Não me venham falar de brechas na organização
Se, por acaso, estiverem à espera de que venha para aqui tratar mal o Hulk por ter mergulhado a cabeça num balde de lixívia sem ter pedido autorização ao sineiro da Torre dos Clérigos e, pior ainda, se estiverem à espera de que veja nisso um sintoma de brechas na super-organização da super-estrutura do super-FC Porto, nesse caso, não contem comigo.
Temos de ser racionados e defender a liberdade de cada um. E dizer a verdade também faz bem.
Se, por acaso, estiverem à espera de que venha para aqui tratar mal o Hulk por ter mergulhado a cabeça num balde de lixívia sem ter pedido autorização ao sineiro da Torre dos Clérigos e, pior ainda, se estiverem à espera de que veja nisso um sintoma de brechas na super-organização da super-estrutura do super-FC Porto, nesse caso, não contem comigo.
Temos de ser racionados e defender a liberdade de cada um. E dizer a verdade também faz bem.
E não é verdade que o FC Porto beneficiou muito com a cor do cabelo de Hulk, igualzinha à cor dos equipamentos do Nacional no jogo de domingo passado? Só à conta do cabelo amarelo do Hulk, os fiscais-de-linha deixaram-se confundir maia-dúzia de vezes e dessas ilusões cromáticas - ...mas aquilo é um jogador do Nacional ou é o Hulk? - os campeões nacionais beneficiaram de dois golos nascidos de posições irregulares.
Portanto, não me venham cá falar em brechas na organização.
André Villas Boas foi recebido com fidalguia no Coliseu do Porto por uma plateia que lhe soube dispensar uma ovação de pé. Foi bonito de se ver até porque veio contrariar os prognósticos mais sombrios que pairaram sobre a ocasião.
Mas como em Portugal as homenagens são sempre contra alguém, fica por saber se esta homenagem portista a Villas Boas não é, no fim de contas, uma grande contra-homenagem a Vítor Pereira que tem sido alvo de inusitadas desconsiderações públicas e privadas de cariz técnico-táctico, o que nem se percebe muito bem porquê visto que ainda a procissão vai no adro.
A atribuição do Dragão de Ouro a André Villas Boas só foi possível porque Vítor Pereira não conseguiu dar 5-0 ao Benfica no jogo da 6.ª jornada do campeonato corrente. Com esse resultado, ou com outro parecido e igualmente sonante, teria sido Vítor Pereira a subir ao palco do Coliseu no lugar de Villas Boas e a festa teria sido outra.
Não se duvide, no entanto, do apreço que o presidente do FC Porto tem pelo seu ex-treinador. No Verão passado, quando o treinador que lhe deu quatro títulos anunciou se ia embora, Pinto da Costa afirmou não se sentir dorido porque só se magoava «se caísse de um 7.º andar». Na segunda-feira, no Coliseu, declarou-se disponível e competente para «nos próximos trinta anos» escrever o prefácio da autobiografia de André Villas Boas.
A Pinto da Costa não só nunca se ouviu uma palavra menos polida sobre o actual treinador do Chelsea como também somos levados a crer, pelos exemplos citados, que quando se inspira em Villas Boas, o presidente do FC Porto respira imortalidade.
E não me venham cá falar em brechas na organização.
Uma pessoa inadvertida reflecte sobre o que anda para aí de movimentos para as eleições na FPF e fica sem saber no que reflectir.
Então o Filipe Soares Franco era o candidato do Pinto da Costa? Mas como seria isso possível se o Pinto da Costa foi tão deselegante para o Soares Franco quando este era presidente do Sporting?
E é verdade que o Fernando Gomes se candidatou à corrida sem o aval do Pinto da Costa? Impossível! Mas agora o FC Porto é o novo Sporting das liberdades de voto, onde Godinho Lopes apoia o Fernando Gomes e o Luís Duque apoia o Marta?
Então o Fernando Seara vem agora dizer que não se candidatou a presidente da FPF porque nunca aceitaria sacrificar «a cabeça de um amigo»?
Mas qual cabeça?
E qual amigo?
Vocês querem ver que o Godinho Lopes disse ao Fernando Seara que o Sporting só o apoiaria se o Seara lhe fizesse o favor de levar para a Federação o Luís Duque, por exemplo para vice-presidente das selecções, ou para vice-presidente de qualquer coisa, mas, por favor, que o levasse com ele para longe do Sporting?
