outubro 17, 2011
Bloco de notas _ Nuno Farinha
Maradona
O conceito de que um grande jogador de futebol nunca dá grande treinador faz muito sentido. E quando nos lembramos de Maradona passa a fazer ainda mais. Maradona nem foi um grande jogador, aliás: foi um génio. Não vale a pena recordar o que fez em campo. Fez tudo. Por isso é que sempre houve, na vasta legião “Maradonista”, quem não se conformasse com um futebol sem Diego: se ele está por perto, a festa é garantida.
Maradona queria, legitimamente, prolongar o reinado. Provar a si próprio e provar-nos a nós que era capaz de continuar em cena. Mas sabia, ou tinha obrigação de saber, que o banco de treinadores não é para todos. Quando o momento decisivo chegou, em 2008, Maradona parecia um adolescente a quem ofereceram a última criação de Steve Jobs. De repente, a Argentina nas mãos. Era só garantir a qualificação para o Mundial 2010 e depois pôr em prática tudo o que tinha andado a estudar nos últimos 10 anos. Eles ali estavam todos às ordens de Don Diego: Messi, Higuaín, Tevez, Di María e o genro Aguero. Essa Argentina foi o deserto. Ninguém entendia como jogava ou queria jogar a equipa. Nem os jogadores. Nos quartos-de-final, claro, a Alemanha passou-os a ferro: 4-0. E Maradona saiu de cena. Como sempre, a espernear e a pedir justiça.
Cai e volta a levantar-se. Quer tentar mais uma vez. Mas como em Espanha, Itália ou Inglaterra ninguém se lembra dele, está nos Emirados Árabes Unidos. Volta e meia dá notícias. Ou porque agride um adepto da própria equipa ou porque o seu Al Wasl é goleado.
Na época passada Allegri (AC Milan) foi campeão em Itália. Rudi Garcia (Lille) em França. Klopp (B. Dortmund) na Alemanha. Para não falar de Villas-Boas. Alguém faz ideia se estes cavalheiros sabiam dar um pontapé numa bola?
Os melhores treinadores do Mundo são Mourinho, Guardiola e Ferguson. Só um, Guardiola, atingiu notoriedade como jogador. Mas até “acabou” a carreira cedo, porque ainda há dias Fernando Couto contava em entrevista a “Record” que, mesmo com as botas calçadas, “Pep sempre foi treinador, vivia focado em aspetos do jogo que iam para lá da simples execução técnica”.
Maradona era Deus. Não tinha tempo para essas coisas menores. Jogou sempre como se não houvesse amanhã. O problema é que havia.
In Record
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