vai assegurando para termos a certeza que mesmo os mais palradores dirigentes desportivos são meninos de coro se tomados em comparação.

Acontece que, neste final de época, de epopeia para o FC Porto e para o Braga, de naufrágios (diferentes, ainda assim) para Benfica e Sporting, toda a gente – leia-se: presidentes – tem falado. Ora não deixa de ser curioso que aqueles que vêm dando boa conta de si são sobretudo os perdedores. Vejamos: António Salvador, incapaz de prever o arranque final de Domingos Paciência, deixou que ele se escapasse. Não vai ter o futuro facilitado depois das duas épocas que o antigo artilheiro rubricou por terras minhotas. Mais: foi ele quem primeiro levantou o véu sobre a partida do técnico, ainda antes de resolvida a questão do terceiro lugar e, sobretudo, antes de disputada a final da Liga Europa. Pinto da Costa, igual a si próprio quando chega a temporada de almoços e jantares, voltou a falhar rotundamente a hipótese de ser magnânimo, ao recuperar – ainda?! – o “campeonato do túnel”. Parecem, sobretudo com André Villas-Boas e outros em alta na estrutura portista, começar a faltar-lhe razões para prolongar um consulado a que já acrescenta pouco, no humor ou na magistratura de influência.

Godinho Lopes ganhou por falar claro: primeiro, ao exortar os adeptos do clube a que preside a alegrarem-se mais com vitórias próprias do que com desaires alheios (no caso, os do Benfica). Falou na verdade desportiva, sem o receio atávico dos seus antecessores. E foi direto: o quarto lugar será um fracasso, já do seu mandato.

Finalmente, Luís Filipe Vieira esclareceu os seus: não haverá instabilidade quanto ao treinador e não deverá voltar a haver bravatas e vitórias “antecipadas”. Fez bem, no tom e na hora, o mea culpa que se impunha depois de uma época que, após tantos voos iminentes, acabou em queda livre. Mas deixou, em contraponto, uma ideia de firmeza que, como o próprio admitiu, poderá não agradar a todos. Casou-a com algo que pode ajudar a fazer a diferença, sobretudo se todos os que trabalham sob a sua orientação e responsabilidade, o seguirem em uníssono – a humildade, que só fica bem a quem perde. Como ficaria bem a quem ganha, mas isso seria pedir de mais.
In Record

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