Vamos continuar a reflectir...
Estando o país em dificuldades e os trabalhadores numa aflição e sendo o Benfica o clube do povo, não espanta que a tirada de Jorge Jesus, que é treinador do Benfica, sobre as agruras da crise e a classe política nacional tenha ecoado ao longo de todo o fim-de-semana passado, chegando quase a provocar reacções de Estado. «Os nossos políticos se fossem treinadores de futebol estavam muito pouco tempo no lugar», disse Jesus.
Responderam-lhe a sério, e algo sentidos, alguns políticos de maior ou menor carreira e houve até quem lhe lembrasse que os políticos têm de passar por eleições e pelo veredicto popular.
Pois é verdade que sim. Os políticos são eleitos de 4 em 4 anos. Mas os treinadores de futebol têm eleições todos os fins-de-semana e, às vezes, a meio da semana e o veredicto popular, na glória ou na desgraça, funciona sempre e é quem manda, quem põe e quem tira.
Aliás, era precisamente a isto que Jorge Jesus se estava a referir.
Nesta fase das respectivas campanhas europeias saíram ao Benfica e ao Sporting equipas romenas que pouca ou nenhuma luta lhes têm dado. Felizmente, em nome da boa e secular rivalidade, tudo serve para alimentar conversas científicas sobre os poderios dos dois vizinhos da Segunda Circular.
Domingos Paciência não se aguentou e disse com grande sentido de oportunidade que os romenos do Vaslui (os dele) são muito melhores do que os romenos do Otelul (os do Benfica). Parece que não é verdade, em termos de palmarés, porque o Vaslui (os do Sporting) só ganharam em toda a vida uma Taça Intertoto enquanto o Otelul (os nossos) não só ganharam uma Taça Intertoto como também ganhou um campeonato e uma Taça da Roménia.
Que se tratam de dois colossos da Europa da Europa central, sobre isso que não reste dúvidas nenhuma...
Paciência, convém registar, não se saiu com esta do Vaslui ser muito melhor do que o Otelul a propósito de coisa nenhuma. É que o Benfica e o Sporting, para além de terem adversários romenos, também têm adversários suíços nos seus grupos de apuramento.
E a tal conversa científica já vinha de trás, mais precisamente da véspera, com Jorge Jesus a dizer, na Suíça, que o adversário do Benfica, o Basileia, não se compara «a nenhuma outra equipa suíça» e que é «por exemplo, muito melhor do que o FC Zurique», sendo que o Zurique é o adversário do Sporting.
A última jornada do campeonato suíço poderá ter vindo ajudar à clarificação deste imbróglio porque o Basileia do Benfica foi ao terreno do Zurique do Sporting, venceu por 1-0 e saiu de lá com os 3 pontos. Assim sendo é Jorge Jesus quem tem razão porque o Benfica já venceu o Basileia que venceu o Zurique que tinha perdido com o Sporting.
É esta a lógica das discussões de bola. E muda todas as semanas.
No domingo, o Manchester United levou 6-1 do Manchester City e Sir Alex Fergunson disse: «Foi a pior derrota da minha carreira».
Na segunda-feira, o Gil Vicente levou 6-1 do Sporting e Paulo Alves disse: «Foi a pior derrota da minha carreira.»
Mais tarde, daqui a muitos anos, Paulo Alves poderá sempre contar aos netos que houve uma ocasião em que, no espaço de 24 horas, ele e o Sir Alex Fergunson disseram exactamente a mesma coisa.
E isto não é para todos.
O primeiro golo do FC Porto ao Nacional, da autoria do belga Defour, devia ser atribuído ao Standart de Liège, não devia? É que o Standart de Liège, de acordo com o que se lê, ainda é o único propietário do jogador. Ainda por cima dava-lhe muito jeito para as suas contas este golo de Defour porque o Standart de Liège anda aflito de golos e até tem um goal-avarage negativo de 13 marcados e 15 sofridos.
Tanto nos chatearam, e com razão, com o pagamento do Poborsky e agora, finalmente, podemos responder-lhes na mesma (ausência de) moeda.
Querem ver que há mesmo uma brecha na organização?
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