A próxima semana junta numa final europeia duas equipas portuguesas. Inédito. Uma das grandes vitórias do futebol português é também o triunfo do treinador português: as duas equipas vão subir ao relvado com equipas técnicas nacionais. É o triunfo da “nossa escola” e da evolução clara dos respetivos métodos: no treino, na motivação, na prospeção e na estratégia. É o culminar da evolução da última década. Que assentou no estudo científico, no processo analítico, na criação do conceito de “identidade” de equipa. Que percebeu como se treinava, por ex., no basquetebol ou no andebol. Que foi aprender com as melhores escolas e usa integralmente a informação que tem ao seu dispor. Com o jogo da próxima 4.ª feira, Domingos Paciência e André Villas-Boas marcam uma geração e sinalizam a evolução pós-Mourinho.
Dizem alguns que a fronteira foi a chegada de Eriksson na década de 80, há 30 anos atrás. É injusto para Fernando Vaz e José Maria Pedroto, mestres na sua época; responsáveis pela emancipação do receio e do complexo de inferioridade. Ou, antes, Béla Guttman e Otto Glória – também estrangeiros que abanaram o “estado da arte”. Mas tivemos Mário Wilson, Manuel José, Artur Jorge e Carlos Queiroz. E ex-jogadores, como Alves, Pacheco, Oliveira e Fernando Santos. Cada um com as suas idiossincrasias e sucessos. Todos eles fizeram o caminho do reconhecimento do treinador português e preparam a chegada dos “novos”. Pelo caminho ficaram alguns que seriam o “novo Mourinho”. Como muitos jogadores ficaram pelo caminho porque seriam o “novo Eusébio”.
O que mais importa agora é ver que há uma forma portuguesa de treinar. Se quisermos, uma “marca”. Que dá cartas por esse Mundo fora. E não me venham com o argumento de que não é na Europa ou na América do Sul. Pois na Europa vão estar, na final da Liga Europa, dois treinadores cá do burgo! Como se verá a muito curto prazo, o percurso de Mourinho pode ter réplicas na Europa mais competitiva, mesmo que não seja no Chelsea, no Inter ou no Real Madrid. O “treinador português” conhece, estimula, tem liderança, tem confiança e aprendeu a fazer equipas com o que lhe podem dar. 4.ª feira mostrará que é tão bom ou melhor que os melhores!
Por isso é tão urgente acabar com a situação de “vazio legal” e dar enquadramento claro ao técnico desportivo: nas relações laborais com os clubes, no usufruto dos seus “direitos de imagem”, na contratualização do seu “know-how”. Para já não falar no estatuto de plena maioridade da sua posição para com as federações e as ligas e na constante preocupação que deve merecer a sua formação e reciclagem. A FPF tem dado um bom exemplo, como tive oportunidade de comprovar nos últimos anos, com o trabalho de Arnaldo Cunha. Que deve ser aproveitado e continuado. Pois, como já escreveu Manuel Sérgio, não há nenhuma razão para sermos “colonizados” por quem vem de fora!
P.S. – Esta semana lembrei-me de Martin Luther King: “O mais preocupante não é o grito dos que não têm crédito nem ética. O mais preocupante é o silêncio dos bons.”
In Record
2 comentários:
gostei particularmente do PS e a indireta para os processos com o Porto...
Mais um apagão, nas verdades denunciadoras.
As trevas regressaram a todo o vapor.
Os vermelhius gostam muito pouco do contraditório.
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