outubro 17, 2011

Tempo Útil _ João Gobern


Bonito serviço

Podiam ter avisado… Se o tivessem feito, evitavam uma deceção que, de tão expressiva, já desfez o “estado de graça” de Paulo Bento – mesmo quem ganha cinco jogos consecutivos e reabilita uma seleção, que antes andava em ebulição (comportamental, não criativa) desde o estágio que antecedeu a partida para a África do Sul, não pode assinar por baixo uma exibição como a que vimos ontem, com um resultado dos mais lisonjeiros que já beneficiaram as cores nacionais. Podiam ter avisado que João Pereira ia continuar a sua campanha benemérita, especialmente para com Krohn-Dehli, que Eliseu se esqueceria de levar a caixa de velocidades para poder perseguir um veterano como Rommedahl, que os centrais passariam o jogo inteiro a brincar às escondidas, que o meio-campo sofreria de amnésia coletiva face às suas tarefas moderadoras e pró-ativas, que Ronaldo e Nani apareceriam armados em aderecistas, adornando até ao cansaço jogadas que nunca passaram de cenários de ilusão, que Hélder Postiga mandaria para campo o seu gémeo, mais lento e mais inútil.

Tudo aquilo que poderia ter servido de lição desde a passada sexta-feira, com tremideiras e arrepios no Dragão, valeu afinal a insistência. Os dois inícios de jogo, em cada uma das partes, foram confrangedores. A falta de dinâmica, de contenção, de fio de jogo, de controlo dos andamentos agravou-se. A insegurança defensiva foi tão gritante, abrindo vias rápidas às cavalgadas vikings (e vá lá que eles não quiseram maçar-se muito, no fim), que é milagre só termos sofrido dois golos. Claro que de João Pereira, Rolando, Bruno Alves e Eliseu para Bosingwa, Ricardo Carvalho, Pepe e Fábio Coentrão, a diferença é muita. Mas não explica tudo. E mais: os lesionados recuperam mas, quanto aos outros, são urgentes as campanhas para as respetivas (re)integrações.

Paulo Bento fez muito, dando vida ao cadáver legado pelo seu antecessor. Mas espero que tenha percebido agora que, entre a má disposição contínua e uma certa tendência autista, é urgente repensar muita coisa. Ninguém lhe pede que deixe de decidir pela sua cabeça. Mas é fundamental que ouça outras opiniões, que as analise e pondere, sobretudo se quem lhas garante não tem contrapartidas na volta do correio. Jogar na Dinamarca com os mesmos onze e insistindo nas mesmas fragilidades exibidas em jogo caseiro com a Islândia deixa de ser incompreensível – torna-se inaceitável.

Com todas as grandes seleções já apuradas (Espanha, Alemanha, Inglaterra, Itália, Holanda, França, Rússia), aí vem outro playoff. Vamos pensar nisto: para chegarmos à fase final e jogarmos assim, muito francamente mais vale não sairmos de casa. Em energia e em dinheiro, afinal, sempre se poupa alguma coisa.


In Record  

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